Em 2003, o orçamento para transporte era de R$ 1,5 bilhão ao ano e, atualmente, está em R$ 20 bilhões. “Já revertemos parte deste déficit”, afirmou Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento Logístico (EPL), em debate promovido pelo Lide Logística com o tema “Questão Tributária no setor de Logística Multimodal”, nessa quarta (5), em São Paulo. Segundo Figueiredo, estudos do mercado mostram um déficit de R$ 400 bilhões e o governo precisa passar a investir entre R$ 80 e R$ 100 bilhões ao ano para reduzir mais este déficit.

Para Figueiredo, o crescimento do Brasil mostrou que não havia logística adequada e que agora o mercado vê e pede solução. Ele lembrou que, a partir de 1980, vieram 20 anos de recessão, havia frota grande de caminhões, o preço do frete caiu pela concorrência predatória entre as empresas e ninguém mais falou em logística. “Hoje, a ampliação da economia, com mercados em lugares mais distantes e onde os custos de transporte são maiores, revela que os problemas estão aí há bastante tempo e não serão resolvidos rapidamente”, completa.

O presidente da EPL lembrou que, no Brasil, a idade média da frota brasileira de caminhões é de 20 anos, enquanto nos EUA é de sete anos.

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“Não é sustentável ancorar a logística numa frota antiga, em motoristas que são obrigados a trabalhar 19 horas por dia, sete dias por semana, em caminhões que viajam com excesso de peso”, explica. Para ele, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi a primeira iniciativa para mudar este quadro. “Eram ações que estavam aí há dez anos, mas que não eram executadas porque não havia orçamento para isso. O PAC trouxe previsibilidade orçamentária e recursos garantidos”, afirma Figueiredo.

Segundo Bernardo Figueiredo, uma das principais dificuldades na realização das ações são bons projetos, estudos econômicos e licenciamentos. “Temos que trabalhar as ações com antecedência, temos programa agressivo e o que queremos mostrar ao mercado é que vamos cumprir os cronogramas”, garante. O objetivo é ter a maior parte dos eixos rodoviários duplicados e sob administração privada. “Não vamos esperar a rodovia congestionar para duplicar porque a logística tem que estar na frente”, acrescenta. Ele citou o exemplo da Bahia, onde a ferrovia que será construída já está com 100% da demanda vendida antes mesmo de ela estar pronta.

Trem bala

Questionado sobre o Trem de Alta Velocidade (trem-bala), Bernardo Figueiredo foi categórico: “Não há dúvida de que temos que fazer o TAV”. “Estamos buscando a forma de atrair investidor privado e nosso atrativo é que não temos ferrovia no eixo Rio-São Paulo. É projeto que se paga e criamos a financiabilidade”, complementou. Figueiredo lembrou que o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou a modelagem e na próxima semana será divulgada a licitação da operação.

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A EPL participa como investidora com 30% do capital, além de outros investidores institucionais, como os Correios. Segundo Figueiredo, o leilão deve ocorrer em julho de 2014 e a EPL contratou uma integradora que fará o projeto executivo detalhado para que “não haja erro”. Ele também afirmou que pretendem criar projetos imobiliários onde serão localizadas a estações, o que deverá acrescentar mais R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões para o projeto.


“Acreditamos que é um projeto que fecha a conta”, finaliza.

Sobre as condições para acesso aos portos, Figueiredo garante que o problema não é de acesso e sim de porto. “Às vezes, em Paranaguá, o caminhoneiro fica seis dias esperando porque não tem silo suficiente. O caminhão foi feito para rodar, se está parando temos algum problema. Vamos investir nos dois aspectos. Temos que melhorar a gestão. Vamos investir na melhoria do acesso e nos portos”, afirmou, lembrando que hoje a presidente Dilma Rousseff irá anunciar o plano para modernização dos portos.

Logística no Brasil

No evento, os empresários presentes responderam a pesquisa Lide-FGV Logística no Brasil e, para 42%, além da carga tributária, a burocracia é o maior gargalo para a competitividade da empresa; para 32% é a infraestrutura; outros 15% apontam a educação da força de trabalho, 5% a corrupção; 4% o câmbio e 2% a falta de inovação. Sobre quanto a empresa tem investido em logística nos anos recentes, a resposta foi muito para 44%; médio para 36%; 13% pouco e 7% afirmaram não terem investido. Sobre se os planos do governo federal trarão os resultados prometidos e nos prazos adequados, 61% acreditam em parte; 34% não acreditam e 5% acreditam.