E, por que não? O sonho é possível com a engenharia possível. O hidroanel metropolitano teria 170 km no entorno da capital e, por ele, passearíamos ou nos locomoveríamos a serviço, indo de um extremo a outro da cidade, em barcos acessíveis nos portos de embarque. Mas, no caminho desse sonho, há muito lixo a remover. E é aí que o barco do sonho pode ficar ancorado, imobilizado na poluição.

O governo estadual divulga um projeto pelo qual o hidroanel seria mesmo construído. Ele incluiria o rio Tietê, o canal do rio Pinheiros e as represas Billings e Taiaçupeba. Para conectar as duas repressas seria construído um canal artificial de 18 km. E, para tornar viável a navegabilidade dos barcos pra lá e pra cá, assegurando a manutenção do nível das águas entre um ponto e outro, seria construída uma eclusa, obra provável cuja licitação poderá ser aberta num horizonte próximo.

A possibilidade não surpreende. Todos os grandes rios urbanos do mundo – ou pelo menos quase todos – permitem a navegabilidade, o incremento do turismo, o acesso entre bairros e a realização do que muitos urbanistas vêm defendendo há tempos: a multimodalidade nos transportes. Não temos rios? Antigamente não se navegava por eles nas áreas urbanas? Eles não favoreciam a prática esportiva?

Ocorre que durante décadas as sucessivas administrações municipais e estaduais foram deixando que os nossos rios urbanos apodrecessem e se tornassem canais de esgoto a céu aberto. Até há pouco tempo condomínios de luxo, construídos à margem e nas proximidades do canal do rio Pinheiros, lançavam ali os seus dejetos. E lixo industrial e de toda sorte ainda se acumula ao longo do Tietê.

O receio é de que nos vendam a imagem da construção de um hidroanel metropolitano, nos entusiasmem com essa perspectiva, e não cuidem de previamente ressuscitar os rios urbanos.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira