Volto sempre a esse tema. Receio que jamais possa descartá-lo das minhas preocupações, seja como cidadão, seja como editor de uma revista de engenharia. Porque ele sempre está presente, por mais que tentemos mantê-lo à distância, em todos os nossos atos diários. E, para lembrá-lo, não é sequer necessário pautá-lo para mais uma matéria ou para mais uma documentação sobre os males provocados pela carência histórica de obras de saneamento.

 

 

Agora mesmo leio editorial do jornal O Estado de S. Paulo que trata do “Atraso no saneamento”. E recordo tempos antigos quando, por um acaso, encontrei no meio do rio São Francisco – eu em um barco e ele em outro, eu indo para Porto Real do Colégio, Alagoas, e, ele, para Propriá, Sergipe, o engenheiro sanitarista José Martiniano de Azevedo Neto. E ali, no meio do velho Chico, ele apontou para as margens do rio e disse: “Oi, jornalista. Até por aqui constatamos a vergonha nacional da falta de saneamento.” Dias mais tarde, em São Paulo, ele complementaria a observação, dizendo que na região de Penedo, e em outras regiões ribeirinhas, deveria haver ao menos pequenas estações de tratamento de esgoto para se evitar a acumulação de toda sorte de sujeira carreada para o leito do rio da unidade nacional.

 

Mas, falando do editorial, o jornal assinala que das 114 obras de saneamento listadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ora em execução em cidades com mais de 500 mil habitantes, apenas 8, correspondentes  a 7% do total, se encontravam concluídas até fins do ano passado.

 

 

Contudo, há outros números que espelham a situação do saneamento no Brasil, pesquisados  pelo próprio Ministério das Cidades, pela Organização Mundial da Saúde e por outras entidades de pesquisa. Vamos a eles:

• Apenas 44,5% da população brasileira estão ligados a alguma rede de esgotamento sanitário.

• Cada R$ 1 que poderia ser aplicado em obras de saneamento poderia economizar R$ 4 na área de saúde.

• Cada 1 milhão investido em obras de esgoto sanitário gera 30 empregos diretos e 20 indiretos.

• As 81 maiores cidades brasileiras, com mais de 300 mil habitantes, despejam por dia 5,9 bilhões de litros de esgoto sem qualquer tratamento, no solo, rios, mananciais e praias. 

• A possibilidade de uma pessoa, com acesso à rede de esgoto, faltar ao trabalho por diarreia, é 19,2% menor do que uma pessoa que não tem acesso à rede.

O retrato do saneamento brasileiro, em síntese, é este. E, enquanto obras prioritárias, nesse campo, não são executadas, ou são executadas em ritmo absolutamente moroso, conforme constata o editorial, a corrupção no Brasil continua a drenar recursos para a manutenção dos interesses de seus cúmplices.
 

Fonte: Nildo Carlos Oliveira