Márcio Amorim

Há anos nossa cidade não recebia investimentos desse porte. Tivemos, ao longo dos últimos trinta anos, como obras que contribuíram para alterar a fisionomia urbana do Rio, apenas a Linha Vermelha, a Linha Amarela e os Programas Rio Cidade e Favela Bairro.

As obras atuais são de grande alcance social e se refletirão, sim, na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. As obras viárias em execução – o Arco Rodoviário, os BRTs, os BRSs, a linha 4 do Metrô e o VLT – irão facilitar a mobilidade dos cariocas, reduzindo os engarrafamentos e, por conseguinte, os tempos de viagem. Por outro lado, é preciso reduzir o número de ônibus em circulação e de veículos particulares no centro da cidade. O sistema de pedágio adotado em Londres, ou a alternância de placas, pares e ímpares, adotada em São Paulo, podem ser soluções a ser estudadas.

Quanto à participação de profissionais de outros países nos projetos ou obras de renovação urbana, não vejo nenhum problema. Em se tratando de profissionais de alto nível, isso é extremamente saudável e contribui para a evolução da arquitetura e da engenharia nacionais.

Sobre a participação, em especial, de Santiago Calatrava, em projetos para a cidade, quero dizer que quem conhece Valência, na Espanha, sabe do que ele é capaz. Afinal, nosso arquiteto maior, Oscar Niemeyer, tem obras da maior importância em vários países do mundo.

Os projetos e obras em curso são da maior importância para nossa cidade. Entretanto, vão aqui alguns questionamentos e sugestões dirigidos ao estado e à prefeitura:

a) O traçado do metrô tem que contemplar forçosamente a ligação Gávea – Uruguai, pois irá fechar o anel, aumentando em muito a capacidade desse sistema de transporte.

b) Ainda no que se refere ao metrô, por que não prolongar a linha 4 do Jardim Oceânico ao Terminal Alvorada, para onde convergem os BRTs e os ônibus?

c) Por que projetaram a faixa do BRT Transoeste, na avenida das Américas, ocupando uma faixa de tráfego, em detrimento da utilização do canteiro central?

d) Não conheço o projeto das obras que serão realizadas no entorno do Maracanã. Porém, não deixarei de citar a importância da ligação das pistas da Radial Oeste e da avenida Maracanã, sentido centro, com o bairro de São Cristóvão, e por conseguinte, com a Linha Vermelha. Para dar fluidez ao tráfego Zona Norte / Tijuca e Centro do Rio, é fundamental eliminar o “nó” de trânsito existente na confluência da rua General Canabarro com a Radial Oeste. É uma obra simples que se reveste de grande importância na qualidade de vida dos cidadãos.

Uma sugestão à revista O Empreiteiro

Gostaria de lançar um tema para reflexão de todos, e, quem sabe, para ser objeto de um futuro debate a ser organizado pela revista O Empreiteiro. Durante 20 anos a profissão de engenheiro esteve em baixa – foi a época do “engenheiro que virou suco”. Quem é mais velho com certeza se lembra daquela época. Na minha empresa, e na maior parte das empresas tradicionais do setor A&E, a maioria dos arquitetos e engenheiros se situa em duas faixas de idade: acima de 55 anos ou abaixo de 35 anos, existe um vazio no intervalo 35 a 55 anos. Hoje estamos a pleno emprego, faltam arquitetos, faltam engenheiros, faltam técnicos, falta mão de obra especializada, o mercado está aquecido. Mas quando essas obras hoje em execução pelos governos municipal, estadual e federal se concluírem, o que se fará dessa grande mão de obra altamente qualificada?

Creio que está na hora de pensarmos o País para daqui a cinco anos. É hora de planejar, de iniciar os estudos de viabilidade técnica-econômica-ambiental, é hora de pensar nos grandes projetos estruturais. Se conseguirmos dotar o País de uma infraestrutura adequada, seu crescimento será natural, mas isso depende de planejamento e projetos de qualidade.

Fonte: Padrão