A cena não houve, mas estou a imaginá-la: a presidente Dilma Rousseff chega a Missão Velha, no sertão do Cariri, a fim de comemorar o avanço das obras da Ferrovia Transnordestina. Mas, o que deveria ser uma festa promovida pelo entusiasmo do avanço dos trabalhos, acaba não acontecendo. Há frustração geral. Ela constata que as obras estão paralisadas, a exemplo de outras, dentre as quais, a transposição do rio São Francisco.

Ainda bem que a presidente foi previdente e abortou a viagem, evitando maior desencanto. Sequer chegou ao canteiro, onde apenas quatro operários, conforme conta reportagem de O Estado de S. Paulo, ali estavam, mais para tomar conta de equipamentos ou materiais que vinham sendo usados nos serviços abandonados, do que para qualquer outra iniciativa.

As únicas obras visíveis, após a decisão presidencial de suspender a visita, eram  os trabalhos para a desmontagem de “grades de proteção, toldos e de um palanque”.

A visita que não houve chama a atenção, mais uma vez, para obras anunciadas no calor da política, mas sem planejamento de médio ou longo prazo. A falta de planejamento é um tiro de pé de qualquer empreendimento público ou privado.

A Transnordestina é uma obra necessária. Ela se justifica de cabo a rabo. Ainda há alguns dias estive em Fortaleza e ali, em conversa com um secretário de Estado, recebi informações preciosas sobre a importância dessa obra para a economia local e regional, sobretudo, para as operações do porto de Pecém. Fazê-la é uma questão estratégica. O erro maior, nessa obra, está no fato de que lhe deram contornos políticos medíocres. Ela, a Ferrovia Transnordestina, não merece isso. Tanto não merece, que precisa ser feita. Não para ficar ao abandono, exposta ao sol no sertão do Cariri, mas para funcionar como ferramenta essencial colocada a serviço dos polos de crescimento dos estados do Nordeste. Como está, ela é apenas mais uma peça inútil da atual cena política brasileira.
 

Fonte: Nildo Carlos Oliveira