Localidade é exemplo do quanto a aviação regionalno Brasil tem potencial de crescimento, mas investimentos aeroportuários são importantes para solidificar rotas
Augusto Diniz – Resende (RJ)
No começo foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a maior da América Latina. Com o tempo, metalúrgicas também se estabeleceram na região, como Votorantim, Armco Staco e Ibrame (ambas este ano). Outro setor que se firmou na localidade foi a indústria química, como a Novartis, Clariant e Du Pont. E ainda montadoras, como a MAN-Volkswagen, Peugeot, Hyundai (este ano) e a Nissan (obras da unidade em fase final), e toda a sua cadeia – outras marcas, como a chinesa Foton, estudam se juntar a esse grupo, apontando o contínuo crescimento que vive o território.
A escolha da região para construírem suas unidades industriais não foi à toa. Ela fica às margens da Rodovia Dutra, quase no meio do caminho entre as duas principais cidades brasileiras (Rio e São Paulo), e perto de outro centro consumidor importante do País: Minas Gerais. Ainda, grandes portos brasileiros, como o do Rio de Janeiro, Itaguaí, São Sebastião e Santos, não ficam muitos distantes do local.
É de imaginar que o Sul Fluminense, o maior polo econômico do estado do Rio de Janeiro (depois do Grande Rio), que envolve cidades como Itatiaia, Resende, Porto Real, Barra Mansa e Volta Redonda, já tivesse consolidado um voo comercial de companhia aérea para algumas capitais brasileiras. Mas a realidade é outra.
Depois de a TAM, Itapemirim (a famosa empresa de transporte rodoviário chegou a possuir uma companhia aérea) e TRIP não conseguirem firmar transporte aéreo regular para a região, agora é a vez de a Azul fazer nova tentativa. A empresa inaugurou voo diário (segunda a sexta-feira) do aeroporto de Viracopos para Resende em maio deste ano.
“Aqui é uma das poucas regiões do Brasil que se encontra no topo da logística. Mas em termos de mundo, você tem problemas conjunturais”, explica Henrique Martins Rocha, coordenador do curso superior de Tecnologia em Logística da Associação Educacional Dom Bosco, uma das mais tradicionais universidades do Sul Fluminense.
De acordo com o engenheiro, a inoperância do aeroporto é um exemplo disso. Henrique conta que o terminal aeroportuário de Resende tinha até possibilidade de transporte de carga, como componentes eletrônicos leves, que possui alto valor agregado e justifica o transporte aéreo. “Quando se pensa nas montadoras, elas têm cada vez mais componentes eletrônicos embarcados. As empresas gastam bem menos tempo para chegar aqui”, menciona, acrescentando que a Rodovia Dutra já se encontra saturada de tráfego em vários de seus trechos.
Há ainda o problema com outro modal, como o trem, lembra o acadêmico. A linha que passa na região, por exemplo, atende quase que exclusivamente às operações da CSN – não à toa que ela é concessionada à MRS, braço logístico da siderúrgica (o projeto do TAV brasileiro propõe ainda uma estação em Barra Mansa ou Volta Redonda).
Reformas
O aeroporto que costuma receber voos comercias na região – incluindo o da Azul agora – é o de Resende. Um dos mais antigos aeroportos brasileiros, ele sempre foi conhecido por receber exibições de paraquedismo e as Forças Armadas – a Academia Militar das Agulhas Negras ocupa extensa área em Resende.
A pista asfaltada possui 1.300 m e tem autorização para receber aeronaves de pequeno e médio porte. O atual terminal de passageiros é bastante acanhado e funciona em uma antiga edificação. É o único aeroporto com operação comercial no Vale do Paraíba, além do de São José dos Campos (SP).
O aeroporto, que pertence à União, é administrado pela prefeitura. Agora, com investimentos que foram feitos recentemente e outros que deverão chegar, dentro do Programa de Investimentos em Logística – Aeroportos, do governo federal, a expectativa é que finalmente se consolide a aviação de passageiros na próspera região.
“O aeroporto ficou abandonado por um tempo e chegou a ficar lacrado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)”, lembra Edgar Moreira, secretário de Indústria, Tecnologia e Serviços de Resende. Ele critica as gestões municipais anteriores pelo abandono do terminal aeroportuário.
A secretaria, que capitaneia as melhorias no aeroporto, afirma que em 2010 foram feitas obras de segurança e sinalização, o que fez com que a Anac liberasse de novo o uso comercial do aeroporto. Posteriormente, o local foi equipado com brigada de incêndio e posto de abastecimento de aeronave.
“Ano passado, a TRIP (que depois foi adquirida pela Azul) abriu voos regulares para a cidade, mas parou por problemas com a Aeronáutica que fazia treinamento com caças na região”, expõe Edgar. “Mas depois conseguimos a liberação de voo”.
O secretário relata que, no total, serão investidos R$ 27 milhões no aeroporto, dentro do programa do governo federal de estimulo à aviação regional, incluindo R$ 3,5 milhões para balizamento noturno, R$ 1,5 milhão de pintura horizontal e R$ 20 milhões para novo terminal de passageiro, que deverá ter até 500 m².
A licitação para as obras deve se realizar em breve.
Edgar afirma que negocia agora com a Azul para que a rota São José dos Campos e Rio tenha parada em Resende, fazendo com que a região também possua ligação aérea com a capital do estado e não somente com São Paulo. “A nova linha deve funcionar até o final do ano”, afirma.
A prefeitura de Resende estuda ainda com a companhia aérea Brava abrir mais uma linha à localidade.
Turismo
Outro potencial usuário para explorar o voo de passageiros – além daqueles que se dirigem ao polo industrial – é o de turismo. “A região tem a segunda maior cadeia de hotéis do Rio”, cita o secretário. A prefeitura articula com a Azul Viagens, a operadora da companhia aérea, para promover passeios na localidade, que incluem as atrações do Parque Nacional de Itatiaia, de Penedo e Visconde de Mauá, e das cidades históricas de Bananal e São José do Barreiro.
A aeronave da Azul que pousa em Resende é um ATR de 42 lugares. A secretaria cita 30% de ocupação dos voos a partir da cidade – esta rota da companhia aérea tem o seguinte trajeto: Viracopos – Varginha (MG) – Resende – Viracopos.
A prefeitura diz estar promovendo mudanças também no sistema viário para atender ao crescimento da cidade, o que inclui a construção de três pontes sobre o rio Paraíba do Sul, somando investimentos na ordem de R$ 120 milhões.
Empresários
Todos são unânimes em afirmar que o momento hoje é diferente do passado e que a região vive um desenvolvimento econômico maior e diversificado. Por conta disso, acredita-se que finalmente a aviação comercial terá longa vida na localidade.
“Não sei se vai ser proveitoso para o povo de Resende. Para a indústria local é interessante”, afirma Antonio Carlos Sinhoreli Rinaldo, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Resende (ACIAR). O empresário vê com bons olhos a iniciativa, mas se preocupa com a manutenção da companhia aérea na cidade. “Tem o custo da loja, de manter pessoal aqui, de cuidar da área no aeroporto”, relaciona.
Antonio Carlos acredita que o aeroporto em funcionamento atrairá investidores à cidade e incrementará o comércio. Ele aponta um maior número de locadoras de carros na cidade por conta disso – é comum passageiros desembarcarem em aeroportos de cidades médias no Brasil e alugarem carro para se locomover em terra.
“Há dez anos me lembro de ter feito um voo sozinho vindo do Rio para cá em um avião da TAM”, recorda Thirso Naval Colvero, diretor da ACIAR. Apesar de ser um luxo para o passageiro, esse tipo de ocorrido pode ser um sinal de fracasso de uma rota de voo regional. Mas no Sul Fluminense, ao que tudo indica, isso não mais acontecerá.
Fonte: Revista O Empreiteiro
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