Na projeção da CTBUH – Council on Tall Buildings & Urban Habitat, que realizou recente evento em Xangai, China, dos vinte maiores megaedifícios do mundo até 2020, 12 deles estarão na China, incluindo um em Taiwan. A Coreia do Sul vem a seguir com três empreendimentos, mesmo número da região do Golfo Pérsico, divididos entre Dubai e Arábia Saudita.

Esses empreendimentos são concebidos, em geral, para ancorar o desenvolvimento imobiliário e urbano de novos bairros ou de uma região. Uma das alavancas desse movimento é a conturbação (conjunto formado por cidades e vilarejos muito próximos uns dos outros), fenômeno que levará cerca de 7 bilhões de pessoas a habitar as cidades por volta de 2050, dizem os especialistas.

Nos megaedifícios desse porte, com altura que vai de 400 m a 1.000 m, a sustentabilidade representa um enorme desafio. Timothy Johnson, que presidiu o evento CTBUH 2012 na cidade chinesa e é projetista-sócio do escritório de arquitetura NBBJ, em Nova York, acredita que, nas décadas de 2060-70, os megaedifícios produzirão mais energia do que seu consumo.

A escassez de dados confiáveis sobre desempenho do ponto de vista energético é uma das barreiras para se alcançar a sustentabilidade nestes projetos. Bob Pratt, diretor-gerente da Tishman Speyer Properties em Xangai, afirma que uma vez criado um padrão para medir o desempenho energético dos megaedifícios, as tecnologias necessárias vão aparecer. Muitos empreendedores resistem em fornecer dados sobre consumo energético, por receio de críticas da opinião pública ou pressão por parte dos órgãos reguladores.

No painel “Mais alto é melhor do que ocupar mais área” do evento, que atraiu 850 participantes de 43 países, o arquiteto Adrian Smith – entusiasta dos megaedifícios – frustrou o público ao revelar os resultados preliminares de um estudo sobre densidade demográfica e empreendimentos residenciais. Smith adiantou que a pesquisa aponta que os edifícios residenciais de quatro andares são o maior modelo de sustentabilidade, do ponto de vista de emissão de carbono. “Isso foi uma surpresa”, admitiu ele.

O escritório Adrian Smith + Gordon Gill está desenvolvendo um empreendimento de 2 mil unidades residenciais em Chicago, Estados Unidos, cujos estudos abrangem desde um megaedifício até casas individuais de família em lotes de 2.500 m².

Smith foi o arquiteto que projetou o Burj Khalifa, em Dubai, o edifício mais alto já construído, com seus 828 m. Na época da obra, ele atuava na Skidmore, Owings & Merrill. O prédio ficou famoso porque o ator Tom Cruise escalou sua fachada de pele de vidro, com dispositivos elétricos de ventosas nas mãos, no filme “Missão Impossível”.

Smith está agora projetando o megaedifício Kingdom Tower, em ­Jeddah, com mais de 1.000 m. O arquiteto é enfático em apontar que prédios desse porte precisam produzir energia para consumo, e não apenas reduzir seu uso — se quiserem ter uma operação sustentável ao longo da sua vida.

Um elevador que sobe o próprio poço

O transporte vertical é um dos componentes que mais consomem energia e as pesquisas apontam para a necessidade de regeneração da energia de frenagem, dispositivos para reduzir o consumo quando as cabines estão paradas, e novos materiais para diminuir o peso deles. Em 2008, a Kone lançou a JumpLift, um guincho projetado como autotrepante que usa o poço permanente do edifício e tem uma casa de máquinas provisória que “sobe” junto com ele, à medida que a estrutura se eleva.

Para um edifício de 70 andares, o JumpLift pode reduzir o prazo de construção em cerca de 300 mil a 400 mil horas, diz Johannes de Jong, gerente de tecnologia da empresa finlandesa. O equipamento tem custo maior do que um guincho de obra, mas 80% do sistema do elevador pode ser incorporado para uso permanente no prédio depois de pronto.

O guincho autotrepante começa a operar quando o prédio chega a 20 m. O transporte vertical de materiais ocorre dentro da estrutura, e não na fachada, evitando os atrasos causados pelo mau tempo. O carro se desloca com a maior velocidade, reduzindo os tempos de espera. Com isso, os pisos inferiores podem ser fechados com maior antecedência, dando início aos trabalhos de acabamento interno.

O uso desse guincho entretanto precisa ser previsto já na fase de projeto e demanda uma boa coordenação e planejamento logístico com as equipes de construção. Se as obras de lajes atrasarem, haverá atrasos em cadeia. O sistema já se encontra em uso na Ásia, Europa e Canadá e foi aprovado nos Estados Unidos em 2011.

Um metrô vertical

Outro conceito radical quer reduzir o espaço ocupado pelos poços dos elevadores. Embora conhecido há décadas, o elevador que corre sobre trilhos como um metrô vertical está finalmente em fase de protótipo, graças a desenvolvimentos recentes em sistemas de tração. Segundo Adrian M. Godwin, presidente da consultoria Lerch Bates, da Inglaterra, o protótipo pode custar € 10 milhões – o sistema espera atrair o interesse de algum fabricante de elevadores.

Godwin aponta que o novo sistema Vertrak pode ocupar 60% menos espaço do que elevadores tradicionais operando numa única zona e 30% menos espaço do que um sistema com duas zonas de atendimento. Além disso, permite que carros múltiplos circulem para cima e para baixo em poços adjacentes que hoje somente funcionam em sentido único. Os elevadores podem subir pelo poço que está operando no sentido ascendente, cruzar transversalmente e retornar pelo poço operando no sentido descendente.

Especialistas do sistema tradicional de elevadores alegam que há sérios riscos de segurança, especialmente na frenagem dos carros que estão a alta velocidade, indispensável nos megaedifícios. Mas os criadores do Vertrak respondem que estes riscos já foram solucionados.

Ranking

Em setembro pa
ssado, o CTBUH reconheceu oficialmente o Princess Tower, em Dubai, de 413 m, recém-concluído, como o edifício residencial mais alto do mundo. Na fila para ocupar o segundo posto no topo do ranking dos megaedifícios residenciais está o Shanghai Tower, de 632 m, a ser entregue em 2015.

A entidade prevê ainda que o Kingdom Tower, em Jeddah, a ser concluído em 2017, assumirá a liderança entre todos os megaedifícios, ficando em segundo lugar o Burj Khalifa. Os trabalhos de fundações já começaram no sítio do Kingdom Tower, que vai custar nada menos que US$ 1,2 bilhão (valores de hoje).