Alguns pensamentos do sociólogo Michael Burawoy, professor em Berkeley, Califórnia, me chamam a atenção, na entrevista publicada pelo jornal FSP, edição de domingo último, dia 9.

O professor tenta explicar as razões que levam grupos de pessoas, com opiniões diversas e talvez motivações diferentes, a se reunirem para protestar em praças públicas ou em outros sítios, a exemplo do recente movimento "Ocupe Wall Street".

Ele diz que viu movimento similar em Barcelona e que o centro de gravidade dessas concentrações são "desempregados, estudantes semi-empregados, juventude desempregada, membros da classe média" e por aí em diante. E que esses indignados não têm encontrado meios para o extravasamento de sua indignação nos canais políticos disponíveis.

Tem razão o professor. Os "canais políticos normais" perderam o sentido em diversos países do mundo. E, no Brasil, isso não foge à regra. Acaso essa multidão de desempregados, de jovens que saem das faculdades e não encontram colocação no mercado de trabalho ou que se vêem obrigados a aceitar a iniqüidade do subemprego, pode confiar nos "canais normais"? Os "canais normais" privilegiam a elite ou os "companheiros" das administrações públicas de plantão. Há muito tempo o povo deixou de ter vez, a não ser para uso conveniente como massa de manobra.

Mas há um dado, na fala do sociólogo, que me chama, em especial, a atenção: a terrível crise que golpeia o núcleo do capitalismo. Ele tem avançado num crescimento sem fim e, hoje, atingiu um patamar perigoso: está destruindo o ambiente em que ciclicamente vem se reproduzindo. E aí, como diz o professor, ele estará destruindo "as condições de sua própria existência".

Fonte: Estadão