Não pretendo me referir especificamente às obras da Copa. Os estádios, cujos prazos vêm sendo continuamente adiados, um dia serão concluídos. E, o prazo, é 2014. Mas, outras obras complementares com certeza ficarão inconclusas. Os atrasos incidirão sobre obras viárias e VLTs. Atingirão estações de metrôs, algumas das quais ficarão para as calendas. E, terminais portuários, também. Seria dispensável falar dos atrasos nas obras de acesso. Mas, será que tudo isso será levado em conta, pelo grande público, na hora das grandes decisões esportivas?
Recentemente, de 102 projetos de obras para a Copa, que foram analisados, 50 estavam com a data de conclusão atrasada. Atrasadas ou não, elas repetem o grave vício detectado na grande parte dos empreendimentos que o País inicia: as mudanças nos preços originalmente colocados nos contratos. O próprio governo federal tem assinalado que os preços dos estádios para a Copa alcançaram o patamar de R$ 7,1 bilhões ao final de 2012. Isto significa, resumidamente, que houve um crescimento de 163% nos preços atuais, em relação àqueles originalmente estabelecidos pela Confederação Brasileira de Futebol ( CBF) para as arenas, em outubro de 2007, época em que o Brasil, com pompa e circunstância, foi escolhido para sediar o Mundial.
Mas esses atrasos – e os preços – embora não sejam aceitáveis – acabarão assimilados. E sempre haverá mil e umas desculpas para justificar as obras de mobilidade urbana que não venham a ser concluídas.
Mas, e aquelas que não se destinam à Copa? A sociedade continuará a suportar as justificativas que jamais se justificam? Vejamos o caso da Ferrovia Transnordestina, para não falar de outras, a exemplo da Norte-Sul. A Transnordestina, com 1.718 km de extensão, não anda. Sequer patina. As obras começaram em 2006. E não seriam obras de maior complexidade. Talvez tenham enfrentado algum problema de logística. Mas, do ponto de vista da engenharia mesmo, jamais tiveram, pela frente problema maior. Apesar disso, atrasaram. Dizem que o prazo para que venham a ser concluídas foi prorrogado para 2014. Mas há quem diga que ela não ficará pronta antes de 2015 ou de 2016. De qualquer modo, não há nenhuma segurança quanto a isso. Segurança, mesmo, só há em relação aos aumentos dos contratos. O valor orçado de R$ 5,4 bilhões foi revisto para R$ 6,72 e deverá chegar a R$ 7,5 bilhões. Ninguém segura essa subida.
O lamentável é que o preço desses atrasos, sobretudo o peso que eles representam do ponto de vista de custo, cai em cima do lombo da população. É o Brasil.
Fonte: Padrão
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