O progresso, via crescimento urbano, tem provocado medo. É um paradoxo, mas está dentro da lógica de nossos dias, em qualquer cidade ou região. Em especial aqui em São Paulo, dizer que este ou aquele bairro é alvo de progresso, de imediato ocasiona sentimentos contraditórios. A alegria da perspectiva de crescimento urbano vem acompanhada com interrogações que sugerem suspeitas. E o que poderia ser interpretado como motivo de satisfação, por causa do progresso, invariavelmente se transforma em mais do que medo: pânico.

Análise de áreas ocupadas desde que o mundo é mundo ao longo de traçados de obras importantes para o crescimento urbano revela o desconforto de moradores locais. Quem acompanhou, por exemplo, primeiro as notícias e, depois, a chegada de máquinas para a construção da Linha 4 do metrô, sobretudo em trechos de Pinheiros e, mais tarde, ao longo da avenida Francisco Morato, vai observar e ter ideia real do impacto daqueles sentimentos contraditórios. Na época, disseram alguns moradores: "O progresso é bom, mas não vai nos trazer alegria." É que as medidas compensatórias, para quem vai acabar sendo empurrado de seus imóveis pelo progresso, nunca chega a tempo e nas doses capazes de serem uma justificativa convincente para quem tem de arrumar as malas.

As desapropriações estudadas e determinadas pelo progresso têm sido, a rigor, atos de traição cometido destrambelhadamente pelo poder público. As vítimas são surpreendidas e golpeadas por trás. Muitas perdem o que tem e, para conquistar o que tiveram, precisariam de outra vida.

Penso nos arrazoados com que se tenta justificar algumas obras de acesso ao Itaquerão. Com ele, pode chegar o progresso. Mas o desmoronamento de dezenas de imóveis pode estar no programa. Os moradores do Jardim dos Pinheiros, em Pirituba, que o digam.

É tempo de se convocar a Justiça para que as medidas compensatórias para obras urbanas sejam repensadas. Os moradores não podem continuar a ser vítimas indefesas do poder público.

Fonte: Estadão