Para o povo comum das ruas, com o qual convicta e permanentemente me identifico, o governo dispõe, nas mãos, de uma receita óbvia para evitar ou, ao menos, neutralizar as manifestações.
Ele não tem necessidade de invocar qualquer medida autoritária. O Brasil definitivamente não precisa disso. E nunca precisou. Lei de Segurança Nacional, AI-5 e outras legislações restritivas de liberdades públicas, só desfiguraram a imagem democrática de que o País necessitava e continua a necessitar em sua trajetória de desenvolvimento.
Hoje, com as manifestações eclodindo nas praças e com as violências dela decorrentes produzindo vítimas de um lado ou de outro, é justo reconhecer que o copo vai ficando cheio. De repente, o que poderia ser resolvido com um ato, uma ação de governo, vira objeto de conflito. E, bloquear as dissensões, quando os ânimos já estão tensionados no limite, pode tornar-se tarefa de difícil realização. E, aí, a coisa pega mesmo.
Como evitar os conflitos? Primeiro, identificando as suas causas e, segundo, superando-as a partir da adoção de providências práticas. Por ora, não há notícias consistentes de que o governo haja atendido, no todo ou em parte, as reivindicações colocadas naquela primeira manifestação de junho do ano passado. Se já o tivesse feito ou se estivesse complementando medidas com esse fim, o fantasma das manifestações estaria sendo exorcizado. Entendemos que o trabalho é difícil. Demanda continuada costura política e mexe com a pedra de toque dos partidos que funcionam com algum verniz ideológico.
No bojo das reivindicações estava a exigência para que não houvesse aumento do preço das passagens do transporte público. Como aumentá-lo sem fornecer a contrapartida da boa qualidade, do conforto dos passageiros, das operações com o cumprimento da horário nos percursos?
Além do que, havia a solicitação para que, a exemplo do que foi prometido, não se mexesse no dinheiro público municipal, estadual ou federal, para a construção de arenas esportivas. O dinheiro acaso disponível deveria ser colocado em favor da construção das obras de mobilidade urbana: acessos viários, metrôs, linhas de ônibus e por aí em diante.
E, além desses e de outros fatos correlatos, poderia parecer inaceitável a abertura da torneira do dinheiro público para super-salários, dentro de uma realidade marcada pelo salário mínimo; pela falta de pagamento de precatórios; do aumento da inflação e de um noticiário que dá conta de gastanças no legislativo, enquanto obras de saneamento prosseguem insatisfatórias e a situação de hospitais públicos continua pela hora da morte. Diante disso, o que se verifica é o seguinte: a melhor maneira de acabar ou, ao menos, neutralizar as manifestações, é ouvir o povo nas esquinas.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
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