Morre, aos 95 anos, em Londres, o historiador britânico Eric J. Hobsbawm, intérprete marxista das revoluções e das grandes questões políticas, econômicas e sociais do mundo. Foi o intelectual da História, que enriqueceu cada capítulo da trajetória humana, lançando luzes, a partir do século passado – e deste – para os séculos que ficaram lá atrás e para os demais que estão para chegar. Difícil, daqui pra frente, interpretar o mundo sem a participação dessa inteligência privilegiada que, com as armas da dialética, analisava os fatos, mesmo aqueles aparentemente de menor importância, para mostrar o significado de cada peça, de cada movimento político, no tabuleiro das contradições humanas.

Concebeu grandes obras, dentre as quais, A era das revoluções,A era do capital, A era dos impérios, História social do jazz, A era dos extremos e tantas outras. Contudo, um dia depois da morte de Hobsbawm, não é nenhum desses livros que procuro na estante. Vou direto à obra publicada pela Paz e Terra, numa tradução de Donaldson M. Garchagen, intitulada Bandidos.

Nesse trabalho, ele analisou as peculiaridades de vários tipos de bandoleiros em diversos países. E conseguiu fazer uma amostragem do que chama de banditismo social. Os tipos são os mais diferentes, indo de Robin Hood, Louis-Dominique Cartouche, Salvatore Giuliano, Jesse James ao cangaceiro Lampião, no Nordeste brasileiro.

Sim, ele estudou a tipologia de Lampião, em seu habitat, trazendo-o para as páginas em que enfoca o bandido brasileiro nos tempos da Coluna Prestes. E diz porque Lampião se recusou a perseguir os integrantes da Coluna. Segundo o historiador, Virgulino Ferreira da Silva recebeu a patente oficial de capitão de um funcionário federal, na expectativa de que ele empreendesse a perseguição à Coluna. Convenceu-se, porém, de que tão logo passasse aquele momento histórico, a patente poderia lhe ser retirada e, a partir daí, o perseguido seria ele.

Lampião achava, a exemplo da maioria dos sertanejos, de que bandos volantes de homens armados “eram uma coisa com a qual ele sabia lidar”. Já lidar com o governo era diferente: o governo era, ao mesmo tempo, “mais imprevisível e mais perigoso”.

A citação dessa obra de Habsbawm é apenas para mostrar o quanto a sua inteligência procurava interpretar os fatos do mundo, estivessem eles onde estivessem. Até mesmo no sertão brasileiro.

Mensalão

O STF desmontou a farsa. Mas, antes que ele o fizesse, a população já havia feito o seu julgamento e sabia que o mensalão fora articulado para corromper. Registro aqui as palavras do ministro Celso de Mello, no julgamento: “Eram (os réus) marginais do poder, verdadeiros assaltantes dos cofres públicos. Altos dirigentes do Poder Executivo e agremiações partidárias que transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária de governo”.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira