O Brasil já está produzindo em laboratório o álcool feito a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Em cinco anos, terá início a produção demonstrativa do chamado etanol de segunda geração em escala industrial e, em dez anos, o combustível renovável estará nas bombas dos postos de abastecimento, misturado ao atual álcool de primeira geração (feito a partir do caldo da cana-de-açúcar), como prevê a bióloga Elba Bon, professora do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para ela, a tecnologia que está sendo pesquisada para a extração do etanol de segunda geração “está vindo para ficar e vai dobrar a produção de etanol sem aumentar a área plantada”, juntando com os resíduos da palha do milho e do trigo.
Além das vantagens ambientais, Elba Bon enumera razões econômicas (baixo custo da biomassa; pouca necessidade de investimento em infraestrutura para transporte; diminuição da competição com a produção de açúcar); razões geopolíticas (desenvolvimento de tecnologia nacional face à concorrência internacional, que já explora etanol de segunda geração); razões sociais (vocação para o campo e geração de emprego, inclusive de pessoal qualificado); e razões de saúde pública. “Se você tem uma boa qualidade do ar [o álcool não polui como o petróleo] e uma boa qualidade da água [a produção tem menor risco de vazamento para oceanos e rios], gasta-se menos com saúde", explica.
Embora vantajoso, a bióloga alerta que o custo do etanol de segunda geração é maior do que o da produção atual: que vai competir com a geração de energia das usinas, feita hoje com a queima dos resíduos da cana; e, ainda, que a produção em larga escala depende da descoberta de uma enzima que consiga quebrar as moléculas de açúcar para fazer a fermentação do álcool.
“A dificuldade técnica é conseguir retirar os açúcares desse material sólido para fazer a fermentação”, complementa o também biólogo João Ricardo Moreira de Almeida, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agroenergia). Segundo ele, para extrair o etanol de segunda geração é preciso utilizar enzimas de micro-organismos, que quebram as estruturas e permitem a fermentação do álcool.
Esses micro-organismos atuam na natureza para degradar material em decomposição. As pesquisas em andamento, em laboratórios públicos e privados (nacionais e de estrangeiros) apostam em micro-organismos encontrados no solo da Floresta Amazônica (capaz de degradar folhas, frutos, galhos e pedaços de árvore que caem) e nos micro-organismos encontrados no aparelho digestivo dos caprinos (bode e cabra), conhecidos por ingerirem vários tipos de alimentos.
Segundo os dois especialistas, as pesquisas com micro-organismos para a extração de etanol de segunda geração têm recebido amparo regular da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), além de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Fonte: Padrão
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