Um dos edifícios que compõem a unidadede fabricação de estruturas metálicas, nocomplexo do Prosub, em Itaguaí (RJ)

Marinha do Brasil realiza programa de submarino nuclear no valor total de R$ 17 bilhões

Guilherme Azevedo

Um conjunto de grandes obras em Itaguaí, no litoral sul fluminense, está transformando em realidade o sonho maior da Marinha do Brasil, alimentado desde a década de 1970: construir, no País, submarinos com propulsão nuclear. O megaprojeto leva o nome de Programa de Desenvolvimento de Submarinos, conhecido pela sigla Prosub.

Perfaz a construção de um complexo industrial com base naval, estaleiro e unidade de fabricação de estruturas metálicas (Ufem), além da fabricação inicial de quatro submarinos convencionais (com propulsão diesel-elétrica) e de um submarino nuclear. O investimento previsto é de € 6,7 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões), valor superior a duas obras de transposição do rio São Francisco, por exemplo.

Com a implementação do projeto, o Brasil vai ingressar no seleto grupo de nações com domínio da tecnologia nuclear aplicada a submarinos, de que fazem parte hoje os Estados Unidos, a Rússia, a França, a Inglaterra e a China. Ter um submarino nuclear no arsenal significa elevar exponencialmente a capacidade de vigilância dos mares. Diferentemente de seus pares com propulsão diesel-elétrica, que de tempos em tempos precisam emergir para captar oxigênio e recarregar baterias, tornando-se alvo mais facilmente identificável, o submarino com propulsão nuclear, ao menos em tese, pode ficar submerso por longuíssimo tempo. Para economizar energia e tornar as aparições na superfície sempre raras, os submarinos convencionais se locomovem muito vagarosamente e têm, por isso, capacidade de ação reduzida. O submarino nuclear, por sua independência energética, pode se locomover com velocidade e percorrer longas distâncias em curto prazo, ampliando seu poder de surpresa. É, no dizer dos oficiais, o bem mais complexo existente, com número de peças oscilando entre 800 mil e 900 mil, superior até mesmo, dizem, à complexidade de uma nave espacial, como a Challenger.

Cooperação Brasil-França

O maior contrato militar internacional do Brasil nasceu de um acordo de cooperação firmado pelos governos brasileiro e francês em dezembro de 2008. Pelo acordo, a França está transferindo a tecnologia do projeto e construção dos submarinos convencionais (S-BR) e do desenvolvimento do projeto do submarino nuclear (SN-BR) e fornecendo informações técnicas para o projeto do estaleiro, da base naval e da Ufem. O contrato exclui a transferência de tecnologia de propulsão nuclear (enriquecimento de urânio), mas permite o intercâmbio entre profissionais brasileiros e franceses envolvidos no trabalho, na sede da fábrica da Direction des Constructions Navales et Services (DCNS), que é a figura jurídica francesa no Prosub, em Cherbourg.

Os submarinos que serão construídos no Brasil seguem o modelo da classe Scorpène, da DCNS. Substituirão a atual frota brasileira de cinco submarinos, de tecnologia alemã. Cada um dos novos submarinos convencionais tem custo estimado em € 500 milhões (R$ 1,3 bilhão). O do submarino nuclear é de € 2 bilhões (R$ 5,2 bilhões). A expectativa da Marinha é concluir o primeiro submarino convencional até 2015, para que seja testado por dois anos e lançado oficialmente em 2017.

Os outros três submarinos com propulsão diesel-elétrica devem estar em atividade até 2023. O projeto do submarino nuclear brasileiro deve estar concluído em 2015, para ser construído até 2023 e estar operante em 2025.

Obras

O primeiro grande equipamento do complexo do Prosub em Itaguaí foi inaugurado em março último. A unidade de fabricação de estruturas metálicas (Ufem) tem 96 mil m² de área total, com 57 mil m² de área construída e pé-direito de 40 m. Fica estrategicamente próxima à Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em atividade desde a década de 1980 e especializada na fabricação de componentes pesados para projetos nucleares, como usinas. A Nuclep será a fabricante dos grandes anéis de aço reforçado do casco resistente dos submarinos.

A Ufem responderá pelas primeiras etapas de construção das embarcações. O complexo industrial ali se constitui de edificações contíguas, com funções específicas. Entre elas, estão a oficina principal de montagem, que realizará a junção dos anéis recebidos da Nuclep, para a formação do casco dos submarinos, e múltiplos serviços de soldagem e instalação de estruturas internas; a oficina de estruturas, que fabricará todas as estruturas metálicas (exceto os cilindros do casco), como estruturas externas, conveses internos e tanques externos de lastro; a oficina de eletricidade, que preparará toda a estrutura elétrica, incluindo os equipamentos que serão instalados a bordo, como cabos e conectores; e laboratórios de ensaios não destrutivos, com duas câmaras para gamografia e raio X, para identificar possíveis defeitos ou rachaduras nas peças. A estrutura da Ufem ainda apresenta oficinas de marcenaria e isolamento térmico, de mecânica, de tubulações, de dutos e de pintura, pátio de estocagem de chapas de aço e escola de soldagem.

Segundo o projeto da Marinha, após a conclusão dos trabalhos na Ufem, as seções e os berços dos submarinos serão transferidos, por uma estrada e um túnel (este com extensão de 700 m e seção com 14,5 m de largura e 14,5 m de altura), para o dique seco do estaleiro, onde os berços e os equipamentos serão instalados nas seções, que, por sua vez, serão unidas umas às outras. Só aí, então, serão iniciados o lançamento e os testes em mar.

A edificação da Ufem, assim como de todo o complexo em Itaguaí, está a cargo da Construtora Norberto Odebrecht. O projeto prevê a construção de uma base naval, subdividida em áreas sul e norte, sendo esta última destinada a acomodar os oficiais da Marinha, em 103 mil m2 de terreno. Essa área conterá um centro de descontaminação radioativo, rodoviária, hotel e um centro de intendência da Marinha, entre outras instalações. A área sul da Base Naval abrigará o núcleo diretamente envolvido na operação dos submarinos convencionais e nuclear e ficará contígua ao estaleiro
, em terreno de 487 mil m2. A área norte da futura base hoje ocupa unidades de produção e armazenamento de peças pré-moldadas de concreto, como pilares, para utilização no projeto geral da base e do estaleiro, em andamento.

As obras tiveram início em 2010 e somam agora cerca de 30% de execução. Estima-se que 9 mil trabalhadores atuem diretamente nos canteiros, no pico dos trabalhos, este ano, gerando 27 mil empregos indiretos.

Fonte: Revista O Empreiteiro