Poderá chegar um tempo em que prospectar os caminhos subterrâneos da água será uma tarefa permanente – e eventualmente impossível – de equipes de arqueólogos, geólogos e outros especialistas. Munidos de mapas e de ampla parafernália tecnológica, eles vão se aventurar num trabalho insano. Numa tarde, esgotados, apontarão para um sítio e um deles, o mais velho, comunicará: “Aqui outrora houve um lago”. Ou indicará: “Sob essa camada espessa de areia e entulho, nesse terreno gretado, esturricado, corria um rio caudaloso”.
Não se trata de um exagero. Tais fenômenos têm ocorrido. Cursos de água sazonais vêm secando para sempre. Ou demorando décadas para mostrar trechos de leito molhado. Lagoas somem e, com elas, os marrecos, os galos d´água, as cobras, as plantinhas do entorno, tudo. O bicho-homem tem sido capaz de provocar esses desastres. E, enquanto ele existir e exercitar a obsessiva vontade de acabar com tudo, se revelará apto a cometer outras mazelas mais.
Falo isso ao ler, hoje, suplemento do The New York Times, da FSP. Reportagem enfoca o lago Urmia, no Irã, o maior que existia no país. Hoje, ele conserva apenas 5% de suas águas. E, há apenas uma década, navios de cruzeiro cheios de turistas cruzavam por ele. Outros lagos locais também estão secando. Os pássaros migram para não se sabe onde. Nesses sítios os indícios de vida natural estão desaparecendo.
Outra reportagem fala da seca na Califórnia (EUA). Os campos estão ficando torrados. Para suprir populações de água potável só mesmo com a formação de comboios de caminhões. Um professor de ciências da Universidade do Estado diz, na matéria: “Estamos a caminho da pior seca em 500 anos”.
Mas, não é necessário ir tão longe – ao Irã, Califórnia ou a outras regiões do mundo – para constatar que a água está sumindo pelos dedos. No Brasil, em algumas áreas, o problema está à porta de casa. Ou dentro dela. O bicho-homem acha que a água é perene e pode ser encontrada por onde quer que ande. E não lhe bastam os exemplos do dia a dia. Nada o convence de que ela pode chegar ao esgotamento. E vai danificando a natureza e arruinando até as fontes mais subterrâneas. Um dia, ela desaparece. E, então, a vida vai pro brejo.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
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