Trecho de perto de 500 km da BR-101, que a partir da Bahia atravessa o Espírito Santo, e até aqui considerado um dos mais perigosos do País, passa agora às mãos da Ecorodovias, que pretende conferir-lhe padrão internacional de trafegabilidade

Nildo Carlos Oliveira

As prioridades estão à vista: falta de sinalização, acostamento acanhado e sem segurança, surpresas em curvas que precisam ser redesenhadas, trechos nos quais aumenta o perigo de acidentes por conta do acúmulo de veículos pesados e a presença, competitiva ou irresponsável, de motoristas de veículos leves. Sistema de drenagem que precisa ser recuperado, obras de arte que carecem de manutenção, pavimento precário que tem de ser restaurado ou reconstruído, e acessos insatisfatórios ou que já não atendem às exigências atuais dos municípios ao longo do traçado. Ao todo, trata-se de um trecho de 475,9 km de extensão, onde trafegar é colocar a vida, veículos e a economia em risco.
A Ecorodovias, que tem um histórico de mais de dez anos na construção e operação de rodovias de nível internacional (administra 1.450 km de estradas nas regiões Sul e Sudeste), e que em janeiro último venceu o leilão federal daquele trecho da BR-101, já tem o esquema e o cronograma preparados para uma ampla intervenção local, tão logo assine o contrato da concessão, o que deverá ocorrer até agosto próximo.

Ela venceu o leilão liderando o Consórcio Rodovia da Vitória, do qual detém 80%, em parceria com a empresa SBS Engenharia e Construção. Oferecendo um deságio de 45,63%, saiu à frente de outros sete grupos concorrentes que participaram da disputa realizada na BM&F Bovespa. Segundo a holding, a tarifa média de pedágio é de R$ 0,339/km, abaixo do R$ 0,623/km correspondente ao teto fixado no edital da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A empresa construirá sete praças de pedágio ao longo do trecho, pelo qual responderá durante os 25 anos da concessão.

UMA DECISÃO MADURA

Federico Botto, vice-presidente executivo da holding, diz que a decisão para participar do leilão e, depois, assumir a responsabilidade pela concessão de um trecho dos mais importantes da BR-101, resultou de planejamento maduramente elaborado no bojo de uma estrutura que se dedica continuamente a estudos de engenharia e licitações, envolvendo capacitações  dos setores corporativos e que incluem, dentre eles, os departamentos de engenharia, finanças, jurídico etc.  No fundo, as decisões são tomadas depois de consultas e análise das condições dos editais e dos estudos e conhecimento amplo da situação dos trechos colocados em leilão.

Papel importante, em se tratando daquele trecho da BR-101, foi exercido previamente pela engenharia, que examinou tecnicamente todas as interfaces do traçado. Ela cuidou do levantamento da estrada, estudou o projeto que previa o conjunto de obras de curto, médio e longo prazo e calculou o volume de investimentos necessários para executá-las coerentemente com o cronograma especificado no documento licitatório. A participação, portanto, no leilão, significou um trabalho que agregou diversas peças para o mapeamento das opções construtivas, tendo em vista as carências da rodovia.

Facilitou, de certo modo, o desenvolvimento desse conjunto de ações, a expertise da empresa. “Temos”, diz Federico Botto, “uma experiência clara no mercado. Somos um grupo rodoviário que já detinha as cinco concessões mais rentáveis do País: a Ecovia Caminho do Mar, a Ecovia dos Imigrantes, a Ecosul, a Ecocataratas e a Ecopistas (corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto). Além disso, contamos, em nosso grupo, com empresas que prestam serviços para todas as concessões. São serviços de engenharia, de tecnologia e de outras áreas, tudo seguindo uma orientação centralizada. Portanto, a montagem do Consórcio Rodovia da Vitória não se deu por uma casualidade, mas como decisão resultante de um trabalho de engajamento e de responsabilidade de todos – e como reflexo do que temos feito em todas as rodovias que se encontram sob a nossa responsabilidade”.

Os estudos da Ecorodovias, que derivaram para o oferecimento da tarifa divulgada no mercado, consideraram todos os aspectos que são debatidos quando se trata de um leilão desse tipo. Foi avaliada a margem de riscos dentro de um conjunto de ações que inclui as aprovações das licenças ambientais, as características das obras que serão executadas e as gestões junto a administrações municipais e o cronograma. 

“Percebemos”, afirma o vice-presidente da Ecorodovias, “que o governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, tem manifestado muito interesse pelas obras da BR-101, cuja duplicação favorecerá a economia do Estado. Estamos convencidos de que a população local sabe da importância de poder contar com boas estradas, mesmo que para isso precise recorrer ao sistema de concessões, o que é fundamental para a elaboração de projetos e implementação de obras que vão melhorar as condições de tráfego e de segurança nas rodovias.”

Federico Botto diz que a população do Espírito Santo sabe das vantagens das estradas pedagiadas. Cita o exemplo da Rodovia do Sol, que favorece o tráfego em uma das principais rodovias do Estado e que tem pedágio.

A Rodovia do Sol vem oferecendo bons serviços aos usuários locais. Tanto é que a pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) a avaliou como ótima “em todos os quesitos da pesquisa”.

A concessão daquele trecho da BR-101 chega em boa hora, do ponto de vista econômico, social e político, para o Espírito Santo. Federico Botto afirma que aquele  Estado é o que mais cresceu nos últimos 10 anos em termos de Produto Interno Bruto (PIB), em relação aos demais da Federação. O crescimento tem sido da ordem de 8 a 10% ao ano. E, como resultado do progresso referido, tem aumentado, também, no Espírito Santo, o volume de tráfego em todas as estradas estaduais e, em especial, naquele trecho da rodovia federal.

AS CONDIÇÕES DA BR-101 E AS PRIORIDADES
Felippo Chiariello, diretor de engenharia da concessionária, esteve à frente da equipe que fez o levantamento técnico do trecho concedido. Diz que o trecho do traçado que se prolonga para o Espírito Santo, ainda em território baiano, possivelmente seja a parte mais complexa e que mais exigirá soluções técnicas da engenharia. Há buracos, raios de curva a serem corrigidos e obras de arte que precisam ser ampliadas e restauradas ou que exigem novas obras desse tipo. No conjunto, da Bahia ao Espírito Santo, as condições topográficas e geológicas são boas. Ao longo do trecho haverá numerosas obras de
arte, mas não haverá necessidade de projeto e execução de túneis.

O engenheiro informa que todos os procedimentos técnicos, do ponto de vista da engenharia, a serem adotados tão logo a Ecorodovias assuma a estrada, estão previstos e levam em conta uma escala de prioridades. Segundo essa escala, a empresa dispõe de um ano para começar, complementar e executar todas as operações preliminares.  Nesse período, ela deverá ter construído todas as sete praças de pedágio e colocado em prática as benfeitorias especificadas no edital para a operação da rodovia. Será necessário cuidar da sinalização, melhorar ou reconstituir o pavimento e fazer as ampliações e os acessos mais urgentes.

“O trecho”, assegura o diretor de engenharia, “não está de todo ruim; o que precisa ser feito são a duplicação e as ampliações.” E Federico Botto complementa: “É significativo para nós e em especial para os usuários, que a estrada venha a funcionar com o padrão que tem caracterizado as demais estradas sob a nossa responsabilidade. Ele informa que a concessionária vem atuando junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para a atualização das normas rodoviárias. Segundo ele, os aperfeiçoamentos das normas vão significar também aperfeiçoamentos nas rodovias e a adoção de padrões internacionais.

A EMPRESA

A BR-101 entra no portfólio da Ecorodovias em um período em que a holding julga-se consolidada como um dos maiores grupos de infraestrutura e logística intermodal do País. No ano passado o faturamento da empresa foi da ordem de R$ 400 milhões.

“Estamos crescendo sim”, diz Federico Botto, “mas crescendo também em infraestrutura portuária e, futuramente, aeroportuária.” O crescimento vem se dando de forma gradativa e segura. Recentemente a Elog, subholding do grupo, adquiriu o controle acionário da Armazéns Gerais Colúmbia e da Eadi Sul Terminal de Cargas.  A aquisição amplia o escopo da Ecorodovias, que está implantando os ecopátios de Cubatão e Imigrantes com vistas às operações de embarque e desembarque do porto de Santos, e do Ecopátio Viracopos, localizado no município de Indaiatuba, e que funcionará estrategicamente junto àquele aeroporto internacional.

E A 3ª PISTA DA IMIGRANTES?
Diante do extraordinário volume de carros que descem para a Baixada Santista nos fins de ano, durante o Carnaval e nos feriados prolongados, a pergunta que não quer calar invariavelmente é a mesma: “Já seria hora de se pensar na 3ª pista da Imigrantes?”

O vice-presidente da Ecorodovias diz que, quando era construída a segunda pista, já se pensava nessa possibilidade. Contudo, a empresa ainda considera que é cedo para se pensar nisso em termos concretos. Atualmente, o grande problema no sistema Anchieta/Imigrantes não chega a ser o volume de tráfego sazonal, mas o número médio de veículos nos dias da semana e durante todo o ano.

Considerando o tráfego sob esse aspecto, o sistema estaria com a sua capacidade de tráfego esgotada? Seguramente, não. Além do que, o que pode emperrar o tráfego de caminhões para a Baixada, não é o volume de veículos, mas a capacidade da Alfândega do porto de Santos de absorver esse movimento, uma vez que ela não trabalha 24 horas por dia.   

O projeto e construção de uma 3ª pista teriam de considerar a capacidade do sistema; a capacidade da burocracia no porto, para dar vazão às cargas para embarque e desembarque durante as 24 horas do dia e – um dado importante – o impacto de uma 3ª pista na Baixada Santista. Por ora, portanto, a 3ª pista está apenas na possibilidade.

As obras da BR-101

O engenheiro Filippo Chiariello informa que a situação no trecho objeto da concessão é a seguinte: São 476 km de rodovia, prevalentemente em pista simples, divididos em nove subtrechos homogêneos. O trecho apresenta 77 obras de arte especiais, sendo cinco passarelas, 14 passagens inferiores, seis passagens superiores e 52 pontes, a maior delas com 636 m de extensão.

Considerando essa situação as obras previstas são as seguintes: deverão ser duplicados aproximadamente 420 km de rodovia, na quase totalidade até o 10º ano. Entre as obras de duplicação está também prevista a implantação do contorno da cidade de Iconha.

Deverão também ser implantadas:
19 passarelas
36 km de vias locais
30 melhorias em interseções e acessos
28 km de retificações de traçado
1 Sede da administração
2 Divisões Regionais
1 Centro de Operações da Concessionária
7 Praças de pedágio
12 Bases Operacionais (SAU) 
4 Postos de pesagem fixos
2 Postos da PRF (com reforma dos 6 existentes)
2 Delegacias da PRF (com reforma das 6 existentes)
2 Postos de fiscalização da ANTT
10 PMVs fixos
Para operação da rodovia, deverão ser disponibilizadas 12 ambulâncias e 18 guinchos.

Fonte: Padrão