O engenheiro eletricista João Cunha, consultor técnico da Nexans Brasil, explica em artigo como se procede a classificação de cabos elétricos para evitar a propagação de incêndio. Vela o texto a seguir:

O cabo elétrico é o componente destinado a transportar a energia da fonte para a carga em toda instalação elétrica, mas neste processo, existe um ponto de atenção: a tensão elétrica. Para controlar este, que pode ser considerado um potencial perigo para as instalações, os cabos elétricos são produzidos com uma característica de isolação elétrica que protege contra choques elétricos.

No Brasil, o material mais usado para conduzir a corrente elétrica nos cabos é o cobre, que por ser um componente metálico suporta temperaturas elevadas. O mesmo não acontece com os materiais isolantes dos cabos, que podem inflamar se expostos à temperaturas, garantindo uma resistência ao calor muito menor à dos metais. Portanto, a escolha adequada de cabos de acordo com as suas características, como a isolação, é fundamental na proteção passiva contra incêndio, ou seja, na propagação do fogo em casos de emergência.

A primeira grande evolução dos componentes isolantes dos cabos elétricos, em relação à propagação do fogo se deu no final dos anos 70, início dos anos 80, devido a dois acidentes de grandes proporções na cidade de São Paulo: os edifícios Andraus e Joelma.

Esses trágicos acidentes mudaram as práticas e requisitos de segurança, possibilitando que fossem estabelecidos em norma os seguintes critérios para proteção passiva contra incêndio relacionados a cabos elétricos: propagantes, não propagantes e de baixa emissão de fumaça e gases tóxicos. A linha de corte para definir se um cabo propaga ou não o fogo é um ensaio denominado queima vertical.

Neste ensaio, um conjunto de cabos instalados na posição vertical é submetido a um princípio de incêndio e o fogo não pode se propagar pelos condutores. Este ensaio é definido em uma norma que especifica métodos para a avaliação, sob condições definidas, da propagação da chama em feixes montados verticalmente de condutores ou cabos, elétricos ou ópticos. Os cabos que passam por este ensaio com sucesso são denominados não propagantes.

Os perigos provocados pelos cabos durante um incêndio não se limitam a propagação do fogo. Um dos maiores riscos para as pessoas durante tal situação é a fumaça, já que a sua inalação é a principal causa de mortes durante um incêndio. Portanto, a geração de fumaça e gases tóxicos pelos cabos foi uma das principais preocupações da norma de segurança. Atualmente os cabos não propagantes podem ser divididos em dois grupos: os que geram fumaça e gases tóxicos, quando submetidos ao fogo, e os que não geram.

Como dito anteriormente, os cabos elétricos podem ser classificados quanto ao seu desempenho quando submetidos ao fogo em três tipos: propagantes de fogo, não propagantes de fogo, e não propagantes de fogo e de baixa emissão de fumaça e gases tóxicos.

Veja que na classificação existe claramente uma evolução no desempenho dos cabos quando submetidos ao fogo.

Os cabos propagantes são materiais em conformidade com a ABNT NBR NM 247-5. Estes cabos não são admitidos nas instalações previstas pela NBR 5410, pois são exclusivos para ligação de equipamentos. São exemplos destes cabos os conhecidos popularmente como cabos paralelos e os cabos PP (não confundir com os cabos multipolares que são cabos não propagantes).

Os condutores isolados, cabos com capas (unipolares e multipolares) com isolação de PVC, EPR e XLPE que foram submetidos e aprovados no ensaio de queima vertical, são cabos não propagantes destinados ao uso nas instalações elétricas de acordo com a NBR 5410. Portanto, todos os cabos utilizados nas instalações elétricas, até a tomada de corrente ou até a carga se não for prevista tomada de corrente para a ligação do equipamento, devem ser do tipo não propagante.

Finalmente, os cabos de baixa emissão de fumaça e gases tóxicos são usados nos locais onde há uma afluência de público. A norma apresenta três locais onde a instalação deste tipo de cabo é obrigatória:locais de baixa densidade de ocupação e de percurso de fuga longo; locais de alta densidade de ocupação e de percurso de fuga breve; e locais de alta densidade de ocupação e de percurso de fuga longo.

Atualmente o mercado de cabos ainda disponibiliza ao mercado os três tipos de cabos, porém, existe claramente uma forte tendência de em um futuro breve, todos os cabos comercializados serem com baixa emissão de fumaça, devido à demanda do mercado e à projeção de custo em larga escala. Quanto aos cabos não propagantes o problema é tecnológico: os cabos de ligação de equipamentos necessitam de uma grande flexibilidade que não pode ser obtida somente com a classe de encordoamento dos condutores, é preciso que o isolante também seja mais flexível. Mas a quantidade de cabo usados nos equipamentos é baixa, quando comparado com os usados nas instalações; com isso a carga incêndio é bem menor.o:p>

Portanto, o atendimento das normas e regulamentos traz uma tranquilidade para a sociedade, segurança para o usuário e para os profissionais da área. Esta é a função da normalização em um país.

Sobre o autor: João Cunha é mestre em Engenharia Eletrônica; coordenador da comissão da ABNT responsável pela norma NBR 14039 “Instalações elétricas de média tensão de 1,0 a 36,2 kV”; membro da Comissão da ABNT responsável pela norma NBR 5410 “Instalações elétricas de baixa tensão”; autor de normas brasileiras de instalações elétricas de baixa e média tensão e autor de diversos trabalhos técnicos na área de instalações elétricas de baixa e media tensão.

Fonte: Redação OE