Ela já vinha de longe, dos vales da região de Mariana-MG, depois de provocar oito óbitos (um número que tende a aumentar) e de causar destruição de moradias, comprometer o leito do rio Doce e de seus afluentes e de provocar pânico generalizado nas populações do entorno. Biólogos e outros estudiosos se encontram de plantão, unidos pela perplexidade ocasionada por uma ocorrência para a qual não há justificativa sob quaisquer pontos de vista.
As responsabilidades não serão apenas da Samarco e da Vale. São múltiplas. Do governo como um todo, do legislativo federal e de outros segmentos da sociedade. Houve falhas no monitoramento do comportamento das barragens que se romperam; houve falhas por conta da ausência de um plano de contingência e continua a haver falhas no processo de acompanhamento da tragédia humana e ambiental.
O mar de lama contaminada chegou à foz do rio Doce e se estende 10 km oceano adentro, destruindo habitats naturais – a fauna e a flora. Há praias interditadas, populações sem água potável e trabalhadores sem o seu meio de subsistência.
A ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, diz que está notificando a Samarco para que ela atende as populações afetadas, “de maneira articulada com o governo do Estado e com os municípios”. Mas, tudo o que se fizer, em favor das populações do entorno, sempre será muito pouco e não vai reparar a extensão dos danos passados, presentes e futuros.
Uma barragem, qualquer barragem, tem riscos na composição de sua estrutura. Poderia acrescentar: em especial quando se trata de uma barragem projetada para a finalidade de armazenar água, lama e materiais de rejeito daquela natureza. Ainda não foram apuradas todas as causas do rompimento, mas é óbvio que, em se tratando de barragens com potencial para provocar desastre dessa extensão, jamais poderia ficar sem monitoramento rigoroso, dia e noite. Nesses tempos de avançada tecnologia, falhas dessa ordem é ainda mais inconcebível.
Há outro problema que pode ser creditado à irresponsabilidade do legislativo federal. É ali, na Câmara dos Deputados, que o novo código de mineração fica engavetado, na expectativa de negociações. Haja vista a informação do pesquisador Carlos Bittencourt, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), de que esse documento tem sido utilizado tão-somente como instrumento para a obtenção de “investimentos”. Do outro lado dessa regra do jogo há gente sacrificada e a natureza morrendo.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
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