João Antonio del Nero*
Nas áreas de maior dificuldade de investimentos, o projeto deveria ser contratado pelo processo de melhor técnica e não de preço mínimo, como é feito.
Quanto a normas, posso afirmar que normas estrangeiras já vêm sendo aplicadas por empresas de projeto que trabalham no exterior, em especial em estruturas metálicas, até em países sujeitos a sísmicos.
No Metrô de Lima foi utilizado o novo processo de cálculo de terremotos – Pushover – além das normas AASHTO e recomendações do ACI – American Concrete Institute.
Sobre as obras para a Copa. As inovações, nessas obras, prendem-se mais ao caderno de encargos da Fifa que impôs critérios rigorosos de segurança e conforto, tratando o torcedor como gente. Soluções de cobertura em mantas e estruturas suspensas foram largamente empregadas aproveitando experiências no exterior. Elas exigem, no entanto, manutenção, o que gera um problema potencial já que não há esta cultura no País.
Em nosso País há boa engenharia sem o que não seria possível o sucesso de empresas brasileiras no exterior onde a competição é de primeiro mundo.
A cultura de investimentos públicos está muito prejudicada por ser muito mal conduzida. Cargos que deveriam ser exercidos por engenheiros de bom nível, em geral, são entregues a leigos por injunções políticas. As obras são definidas com prazos políticos, sem projetos adequados, com ausência de planejamento, sem qualidade e produtividade, gerando um festival de aditivos custosos e, em geral, mal intencionados.
Deslizamentos de encostas poderiam ser reduzidos em áreas ocorrentes. Já existe tecnologia que vem sendo aplicada em muitos países para monitorar movimento de encostas por meio de imagens de satélite e recalques em edifícios próximos a construções enterradas de metrô. Há dados disponíveis desde 1994.
Para que a engenharia não fique como vilã da história diante da má qualidade da fiscalização do poder público, eu sou radical: engenheiros e arquitetos responsáveis por projetos e construções devem assumir integralmente suas responsabilidades quanto ao atendimento de melhor técnica, da legislação em vigor das diferentes prefeituras quanto às exigências de aprovação de projetos, de atendimento das normas de construção, projeto e legislação de meio ambiente. A fiscalização pública seria reduzida, feita por amostragem por poucos funcionários, mas de alto nível e bem remunerados e os responsáveis, engenheiros e arquitetos, seriam desqualificados e impedidos de praticar a profissão em caso de fraude.
O CREA teria que sair do marasmo em que atua e já que possuem elevados recursos, ter consultores adequados para controlar o bom uso da engenharia reduzindo ao mínimo os trabalhos dos Tribunais de Contas, estudando e propondo tabelas de preços unitários em trabalhos especiais de engenharia, tais como: obras de metrô, grandes pontes, aeroportos, portos, barragens, entre outros.
*João Antonio del Nero, presidente da Figueiredo Ferraz Consultoria de Projetos
Fonte: Revista O Empreiteiro
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