É cedo para dizer que tal mudança é significativa. Embora represente 2% da matriz energética, uma vez que a energia hidrelétrica constitui o maior potencial – 70% do volume disponibilizado -, os parque eólicos se expandem de Norte a Sul. E rapidamente

Nildo Carlos Oliveira

Amudança não é apenas de postura. Corresponde também a uma mudança política diante das questões socioambientais que tomam conta do mundo e que aqui se reflete no crescimento do segmento, dadas as plenas condições geográficas, topográficas e climáticas favoráveis.

O Brasil ainda tem muito a fazer no incremento das construções das usinas hidrelétricas para aproveitamento dos enormes recursos hídricos, especialmente no Norte, onde numerosas bacias hidrográficas já estão inventariadas. Do total dos 115 mil MW instalados até recentemente, só as empresas do Grupo Eletrobrás respondiam por mais de 40 mil, chegando a 37% do total daquela capacidade.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) acredita que nos próximos dez anos serão instalados – e acrescentados ao sistema – volume adicional superior a 35 mil MW. Cerca de dois terços desse volume correspondem a projetos que já foram leiloados e se encontram em construção (caso de Jirau e Santo Antônio). O restante se refere a outras usinas, dentre elas, Belo Monte.

Mas o Brasil dispõe, dentre outras reservas, das usinas do Complexo Tapajós, que ainda não foram iniciadas. Caso o governo implemente tais empreendimentos, precisará desembolsar nada menos que R$ 214 bilhões, até 2019, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia. Esses recursos deverão ser aplicados também em linhas de transmissão.

Ao lado dos programas para a continuidade da exploração de sua matriz tradicional, o País se volta para as fontes alternativas, dentre elas, a energia eólica. Ainda no dia 23 de agosto próximo, conforme portaria do Ministério de Minas e Energia, vai acontecer o leilão de energia de reserva exclusivo para projetos eólicos. Esse leilão tem em vista vender energia para entrega a partir de setembro de 2015. É um passo a mais nos avanços para polarizar interesses em torno desse segmento energético.

E, contudo, nada prognosticava velocidade dessa natureza, desde que a primeira turbina de energia eólica foi instalada na ilha de Fernando de Noronha em 1992. Mas, depois deste incipiente empreendimento, tudo mudou. Os ventos eólicos eram e continuam favoráveis.

Com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), do governo federal, em 2004, os parques eólicos deslancharam. Dados do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) mostram que o potencial de geração de energia eólica no Brasil pode chegar a mais de 135 mil MW.

Evolução

O engenheiro Liu Ming, diretor da Desenvix Energias Renováveis, que já implantou três usinas eólicas de 30 MW cada, no Centro-Oeste baiano, e uma usina de 34,5 MW em Sergipe, diz que tudo caminha para o maior êxito na construção de parques eólicos. Afirma ele: “A comunidade técnica brasileira teve, sim, avanços importantes no domínio da tecnologia de aproveitamento do potencial eólico. Além de treinamento no exterior, por iniciativa de algumas instituições privadas, e mesmo de algumas universidades brasileiras, foram criados cursos de especialização nesse segmento”.

O engenheiro informa que, a rigor, não existe dificuldade maior na definição das soluções de engenharia para a montagem das estruturas dos parques eólicos. “O próprio cálculo estrutural (metodologia de cálculo e dimensionamento das estruturas de fundação) é do domínio dos especialistas brasileiros, em comparação com os métodos e critérios adotados pelas instituições norte-americanas e europeias.”

Ele destaca que, quanto à execução das estruturas, a técnica de concretagem das bases para a instalação dos equipamentos pesados é também do completo domínio das principais empresas de construção pesada no Brasil. E, quanto à montagem, incluindo as torres e as pás, o Brasil tem recebido contribuições de empresas europeias que vêm se instalando aqui e estão habilitadas para o treinamento de mão de obra.

Ele salienta também que o Brasil conta atualmente com cinco indústrias de aerogeradores já instaladas, com duas indústrias de pás em plena operação e com algumas fábricas de torres metálicas do padrão necessário a aerogeradores com mais de 80 m de altura.

Os riscos hoje dos parques eólicos consistem no fato de não estarem sendo instaladas linhas de transmissão compatíveis com a demanda.

Fonte: Revista O Empreiteiro