Agência reguladora de transporte urbano de massa pode ser saída, diz especialista na 21ª Semana Metroferroviária

José Carlos Videira

 

A 21ª Semana de Tecnologia Metroferroviária e Metroferr Expo, realizada em São Paulo, no início deste mês, debateu a importância do avanço urgente das redes sobre trilhos para o equilíbrio das cidades, melhoria do meio ambiente e o desenvolvimento da nação. Promovido anualmente pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aemesp) em São Paulo, no encontro foram discutidas questões relacionadas à mobilidade urbana nas grandes cidades, sob o tema central “Avanço das redes: necessidade urgente”.

 

Affonso: Parece até que metrôs são ruins
 

O presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aemesp), Emiliano Stanislau Affonso, enfatizou a necessidade de regras mais claras para a construção de linhas de metrôs nos grandes centros. Segundo ele, há excesso de exigências de diferentes órgãos que contribuem para atrasar projetos de implantação e expansão de linhas. “Parece até que metrôs são ruins para as cidades”, constata.

 

O evento reuniu empresários, profissionais e dirigentes do setor, além de autoridades municipais, estaduais e federais para debater transporte público nas cidades brasileiras. O engenheiro eletricista e consultor de transportes Peter Alouche defende, por exemplo, uma agência reguladora dos transportes de massa no Brasil. Segundo ele, está faltando um organismo independente do governo e da concessionária para julgar conflitos, como o caso do impasse entre o governo paulista e o consórcio Isolux Córsan-Corviam, nas obras da segunda fase da Linha 4 – Amarela, em São Paulo, que culminou com o cancelamento do contrato por parte do governo.

 

Para o presidente da Aemesp, atrasos em obras de metrô geram prejuízos para todos. “Para a população, para o governo e para o consórcio operador da própria linha, que contava com a implantação das duas etapas, no caso da Linha 4 – Amarela”, diz.

 

O consultor lembra que novas concessões na área de transporte de massa estão surgindo em São Paulo, como a Linha 6 – Laranja e a complementação da Linha 5 – Lilás, o que já justificariam um órgão regulador para administrar melhor as concessões nesse setor. Isso, segundo Alouche, sem contar a implantação de sistemas novos de transporte, caso dos monotrilhos das Linhas 15 – Prata e 17 – Ouro, que poderiam passar pelo crivo de uma agência com um corpo técnico capaz de avaliar melhor a segurança do sistema.

 

 

Para Alouche, monotrilho é um sistema que funciona bem no Japão. “Lá está sendo aplicado no lugar e da maneira certa”, diz. Para se chegar até o populoso bairro de Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulista, em vez de monotrilho, como está sendo implantado na Linha 15, Alouche diz que seria mais adequado um metrô ou trem. “Estão colocando um sistema bom no lugar errado”, ressalta.

 

Alouche: Sistema certo no lugar errado
 

O consultor acredita que o sistema de monotrilho, quando ficar pronto, já vai começar saturado. “E saturado a 17 m de altura”, enfatiza. “Não conheço monotrilho para atender essa capacidade e a essa altura.”

 

Ferrovia ligará RJ ao ES

Os governos do Estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo têm um projeto pronto para a construção de uma ferrovia para ligar os dois Estados, que inclui a participação das empresas responsáveis pelo porto do Açu, em construção no norte fluminense, e do futuro porto Central, projetado para ser instalado no município capixaba de Presidente Kennedy, a cerca de 170 km de Vitória. A informação é do subsecretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Delmo Manoel Pinho.

 

Segundo o subsecretário, o projeto da ferrovia Rio – Vitória prevê extensão de 567 km e orçamento de R$ 7,8 bilhões. Ele afirma que já estão prontos todos os estudos de geotecnia e topografia, com projeto conceitual detalhado, acompanhados pelo Ministério dos Transportes e pela Valec. “Esta não é uma ferrovia de power point”, frisa o subsecretário. Pinho conta que o projeto já passou por quatro audiências públicas para discutir a sua implantação e agora busca com o governo federal a autorização para a modelagem econômico-financeira dessa ferrovia.

 

 

Pinho acredita que o projeto possa ser lançado para o mercado no final do ano que vem. Ele estima que demore em torno de um ano para a obtenção de todas as licenças ambientais e se gastem mais quatro anos em obras.

 

“Vamos definir o modelo de concessão e estabelecer o equilíbrio econômico-financeira do projeto”, afirma.  O subsecretário diz que a ideia é deixar claro de onde virão os recursos para a implantação, como é que se pagará o empreendimento e qual a participação efetiva do operador privado da ferrovia.

 

Pinho: Não é uma ferrovia de power point
 

No projeto, Pinho conta que a ferrovia não terá passagem em nível. Também estão previstos pátios a cada 25 km, “para não se fazer uma linha dupla”. De alta capacidade e bitola larga de ponta a ponta, entre o porto do Açu e o porto Central, o subsecretário explica que a ferrovia terá ainda bitola extra para que os trens possam acessar esses dois portos.

 

O subsecretário diz que a ferrovia terá importância estratégica para os dois Estados. Nesse trecho a demanda principal são granéis. “Mas temos cargas industriais, na bacia de Campos, região grande consumidora de peças, partes e equipamentos”, diz Pinho.

 

Os dois Estados planejam ainda outra ferrovia que vai se conectar a outras existentes para levar cargas de grãos e minérios de outros Estados para os portos do Rio e do Espírito Santo. “É um plano de implementação de 20 anos”, ressalta.

 

Fonte: Revista O Empreiteiro