Nildo Carlos Oliveira
Contudo, ela foi se consolidando. Ganhava corpo a cada edição da revista, como resultado da necessidade de manter registrados os valores e as experiências observados em cada obra objeto de reportagem em todas as regiões brasileiras. Hidrelétricas, pontes, viadutos, rodovias, ferrovias, aeroportos, portos. Inovações na tecnologia do concreto, no emprego de componentes metálicos, na diversidade dos materiais testados e aprovados.
Tudo vinha sendo coberto mês a mês, na trajetória da revista que já ultrapassou os 50 anos de atividades. Era uma história viva constatada nos canteiros abertos de Norte a Sul por engenheiros-residentes, projetistas, pioneiros e trabalhadores, fosse durante a construção do Complexo Urubupungá-Ilha Solteira, fosse à margem da represa de Itaipu; ou nos acampamentos das rodovias de penetração, como a Transamazônica, a Belém-Brasília e Manaus-Porto Velho; ou a Imigrantes e a Bandeirantes, onde as tecnologias modernas venciam obstáculos seculares naturais.
Além da memória palpável, recolhida nas fontes primeiras, havia aquela obtida nas pesquisas, nos relatórios e em bibliotecas universitárias. Tratava-se de uma memória que poderia ser obtida em fontes diversas, a fim de compor uma história, ou uma multiplicidade de histórias.
Quando a editora decidiu, por intermédio de Joseph Young (idealizador) e meu, Nildo Carlos Oliveira (editor), escrever e publicar o livro 100 Anos da Engenharia Brasileira, houve o primeiro e duro golpe de realidade: o País se ressentia de uma memória da engenharia brasileira em registro sólido. Muitas das empresas de engenharia então consultadas não preservavam nem sequer a própria história. E, as que existiam, possuíam mais uma feição de marketing institucional, do que de alguma coisa efetivamente ligada à historiografia e menos ainda à iconografia. Os nomes dos engenheiros pioneiros caíram no esquecimento.
Muitas vezes defendi a necessidade de criar uma fundação: a Fundação Memória da Engenharia Brasileira. Até conversei com alguns engenheiros sobre essa possibilidade. Mas os obstáculos apontados eram muitos. Sem falar na suposição de interesses ligados a uma eventual sinecura. Assim, uma ideia que poderia ajudar na feitura de um projeto que deveria merecer a atenção do mercado, das empresas, de pesquisadores, transferia-se para futuro remoto e indefinido. Diferentemente do que ocorria no interior da revista, onde o diretor editorial Joseph Young procurava encontrar um meio de colocá-la de pé. Afinal, engenharia tem memória e, memória, pressupõe terreno propício para a fertilização da cultura — a cultura da engenharia brasileira. Por que não?
Site, o primeiro passo
E, foi assim, no embalo dos diálogos entre Joseph Young e mim que a ideia encontrou um caminho moderno para prosperar: a internet. Inicialmente o projeto prevê o site Memória da Engenharia Brasileira (MEB), www.memoriadaengenharia.com.br, que abrigará o conteúdo do livro 100 Anos da Engenharia Brasileira, e da edição Pioneiros da Engenharia Brasileira da revista O Empreiteiro e de outras publicações próprias ou de material obtido em fontes variadas. O objetivo é seguir em frente, para além do que ele sugere: vai narrar a história dos pioneiros da engenharia brasileira; das soluções técnicas desenvolvidas aqui ou em outras regiões do País, mas que confluíram para as obras de engenharia que marcaram época no Brasil. E irá muito na linha de defesa de postulados dessa engenharia, com as críticas inerentes a procedimentos que em muitos casos expuseram suas vulnerabilidades.
Seja como for, o MEB será uma ampla plataforma de dados e informações disponíveis a estudantes, professores, pesquisadores, entidades setoriais e outras fontes interessadas.
Ele aproveita, com esse fim, o acervo da revista O Empreiteiro, consolidado em mais de meio século de cobertura especializada. Manterá a história seletiva das mais importantes obras de engenharia do passado e cuidará do registro das obras atualmente em construção, ou recentemente construídas, e que poderão fazer parte dessa história, no futuro.
A criação do MEB é uma decorrência natural da história da revista. Ela foi a primeira a criar, nos anos 1970, uma seção pormenorizada para divulgação do inventário das hidrelétricas do País: a primeira a criar um prêmio para a revelação de talentos — Prêmio Criatividade da Engenharia — que ensejou a amostragem de valores humanos consideráveis, manifestados em atos criativos em favor da engenharia brasileira; que visitou a maior quantidade de canteiros de obras do final dos anos 1960 até hoje. E que ao longo dos anos continua a revelar talentos e a engenhosidade das empresas, nos momentos de baixa ou alta tensão econômica, de modo a estimular o crescimento das empresas dedicadas a essa atividade, com as edições anuais 500 Grandes da Engenharia e Ranking da Engenharia Brasileira.
Inicialmente o site estará estruturado com diversas seções. Em linhas gerais serão as seguintes: História; Personalidades da Engenharia; Pioneiros; Obras na área da Energia: os grandes aproveitamentos hídricos, de Paulo Afonso aos demais; Transporte urbano: os metrôs no Brasil; as primeiras experiências com a Linha Norte-Sul em SP; Rodovias; Obras de arte especiais (entre elas a Ponte Rio-Niterói e as pontes estaiadas brasileiras); Ferrovias; Hidrovias; Portos; Aeroportos: Obras da Petrobras; Saneamento (as obras dos maiores sistemas); Parques eólicos; Evolução dos edifícios corporativos; Edificações públicas para fins administrativos (Cidade Administrativa “Tancredo Neves”); as grandes obras de arquitetura e engenharia (Masp e Memorial da América Latina)
e obras brasileiras no exterior; obras da indústria naval e ainda as seções Curiosidades da história da engenharia, Biblioteca e Banco de Imagens.
Este site é a ligação do passado com o futuro. Uma ponte na história da engenharia.
Todos os profissionais da engenharia, empresas e instituições do setor estão convidados a participar do projeto, compartilhando registros históricos e resgatando fatos pouco conhecidos.
Fonte: Revista O Empreiteiro
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