Imagino que este seja o sonho do prefeito de São Paulo. E do secretário municipal de Transportes. Acaso não seria também o sonho de todos nós?

 

O cenário seria o melhor: amplas avenidas, a começar pela Paulista, sem carros. A São João, sem carros. A Ipiranga, sem carros. E, pelas ruas, largas e estreitas, avançando pela zona Leste, Oeste e Sul, tudo sem carros. Somente espaços para as faixas de ônibus e para as bicicletas.

 

O sonho seria possível, se voltássemos no tempo para refazer e reconstruir os caminhos da cidade, dentro de uma evolução planejada. Mas a cidade cometeu o pecado do progresso anárquico e  a qualquer custo, utilizando o dinheiro público para usos múltiplos, sem priorizá-lo  para a prioridade maior: garantir a expansão da Pauliceia, sem estimular o absurdo da aquisição do carro.

 

Se a realidade houvesse sido outra, os grandes planejadores urbanos do passado teriam previsto uma cidade com modais de transporte eficiente: linhas de metrô levando o cidadão para os quatro cantos da cidade; trens metropolitanos limpos, arejados, funcionando nos horários e contando com manutenções periódicas, para evitar que eles acabassem indo a pique. E ônibus com uma sequência frequente, transportando os passageiros das remotas periferias para os pontos em que eles embarcariam,  se quisessem, em outros modais.

 

Nesse cenário, o canal do Pinheiros voltaria a ser um rio, o que hoje e há muito tempo não é.  E, o trecho metropolitano do Tietê também voltaria a ser um rio. Por esses amplos caminhos d´água – os caminhos que andam, segundo Pascal, circulariam barcos de transporte de passageiros, que contariam com atracadouros limpos, em margens arborizadas e águas transparentes,  bloqueadas aos canais de esgoto a céu aberto.

 

Mas a cidade não nasceu assim, nem cresceu assim. O jeito é complementar o meio de transporte com o veículo particular.

 

O disparate entre a vontade do prefeito, a necessidade do cidadão e a realidade da metrópole é que o carro vai continuar, mesmo que seu espaço seja cada vez mais restrito. Fosse outra a realidade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico  e Social (BNDES) não estaria aprovando (notícia de hoje, sexta-feira), um financiamento de R$ 195,4 milhões para a Ford desenvolver e produzir o novo K, na fábrica de Camaçari, Bahia.

 

Virá o novo carro e, com ele e o prefeito, podemos lembrar a célebre frase do mestre Graça:

“Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social” – no caso, complementando:  … às voltas com as multas da CET.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira