Oresultado final da concorrência do Rodoanel Norte confirmou um movimento consistente no País: a crescente participação de construtoras estrangeiras nas obras públicas nacionais. É a oportunidade que se abre a estrangeiros, quando há financiamento internacional, como, no caso, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de cerca de R$ 2 bilhões.
Nessa concorrência, em específico, o destaque coube aos espanhóis, que, com três empresas, estarão presentes em quatro dos seis lotes do empreendimento. No lote 1, com a construtora Isolux Corsán, consorciada com a Mendes Júnior; nos lotes 4 e 6, com a participação isolada da Acciona Infraestructuras; e no lote 5, com a Copasa em consórcio com a Construcap.

São construtoras com reconhecida experiência em grandes obras em diversos países. No Brasil, começam a marcar presença a partir da segunda metade da década de 1990. A Acciona, por exemplo, é a empresa contratada para a construção dos diques externos e do estaleiro do Porto do Açu, da OSX, em São João da Barra (RJ), uma das maiores obras privadas em andamento por aqui.

A Isolux, ao lado da brasileira Infravix, administra mais de 600 km das rodovias BR-324 e BR-116, na Bahia. E venceu recentemente concorrência para obras da Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo. A Copasa, que tem atuado mais fortemente no País no segmento imobiliário, com empreendimentos em Salvador (BA), marca seu ingresso nas obras viárias com o Rodoanel Norte, mas junto de quem possui longa tradição no setor.

Espanha investe há décadas na AL

O movimento espanhol rumo ao Brasil tem muito a ver com dois momentos distintos na trajetória dos dois países. De um lado, a posição brasileira hoje de destaque na cena mundial, com o aumento do mercado interno (via melhoria da renda de uma fatia da população até então pouco acostumada a consumir) e da capacidade de investimento, dada a estabilidade econômica. De outro lado, uma das piores crises da Europa, em geral, e da Espanha, em particular, com desemprego, em janeiro último, de 26% da população (ou cerca de 5 milhões de espanhóis desempregados; entre os jovens, o índice ultrapassa os 50%). O interesse da Espanha por negócios no Brasil, já anunciado por suas principais lideranças políticas em encontros com lideranças brasileiras, é uma decorrência desse contexto. A presença expressiva dos espanhóis, agora no Rodoanel, é mais um capítulo dessa história, que pode gerar novas parcerias, novos arranjos, novos modelos, talvez, no cobiçado setor de infraestrutura brasileiro, em que há tanta coisa por fazer, nas mais variadas necessidades, de morar, de transportar, de sanear.

É injusto, entretanto, considerar esse movimento recente ou oportunista, pois há negócios espanhóis de longa data no Brasil. O grupo Telefônica é um dos três maiores operadores de telecomunicações no País, desde a privatização do setor no governo Fernando Henrique Cardoso. A Iberdrola atua no segmento de energia elétrica há décadas. Há também numerosos empreendimentos hoteleiros no Nordeste controlados pelo capital espanhol, muito antes de se falar da Copa do Mundo 2014. No Rio de Janeiro e em São Paulo, um grande número de restaurantes e casas noturnas é de empresários daquele país.

Experiência

Na Dersa, a responsável geral pelo empreendimento do Rodoanel Norte, a expectativa com as construtoras espanholas selecionadas é positiva. “Nós vamos ver, agora, a capacidade de elas se mobilizarem para as obras. Esperamos não ter nenhum problema. São empresas de renome”, projeta o diretor de engenharia, Pedro da Silva.

O diretor de construção da Acciona no Brasil, Jose María Jordán, destaca o repertório da empresa em infraestrutura e, especialmente, no setor viário. “Em dez anos, a empresa construiu mais de 5.500 km de estradas nos diversos países onde atua. É, portanto, altamente qualificada e capaz de participar deste momento do desenvolvimento da infraestrutura brasileira.” O Brasil, segundo o dirigente da construtora espanhola, é prioridade na estratégia de internacionalização dela, devido às grandes obras de infraestrutura ainda a construir no País.

No consórcio Construcap/Copasa, as empresas “compartilharão responsabilidades”, segundo Roberto Capobianco, vice-presidente da construtora brasileira. “Obviamente que, por sermos uma empresa nacional, teremos melhores condições para contratar a mão de obra, que será brasileira, e comandar a operação. E, certamente, contaremos com a colaboração de técnicos espanhóis fornecendo soluções para as questões em que a Copasa já obteve bons resultados.”

Roberto Capobianco, da Construcap

A parceria da Mendes Júnior e da espanhola Isolux Corsán se efetivará em regime de consórcio pleno, com participação igual (50% para cada) e sem divisão de escopo entre as empresas, mas a liderança cabendo à construtora brasileira. Victório Duque Semionato, vice-presidente de engenharia da Mendes Júnior, valoriza a experiência que a Isolux já tem em obras no Brasil e, sobretudo, a possibilidade de ganhos concretos com os espanhóis. “Para nós, essa associação agrega tecnologias diferenciadas, o que contribui para melhorar nossa competitividade e resultados, além de diluir os riscos”, exemplifica Semionato.

Victório Semionato, da Mendes Júnior

(GA)

Fonte: Padrão