Com a conclusão das obras para a Olimpíada deste ano, no Rio de Janeiro, vai repetir-se, embora em escala diferente, mas em moldura social semelhantemente grave, o cenário pós entrega das obras para a Copa do Mundo: a desmobilização da mão de obra empregada na construção civil. A falta de previsão, para amenizar o impacto do que vai acontecer com o fechamento dos atuais canteiros de obras cariocas, é sumamente olímpica.  Mostra que pouco ou quase nada se aprendeu com o resultado das obras para aquele amargo evento de 2014.

 

Obviamente os governos federal e estadual vão recorrer ao peso da crise para as justificativas da imprevisibilidade. Alardearão que não há investimentos em infraestrutura; que os financiamentos para habitação estão minguando; o segmento imobiliário, nessa área, não avança; o saneamento básico, em especial o tratamento do esgoto doméstico,  está abandonado. E alegarão outras tantas desculpas, amparadas na escassez de recursos. Mas nada esconde a imprevidência. A falta de visão, desde antes da Copa, para prevenir o desemprego massivo em setor tão estrategicamente significativo, merece, no mínimo, nota zero.

 

Reportagem de hoje (13),  na FSP, fala  que a desmobilização nas obras no RJ pode afetar 35 mil trabalhadores.  É um exército de pedreiros, carpinteiros, soldadores, gente especializada na operação de máquinas e equipamentos e em serviços de  impermeabilização, concretagem e em tantas outras atividades afins. Nem sequer estamos falando de engenheiros, arquitetos e de outros profissionais absolutamente especializados.

 

Quando os canteiros para a Copa do Mundo foram encerrados, cenário semelhante se desenhou. Mas, como as obras estavam distribuídas por diversas regiões, as coisas foram se diluindo. Claro que muitos dos trabalhadores comprometidos com aquelas obras puderam ser absorvidos pelas obras destinadas à Olimpíada. O governo teve tempo, desde e anteriormente àquele período, para pensar nas diversas variáveis:  priorizar recursos para algumas frentes de trabalho em saneamento, estimular prefeituras, por intermédio do Ministério das Cidades, para a contratação de obras necessárias à ampliação de equipamentos urbanos, incluindo inserção de novos modais de transporte; modernização de escolas e hospitais e incentivos ao  concurso da iniciativa privada, via PPPs, para que as coisas não parassem. Claro que houve e continua a crise. Mas tem de haver prioridades no tratamento das urgências sociais. Senão, estaremos fechando tudo para balanço.

 

A prefeitura do RJ diz que vai adotar medidas compensatórias com obras em mobilidade e saneamento. Fala-se que há dez projetos nesses segmentos. Mas, ela se preparou e cuidou das adequações necessárias para absorver aquela mão de obra? O que há, por enquanto, são promessas. E o trabalhador precisa ter mais do que isso na hora de colocar comida na mesa para a família.    

Fonte: Nildo Carlos Oliveira