A modalidade de parceria público-privada já é amplamente adotada nas administrações federais, estaduais e municipais de alguns países. A prática aplicada no Brasil, com regras mais claras e duradouras, atrairia novos investidores a setores vitais sob a responsabilidade do Estado – e evitaria cenas diárias de trens
superlotados e pacientes atendidos no corredor de hospitais públicos
 
 

Hay gobierno? Governo precisa existir nas três instâncias de poder para cuidar do sistema previdenciário, da habitação, da mobilidade urbana, da infraestrutura em geral e da saúde pública, prevenindo endemias e estando preparado para enfrentar surtos epidêmicos onde quer que eles se manifestem. Deve, em especial, saber manter a máquina pública em condições adequadas de funcionamento, sem ampliar o dispêndio e sem tornar os órgãos da administração cabides de emprego.
 

As despesas de custeio deveriam respeitar um teto proporcional à receita da arrecadação para não provocar o desequilíbrio fiscal. Segurança pública é outra questão prioritária nos centros urbanos, embora os políticos que circulam em carros oficiais, pagos pelos contribuintes, só considerem esse assunto nos limites da teoria e nada façam para a atualização de legislação pertinente ou melhoria das condições dos recursos humanos e científicos afins. 
 

A iniciativa privada pode operar diversos serviços de infraestrutura, seja sozinha como concessionária ou junto com o governo, mediante contratos de parceria público-privada (PPP), tanto nas instâncias municipal e estadual quanto na federal. Embora, em muitos casos, o governo se revele inapto para resolver problemas cruciais da população, ele insiste em “não largar o osso”, não deixando que o setor privado, mais ágil e com melhores meios de gestão, tente fazer o que ele, lento e sob o peso da burocracia, não consegue realizar. O Estado precisa encolher em algumas áreas mais apropriadas à habilidade dos gestores privados para melhorar sua eficácia, ao invés de tentar se expandir indefinidamente. Qualquer livro de gestão ensina que quantidade de funcionários não significa necessariamente melhoria de produtividade.
 

A iniciativa privada, entretanto, precisa acreditar na sua autonomia de voo e em sua capacidade de ação, ao invés de ficar eternamente reclamando do governo, apontando-o como responsável porque não se empenhou em lançar-se a territórios nunca antes percorridos — sem exigir reserva de mercado, financiamento privilegiado e lucros garantidos. Risco faz parte do negócio conduzido pelos empreendedores privados.
 

O Brasil atual encontra um governo federal envolvido numa crise sem fim. Apesar disso, as administrações estaduais e municipais precisam fazer a sua parte. Nesse cenário complexo, essas duas esferas públicas precisam também se entender com os setores privados para somar forças. E, sem medo de perder o poder, devem abrir mais espaço de interação com os empreendedores privados — inclusive em serviços sociais como escolas e hospitais, a exemplo do Canadá, Inglaterra e Austrália, que desenvolveram marcantes iniciativas na modalidade PPP, em favor da população, nos 20 anos recentes.
 

Embora a modalidade PPP tenha sua origem na Inglaterra, o Canadá é o país que maior sucesso vem obtendo em seu desenvolvimento ao criar um setor maduro nesse campo, tanto em termos de contratantes nos três níveis de governo, como de empreendedores locais e globais, além de um mercado de títulos para levantar funding. Em duas décadas o Canadá concluiu 220 projetos PPPs no valor de C$ 70,38 bilhões, incluindo 49 na área de transportes, 83 na construção de hospitais e centros de saúde e 11 de universidades e escolas. Nestas duas últimas categorias, os projetos são geralmente da administração provincial ou municipal.
 

A edição do Ranking da Engenharia Brasileira 2015 da revista O Empreiteiro mostrou exemplos inspiradores de empreendimentos privados ou concessionados em diversas regiões do País. É essa energia e capacidade gerencial dos gestores privados que propomos injetar nos serviços públicos carentes, cuja melhoria é sempre prometida, mas raramente realizada. Seria sinal de sabedoria o governo reconhecer suas limitações e buscar o aliado capaz de ajudar a resolver problemas cruciais do País: a iniciativa privada.

Fonte: Revista O Empreiteiro