O cumprimento do tema do 2º Fórum Brasileiro da Construção, com leves variações, destacou os gargalos da infraestrutura brasileira e o que eles representam, no conjunto das dificuldades do governo, para dar continuidade ao processo do crescimento do País
Prevaleceu, como tema que concentrou as maiores preocupações no encontro realizado pela revista O Empreiteiro e a TOTVS, no Espaço Apas, dia 27 do mês passado em São Paulo (SP), aquele que orientou as discussões suscitadas pelo painel 1: A economia brasileira e os gargalos da infraestrutura. |
Embora tanto este quanto os demais painéis estivessem direcionados para as questões da engenharia, os assuntos que emergiram desenharam o cenário da economia brasileira, limitados pelas carências históricas na área da infraestrutura – rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e energia. Vários dos participantes disseram que as palestras ali realizadas contribuíram muito para a compreensão da realidade brasileira hoje.
A abertura dos trabalhos foi feita pelo editor da revista, Nildo Carlos Oliveira, seguido pelo diretor editorial, Joseph Young, que saudou os participantes e o plenário expondo alguns dos problemas que vêm impondo uma série de dificuldades à continuidade do crescimento brasileiro.
Hedeverton Andrade Santos, superintendente de Marcos Regulatórios da Agência Nacional de Transportes terrestres (ANTT), discorreu sobre O novo marco regulatório das ferrovias e a intermodalidade, destacando as operações de direito de passagem e tráfego mútuo, regras que permitem o uso da capacidade ociosa de uma linha férrea por terceiro, desde que estes tenham vagões e trens próprios. As regras garantem, segundo informou, que uma concessionária possa receber ou entregar cargas na malha de outro consórcio. Além disso, o regulamento permite que as concessionárias requerentes do direito de passagem possam fazer investimentos de expansão quando não houver capacidade ociosa nos trechos ferroviários em questão.
Geraldo Vianna, veterano pensador das questões de logísticas, mostrou o quadro em que o Brasil, considerado atualmente a 7ª economia do mundo, fica literalmente no rodapé, ocupando 20º lugar dentre os países que têm as piores rodovias do mundo. Ele chamou a atenção, em especial, para o buraco negro da educação, advertindo que, se o Brasil não sair desse abismo – ou labirinto – todos os demais problemas que afligem o País jamais terão solução satisfatória.
Ricardo Melchiori, coordenador da Câmara Técnica da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística), abordou o tema As estratégias brasileiras para movimentar grandes volumes de commodities. Já Luiz Antônio Cortez Ferreira, representante da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, mostrou como está a infraestrutura de transportes metropolitanos em São Paulo, projetando soluções futuras para a melhoria da mobilidade urbana na capital e nos municípios da RM.
O painel 2 trouxe contribuições importantes do economista Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil e de Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Enriquez Garcia, ao abordar o tema Sistema financeiro nacional frente à crise global, explicou a crise dos bancos norte-americanos e contou porque os investimentos em infraestrutura dependem visceralmente das instituições financeiras públicas. Márcio Pochmann, que dissecou o tema Como distribuir renda e reduzir a desigualdade social – uma estratégia para eliminar a pobreza absoluta – destacou a consistência dos fundamentos econômicos brasileiros diante da crise europeia que, a partir da Grécia, vem ameaçando outras nações, inclusive os chamados países emergentes.
No painel 3, Ricardo Savoia, da empresa de consultoria Andrade & Canelas, detalhou com muita propriedade os aspectos do Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, com subsídios da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E Roberto Travassos, gerente de planejamento e orçamento da Eletronuclear lembrou a política nuclear brasileiro desde os anos 1970; as obras de Angra 1 e Angra 2; o estágio da construção de Angra 3 e os projetos que estão previstos para mais quatro usinas nucleares em diferentes regiões brasileiras.
O Painel 4, que procurou enfocar programas da Copa e da Olimpíada, teve como palestrantes Sávio Raeder, analista de ciência e de tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele abordou o tema Projetos urbanos em mega eventos esportivos, situando a importância do legado que tais projetos podem proporcionar.
E, Luiz Célio Bottura, ombusdman da cidade de São Paulo, que também participou desse painel, disse que a solução para o caos do trânsito paulistano e de outras metrópoles invariavelmente deve começar com providências simples, práticas, fundamentadas, sobretudo, na educação.
O Painel 5, sob o tema Produtividade na Construção, agregou um conjunto de informações críticas sobre o processo de planejamento e de projeto no País. Sérgio Augusto Palazzo, diretor da Pella Construções, falou sobre Planejamento e gestão da produção em obras de construção de infraestrutura, mostrando a distância que existe, na prática, entre o planejamento—sempre precário por falta de tempo hábil e a realidade da execução subsequente das obras.
Com o foco no Uso de ferramentas de TI na gestão de projetos e obras, Henrique Paiva, consultor chefe da Caparaó, apresentou projeto tecnológico implementado na empresa visando ganho de produtividade.
Roberto Kochen, diretor de Infraestrutura do Instituto de Engenharia e diretor da GeoCompany, mostrou porque a falta de planejamento em obras de engenharia acaba produzindo mostrengos e comprometendo empreendimentos importantes.
A tecnologia da informação e seu impacto na gestão foi analisada na abertura dos trabalhos, com o presidente e idealizador do grupo TOTVS, Laercio Consentino, falando sobre o tema Pensando diferente, uma forma de buscar oportunidades.
No conjunto, o 2º Fórum Brasileiro da Construção somou experiências e apreciáveis informações técnicas, conforme a impressão geral, colhida no plenário.
Fonte: Estadão
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