Rosane Santiago – Rio de Janeiro (RJ)

Com mais de 4,5 milhões de veículos, incluindo neste total 3,2 milhões só de automóveis, a cidade do Rio de Janeiro tem um sistema de transporte público deficiente.

Para tentar melhorar a situação, diversas obras de infraestrutura de transportes estão sendo realizadas: o BRS, sistema de corredor único de ônibus em áreas congestionadas da cidade; ampliação do metrô, com a construção da linha 4 até a Barra da Tijuca; o BRT (Bus Rapid Transit), sistema que é segregado, composto por linhas expressas e paradoras.

Propostos no Brasil pelo então governador Jaime Lerner, em Curitiba (PR), os BRTs existem em várias cidades brasileiras e poderão se multiplicar como solução a ser adotada para atender à mobilidade por conta da Copa do Mundo de 2014.

BRT será usado
amplamente na Olimpíada

No Rio, o governo inaugurou recentemente algumas obras de implementação do BRT. Foi o caso do viaduto Capitão de Mar e Guerra Orlando Raso, entre as avenidas das Américas e a Salvador Allende, na Barra da Tijuca. Com 250 m de extensão em cada sentido, foi concluído em nove meses e uma segunda etapa da obra já está sendo realizada.

Nesta parte das obras, está sendo executada a duplicação e implantação das pistas laterais da Avenida das Américas, iniciando na Avenida Salvador Allende até o canal de Sernambetiba. Também haverá duplicação da ponte sobre o canal, da Estrada Alceu de Carvalho até a Estrada do Pontal, onde será aberto o túnel da Grota Funda. Composto por duas galerias de 1.100 m, o túnel segue até o canal do Rio Portinho. Com previsão de inauguração para início do segundo semestre de 2011, as obras prosseguem pelos emboques Recreio e Guaratiba. No viaduto do Pontal, já foi executada armação, construção de forma e concretagem de blocos, pilares, vigas de ligação, e placas de terra armada e vigas pré-moldadas. Serão também criadas alças de acesso à Guaratiba, readequando as vias, tanto para as entradas de ilha de Guaratiba quanto para as de Barra de Guaratiba. O viaduto de Guaratiba e a ponte sobre o canal de Sernambetiba também estão sendo construídos.

As referidas obras fazem parte de uma série de intervenções do chamado BRT Transoeste, corredor exclusivo para ônibus articulados, que irá ligar a Barra da Tijuca a Campo Grande e Santa Cruz. Serão 53 estações do BRT em construção, instaladas sempre no meio da via.

O Transoeste terá 56 km. O custo das obras é de R$ 800 milhões. A previsão da prefeitura é de que as obras do corredor estejam prontas no primeiro semestre de 2012 e irá reduzir pela metade o tempo médio de viagem entre os três bairros (Barra da Tijuca/Campo Grande/Santa Cruz) – é um dos três corredores que compõem o projeto de preparação viária da cidade para os eventos esportivos internacionais, ao lado da Transolímpica (Recreio dos Bandeirantes-Deodoro), ainda não licitada, e Transcarioca (Barra da Tijuca-Aeroporto Internacional Tom Jobim), esta em obras.

O corredor Transcarioca tem custo aproximado de R$ 1,3 bilhão e foi dividido em dois lotes de obras, a serem concluídos em três anos. O lançamento dos trabalhos no primeiro trecho (Barra da Tijuca, bairros da Zona Oeste e bairros da Zona Norte), de 28 km, já aconteceu e o corredor terá ao todo 39 km, com previsão de transportar 400 mil passageiros por dia.

Há ainda a previsão de construção da linha Transbrasil, ligando o bairro do Caju a Santa Cruz, via Avenida Brasil.

A expectativa da prefeitura é de uma redução de 60% no tempo gasto no trajeto entre a Barra e a Ilha do Governador, passando por bairros populosos da Zona Norte, como Madureira e Penha.

O Transmileniode Bogotá

Omais famoso sistema de BRT adotado na América Latina é o Transmilenio de Bogotá, Colômbia, que agora passa por problemas sérios de credibilidade perante a população, a ponto dos cidadãos chamarem-no de Transmilleno (lleno = cheio).

Daniel Cabuya, conferencista internacional de mobilidade e energias alternativas e gerente de produção da SI-02, uma das empresas que operam o BRT em Bogotá, explica que o sucesso de um sistema de transporte como o Transmilenio se baseia no fato dos ganhos não estarem em função do número de passageiros que cada veículo leva, mas sim os quilômetros que estes percorrem por dia.

Cada veículo articulado, dos 1.219 com que conta o sistema colombiano, tem capacidade para 160 passageiros: 48 sentados e 112 em pé, e uma vida útil de um milhão de quilômetros percorridos, que se esgota, dependendo do uso de cada unidade, entre 10 e 15 anos, considerando que um ônibus pode percorrer um máximo de 8.700 km e um mínimo de 5.500 km ao mês.

Cabuya aponta que se ter metrô ou BRT vai além da existência do transporte. “Tivemos uma melhora substancial com relação a isso em Bogotá, com a recuperação de espaços públicos e privados no entorno das linhas, incluindo aí uma valorização das terras. Quando aumenta a circulação de pessoas, e há melhor iluminação e limpeza, a segurança aumenta”, avalia.

“O Transmilenio chegou a recuperar bairros, antes considerados zonas de delinquência, que agora participam de programas sociais. Até os antigos pandilleros (participantes de gangues urbanas) da região tem a oportunidade de trabalhar nas brigadas de orientação do sistema”, explica o gerente da SI-02.

O Transmilenio em Bogotá permite que com uma passagem de taxa única os passageiros possam viajar em qualquer uma das programações do dia em que o sistema está operando. “Isso deu maior eficiência nos serviços e um impacto favorável sobre os usuários”, avalia.

Nos primeiros 8 anos do BRT colombiano foram construídas mais de 400 estações. Porém, nos últimos 6 anos não se construiu nem 1 km, com a fase 3 do sistema atrasada. “Isso tem causado à população transtornos e fazendo com que o sistema esteja sempre cheio”, afirma.

O sistema em Bogotá cobre 88 km de rotas principais, sem incluir os 20 que estão em processo de construção, num horário de 4h30 às 23 horas, em dois tipos de serviço: um com ônibus expressos, com saídas a cada seis minutos, parando em determinadas est

ações e, outro, com ônibus correntes com partidas a cada três minutos e parada em todas as estações. “Nas horas de pico, estamos buscando que os colégios e as universidades mudem a hora de entrada, para diminuir o horário de pico nas tardes”, revela Daniel Cabuya.

Fonte: Estadão