Faz sentido. Depois da inclinação oficial para manter, sob sigilo eterno, documentos de vários períodos da vida brasileira, o governo dá um passo a mais nessa história de arranjos intramuros: quer tornar secretos orçamentos elaborados pelos próprios órgãos da União, estados e municípios para as obras da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.

A notícia, por mais que se revelasse inaceitável sob todos os aspectos éticos, é verídica. Foi apurada, analisada e publicada na FSP de hoje (16) e continua a ser explorada nas repercussões que tem provocado. A decisão oficial foi incluída na 25ª hora no texto da medida provisória 527 que criou, para as obras necessárias ao êxito dos dois eventos, o Regime Diferenciado de Contratações (RDC).

Por si só, o RDC já seria motivo para as maiores controvérsias. Com ele, querem burlar a ação fiscalizadora do Tribunal de Contas da União e de outros órgãos aos quais a sociedade poderia recorrer para se inteirar dos gastos que as obras da Copa e da Olimpíada estariam ocasionando.

A propósito, é esclarecedora a informação divulgada anteriormente sobre estudo elaborado pelo TCU. O trabalho mostrou que 98,5% dos R$ 23 bilhões previstos para serem gastos com as obras daqueles eventos esportivos sairão dos cofres públicos. Em resumo: do bolso dos contribuintes.

A revelação não surpreende. Mas ajuda a desmascarar os cartolas do Comitê Organizador da Copa, aqui no Brasil, que vinham afirmando, com todas as letras e em todos os tons, que a maior parte das despesas seria bancada pelo bolso da iniciativa privada. Pelo que o TCU apurou, a essa informação carecia de fundamento e não passava, portanto, de uma lorota. Tudo fora articulado para ludibriar a sociedade. E, agora, com a constatação de que os orçamentos serão secretos, a máscara definitivamente caiu. Ao povo é dado apenas o direito de pagar a conta.

Fonte: Estadão