Li o discurso que a presidente Dilma Rousseff proferiu na abertura da assembléia geral da Organização das Nações Unidas. Uma peça bem feita, com recados a torto e a direito e elogios ao Brasil que, em seu entender, teria feito uma nova descoberta no mundo: descobriu que a melhor política de desenvolvimento é o combate à pobreza.
Um fragmento de sua fala me chamou, em particular, a atenção. Lembra a presidente que em junho do ano que vem o Brasil será a sede da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. E espera avançar, já na reunião de Durban, na proposta para a redução de emissões, apoiando os países em desenvolvimento em seus esforços nessa direção, "garantindo que os países desenvolvidos cumprirão suas obrigações com novas metas no Protocolo de Quioto, para além de 2012."
Esse trecho do discurso me levou de imediato à notícia segundo a qual vem crescendo – e jamais parou de crescer – o número de carros que transportam uma só pessoa pelas ruas de São Paulo e – por que não reconhecer? – pelas ruas de outras metrópoles.
Vivemos o reinado de uma pessoa só nos veículos que todos os dias são colocados pelas fábricas no trânsito das cidades brasileiras. Segundo a notícia, "a cada cinco carros em circulação nos horários de pico, somente sete pessoas são transportadas" na capital paulista.
Mas isso não ocorre, em linhas gerais, porque a pessoa que se atira, cotidianamente, no trânsito paulistano, goste de congestionamento ou de ficar em absoluta solidão em sua cápsula metálica. Invariavelmente, ela não tem opção melhor. Caso não se encontre solução para que haja transporte público satisfatório para a população, em qualquer circunstância e hora, continuaremos a viver o reinado de uma pessoa só, nos veículos entalados nos congestionamentos. Enquanto isso, a questão da redução de emissões continuará a alimentar os temas de discursos oficiais, na ONU ou alhures.
Travessia Santos-Guarujá
O engenheiro Catão Ribeiro desancou, ontem, no Instituto de Engenharia, em mesa-redonda presidida pelo engenheiro Roberto Kochen, o projeto defendido pela Dersa e pelo engenheiro Tarcísio Celestino (ex-presidente do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), que prevê um túnel – e não uma ponte estaiada – para a travessia Santos-Guarujá. Catão disse que o projeto do túnel ficará mais caro do que o projeto da ponte; não dispensará o sistema arcaico da atual travessia (as tradicionais balsas hoje utilizadas) e ainda se caracterizará por um pormenor: quem está no túnel quer ver, se possível de imediato, a luz no fim do túnel, sentimento que já não ocorre para os que atravessam a ponte, uma obra de arte arquitetônica, que acaba se constituindo em cartão postal.
Fonte: Estadão
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