Projeto de museu no Rio concebido pelo arquiteto espanhol é considerado emblemático pelas incomuns curvas de concreto
Augusto Diniz – Rio de Janeiro (RJ)
Projetistas e construtoras, portanto, estavam diante de uma obra incomum. No entanto, foram em frente, completando as execuções com sucesso cinco anos depois.
A edificação de linhas ousadas de Calatrava tem 15,3 mil m² de área construída, com 340 m de comprimento de uma extremidade a outra – o corpo do edifício possui 205 m de comprimento, com pé-direito de 17 m; o restante da cobertura, em vão livre, avança para os lados sul (70 m, em direção à praça Mauá) e norte (65 m, em direção à baía de Guanabara).
Para elaborar o projeto, Santiago Calatrava inspirou-se em elementos da fauna e da flora brasileira. O alto grau de exigência do arquiteto, que esteve uma dezena de vezes no Rio para acompanhar as obras, é uma unanimidade de quem participou da execução do projeto. Segundo relatos, até rejunte de piso foi observado por ele.
As obras, iniciadas em 2010, foram conduzidas pelo consórcio construtor Porto Rio, formado pela Odebrecht Infraestrutura, OAS e Carioca Engenharia.
Composto por formas curvas e inclinadas, nenhuma igual à outra, exigiu soluções pouco convencionais na obra. Na concretagem, nenhuma fôrma de madeira utilizada foi semelhante à outra. Foram usados 15 mil m³ de concreto para erguer a edificação.
Há vitrais nas faces laterais de estrutura metálica da edificação. São 908 peças de vidro, irregulares e com tratamento especial, cada uma ocupando específico lugar na fachada. Alguns pesando 400 kg e medindo até 3 m x 2,8 m, sofreram intensos testes de arrancamento e estanqueidade. Foram mais de 3.100 m² de vidros aplicados, destinados a controlar a entrada da luz do sol no ambiente.
Estruturas
As estruturas metálicas tubulares da cobertura de alta resistência possuem asas metálicas móveis que acompanham o movimento do sol. São inúmeras aletas instaladas nas asas no topo da edificação.
As aletas possuem painéis fotovoltaicos – sua capacidade de deslocamento ao longo do dia permite ampliar sua eficiência de captação solar. São mais de 6 mil placas de células fotovoltaicas, capazes de gerar 200 KW. O conjunto da estrutura metálica tem 4,3 mil t, tratado contra corrosão, devido à proximidade com o mar.
A montagem da superestrutura metálica teve auxílio de pontes rolantes sobre trilhos, de 30 m de altura, e cimbramento. A estrutura foi colocada em partes, sendo elas mantidas apoiadas até a sua total acomodação. O pórtico usado para colocação da estrutura tinha 450 t e foi retirado por uma balsa especial pelo mar, uma vez concluído seu trabalho.
As fachadas laterais, também de estrutura metálica, são responsáveis por sustentar a cobertura do prédio. No total, 12 grandes peças, cada uma pesando 80 t, 50 m de comprimento e 14 m de altura, foram instaladas – em etapas individuais de dois dias, em média. As peças metálicas das fachadas estão apoiadas na estrutura de concreto.
No canteiro, foi montado pipe shop para auxiliar a instalação da estrutura metálica, que depois também teve que sair pelo mar da baía de Guanabara. Devido ao limitado espaço de onde foi erguido o museu, os barracões do canteiro chegaram a mudar quatro vezes de lugar.
No final da obra, 30 plataformas aéreas articuladas ainda estavam checando os últimos detalhes da cobertura e fachadas laterais. O seu alto grau de detalhes e emendas exigiu checagem de cada item.
A fundação do museu teve 2.500 estacas metálicas, tipo raiz e secantes, executadas independentes do píer existente, onde foi construído o museu.
Sustentabilidade
Há pelo menos 20 sistemas prediais instalados na edificação, entre eles: água de reúso, captação de água do mar, refrigeração e ar condicionado, incêndio (combate e detecção), CFTV, automação, elétrica e outros.
Além do aproveitamento da luz solar na cobertura da estrutura, há outros recursos sustentáveis. No subsolo do espaço, chamado de galeria técnica, há reservatórios de água do mar, pluvial, de reúso e potável.
A água de reúso será utilizada para irrigação e os sanitários. Já o sistema de ar condicionado empregará as águas da baía de Guanabara para o seu resfriamento, fornecidas por um sistema de captação. As águas da baía serão usadas também nos espelhos d’água que cercam o museu.
As obras seguiram metas de controle da saída de sedimentos, organização e limpeza, além de controle de erosão, sedimentação e poluição. As medidas visavam buscar certificação Leed ao empreendimento.
Oito espelhos d’água do mar, jardins e ciclovias circundam o museu, em área de 30 mil m² – parte está em espaços cobertos nos lados sul e norte da cobertura.
O local possui ainda auditório de cerca de 400 lugares no piso térreo, com área de exposição temporária no mesmo piso; no segundo andar, encontra-se a área de exposição permanente sobre o futuro da humanidade, com curadoria do físico e doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira. São, no total, 6 mil m² de área de exposição. Os dois pisos são conectados por rampas.
Cerca de 1 mil pessoas trabalharam no pico das obras, no meio do ano. O investimento foi de mais de R$ 200 milhões.
Ficha Técnica – Museu do Amanhã no Rio de Janeiro (RJ)
– Proprietário – Prefeitura do Rio de Janeiro
– Projeto – Santiago Calatrava (concepção) / Ruy Rezende Arquitetura (desenvolvimento do projeto de arquitetura e gerenciamento)
– Cálculo estrutural – Flavio D’Alemberg (Projeto Alpha Engenharia)
– Detalhamento e projeto BIM – Fernandes Arquitetos Associados
– Consórcio construtor – Odebrecht Infraestrutura, OAS e Carioca Engenharia (Consórcio Porto Novo)
– Sondagens e percussão – ICS Brasil Consultoria
– Fundações – Brasfond
– Soluções de impermeabilização e proteção – Denver e MC
– Estrutura metálica (fabricação e montagem) – Martifer
– Estrutura de concreto – Engeti
– Fachadas – QMD
– Formas – Peri
– Vidros – Tivitec
Fonte: Revista O Empreiteiro
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