Nildo Carlos Oliveira

Houve uma falha no leilão do pré-sal que resultou no compartilhamento (vamos chamar assim) da área de Libra com um único consórcio, formado pelas empresas globalizadas Shell, Total, CNPC e CNOOC (chinesa).

Já achava estranho a aquiescência do governo brasileiro a um único concorrente. Por que um único concorrente? Talvez esteja por aí a raiz da falha. Houve açodamento, precipitação. Mas, por que a pressa, se demoramos tanto tempo – e ponha tempo nisso – para assimilarmos a ideia, tantas vezes refutada desde os anos 30 do século passado, de que não tínhamos petróleo? Quantas prisões de brasileiros íntegros, dentre eles Monteiro Lobato, aconteceram nesse país, acusados do crime de afirmar que aqui havia petróleo? E, agora, com a descoberta confirmada e anunciada do pré-sal, entramos no primeiro barco de empresas estrangeiras para compartilhá-lo?

E, por que a precipitação? Acaso a necessidade urgentíssima de fazer caixa? E, para quê, se os benefícios só se projetarão daqui, talvez, a cinco, dez anos? As respostas estão na capacidade de reflexão de cada um.

A convicção de que houve açodamento fica de certo modo alicerçada na entrevista do geólogo Guilherme Estrela, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, publicada no jornal Folha de S. Paulo, edição de hoje. Estrela é um homem sóbrio, um técnico criterioso, cuja trajetória na Petrobras tive a oportunidade de acompanhar a partir do meu trabalho, na revista de engenharia O Empreiteiro. E é importante atentar para algumas de suas afirmações, naquela entrevista:

“Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos 41,65% (parte do petróleo a ser entregue ao Estado brasileiro). Como geólogo, não entendo como chegaram a essa precisão!”

“Energia, especialmente petróleo e gás natural, é fator crítico da soberania e do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico de qualquer país”.

“A Petrobras, que mapeou a estrutura de Libra e perfurou o poço descobridor, como empresa controlada pelo Estado, deveria ter sido contratada diretamente como permite o marco do Pré-Sal”.

Enfim, a falha no leilão reflete a falta de debate com a sociedade. Houve debate interno, mas não aberto, amplo, de forma a estruturar um pensamento, uma transparência, junto às representações diretas da sociedade.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira