Somado ao edifício-garagem e à ampliação do pátio de aeronaves, conjunto de obras exige capacidade de gestão
Guilherme Azevedo
A primeira fase de investimentos em obras de ampliação e melhoria das instalações do Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas (SP) alcançou 80% de execução em janeiro último. O balanço é da concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, que administra o sítio desde 2012. Somando R$ 2,06 bilhões de recursos, o primeiro grupo de intervenções precisa estar pronto até maio deste ano, de modo a atender ao crescimento de demanda esperado com a realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil. Sete seleções nacionais vão viajar por Viracopos, entre elas, a de Portugal.
O ritmo de trabalho no canteiro é intenso: são 7,5 mil trabalhadores atuando em dois turnos de dez horas. No caso do novo terminal de passageiros em execução, que permitirá o atendimento inicial de 14 milhões de passageiros ao ano, um esforço de gestão se exige. Vão saindo paulatinamente os trabalhadores incumbidos de intervenções civis e chegando os especializados na execução dos acabamentos. “Nosso grande aprendizado foi aí: na conclusão da parte civil em sua interface com o acabamento, para um não atrapalhar o outro”, destaca Gustavo Müssnich, diretor de engenharia do consórcio.
Aproveitamento da luz natural
A execução da estrutura do terminal combina três métodos construtivos: peças de concreto moldadas no próprio canteiro; peças pré-moldadas de concreto; e steel deck, com lançamento de concreto nas estruturas. A cobertura do futuro terminal se projeta em aço, vidro e concreto. Ali, um elemento sobressai com altivez: os 35 pilares metálicos com estrutura de árvore, alcançando a altura de 32,40 m cada.
Em 33 deles haverá, no topo, um painel quadrado de vidro com células fotovoltaicas, de 10 m x 10 m de área, formando uma claraboia com área total de 3,3 mil m2que garantirá, a um só tempo, luz natural ao terminal e a disponibilidade de 2 MW de capacidade instalada, para alimentar o edifício. Os vidros fotovoltaicos, com 10% de transparência, vêm da China. A montagem do vidro com o caixilho de alumínio será realizada no local, pela empresa Martifer, seguindo projeto da Soliker, companhia de engenharia de origem espanhola. O aproveitamento da energia segue o projeto da Eudora, especializada em energia solar fotovoltaica.
“É um projeto orientado para a sustentabilidade ambiental”, qualifica Luiz Alberto Küster, diretor-presidente da Aeroportos Brasil Viracopos. As diretrizes gerais foram definidas em conjunto com a empresa holandesa Naco, Netherlands Airport Consultants, que já prestou serviços a importantes empreendimentos aeroportuários internacionais, além do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã (Holanda). O projeto de Viracopos também conta com a consultoria da Flughafen München GmbH (FMG), operadora do aeroporto de Munique (Alemanha).
A história da requalificação e preparação do aeroporto para a Copa tem um elemento central: o prazo. Açodada pelo tempo curto, a gestão tem de se mostrar eficiente, precisa. O regime de construção escolhido em Viracopos foi o fast track, isto é, com o projeto básico, o detalhamento do projeto executivo e a construção ocorrendo praticamente em paralelo. “Não existe exemplo no mundo de construir um conjunto de obras como esse em 20 meses. É um desafio enorme e nossa engenharia pode se orgulhar disso”, confia Küster. “Ao contrato EPC (engineering, procurement and construction), acrescentamos o M, de management.” As obras comandadas pelo concessionário tiveram início em agosto de 2012, seis meses depois de ter vencido o leilão com lance de R$ 3,821 bilhões (ágio de 159,75%).
Ambiente de testes
A tarefa complexa de executar com qualidade e rapidez tem recebido o auxílio de um conjunto de programas de pré-teste e desenvolvimento, a cargo da empresa Johnson Controls, com matriz nos Estados Unidos. A ferramenta permite a simulação das etapas do projeto construtivo, bem como a integração dos múltiplos sistemas informatizados para a operação aeroportuária simultânea. “Com esse sistema nascia a alma do aeroporto”, poetiza o diretor-presidente de Viracopos. Küster frisa que todos os sistemas e equipamentos necessários à operação do futuro terminal já foram comprados e estão no canteiro, exceção feita às longarinas. As 4 mil longarinas (assentos para passageiros), a um custo de R$ 6 milhões, chegam a Viracopos em abril, para pronta instalação.
O grupo de obras da primeira fase de investimentos (serão mais quatro etapas, durante o prazo de concessão de 30 anos, totalizando R$ 9,5 bilhões) inclui também a construção de um edifício-garagem com 4 mil vagas (em janeiro, com 85% de execução total pronta), a oferta de 28 novas pontes de embarque (fingers) e sete novas posições remotas de estacionamento de aeronaves.
A ampliação do pátio de aeronaves, dos atuais 300 mil m2para 700 mil m2, é uma das etapas complexas em andamento. Com a terraplenagem 100% concluída, trata-se agora da execução de camadas sucessivas de sub-base de rachão, brita, imprimação (pintura de asfalto), brita graduada com cimento e, sobre esta última, pavimento de concreto. Nas contas de Küster, serão 28 mil m3de concreto no total, lançados por uma vibroacabadora Wirtgen à velocidade de até mil m3por dia. A expectativa é de que o pátio esteja pronto em meados de abril. As novas 28 pontes de embarque já se encontram no canteiro e a instalação teve início em janeiro, para término também em abril.
O consórcio Aeroportos Brasil Viracopos (formado pela UTC Participações S.A., 45%; TPI, Triunfo Participações e Investimentos S.A., 45%; e a francesa Egis Airport Operation, 10%) já contabiliza bons resultados. Em pesquisa recente da Secretaria de Aviação Civil (SAC), órgão que formula, coordena e supervisiona políticas para o desenvolvimento do setor, o aeroporto de Campinas aparece em primeiro lugar pela primeira vez, na avaliação de passageiros. A pesquisa de satisfação abrange os 15 principais aeroportos do País, no período de outubro a dezembro do ano passado. Viracopos recebeu nota 4,2, num máximo de 5.
O resultado positivo de Campinas, como faz questão de frisar o diretor-presidente de Viracopos, surgiu mesmo sem dispor ainda de pontes de embarque, com o transporte dos passageiros sendo feito por ônibus. Em movimentação de passageiros, Viracopos também avançou e ocupa, agora, a sexta posição no ranking de aeroportos brasileiros, com 9,294 milhões de pessoas embarcadas em 2013 (4,94% a mais que em 2012, quando 8,857 milhões passageiros utilizaram o aeroporto).
Assim que o primeiro conjunto de obras estiver pronto, terá início, então, a fase de testes operacionais do aeroporto ampliado. Uma tarefa sutil e gigantesca, para ver se tudo funciona a contento, com qualidade e segurança. Mas, por ora, é preciso voar com o tempo.
Fonte: Revista O Empreiteiro
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