A Estação Antártica Comandante Ferraz, base de pesquisas da Marinha do Brasil na Antártida, está com sua construção concluída após três anos de obras no continente mais extremo do planeta. Trata-se de uma obra de arte da Arquitetura e Engenharia, com estruturas de aço de 700 toneladas, formato aerodinâmico para resistir aos ventos de até 200 km/h e base de palafitas para impedir que a neve acumulada no inverno chegue até o prédio.

Esse projeto começou em 2012, quando a estação anterior, localizada na ilha Rei George, foi destruída em um incêndio causado durante a troca de combustível. Dois militares da Marinha morreram tentando debelar o fogo. Dias após a tragédia, o Governo Federal anunciou a reconstrução da base, com uma nova Arquitetura que atendesse a todos os requisitos para a realização de pesquisas científicas no local.

A Marinha contactou então o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) sobre a possibilidade de se realizar um Concurso Público de Arquitetura para a escolha do projeto. “Foi um grande desafio para o IAB.

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Sabíamos da complexidade do tema e dos cuidados exigidos na construção”, afirma o arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot, que coordenou a concorrência.

“Não eram poucos os condicionantes envolvendo as condições climáticas do local, as características geomorfológicas do solo e os aspectos tecnológicos relacionados à construção.”

Arquitetos, militares e consultores tiveram apenas três meses para montar as regras do concurso, de forma a deixar clara a complexidade que a obra exigia. Os requisitos exigiam, por exemplo, a formação de equipes profissionais multidisciplinares para assessorar os arquitetos participantes do concurso.

O edital foi lançado em janeiro de 2013, e recebeu 109 inscrições, com 74 projetos entregues. O escritório Estúdio 41, de Curitiba, foi o vencedor da competição, levando um prêmio de R$ 100.000 e mais um contrato de R$ 5 milhões para a realização dos Projetos Executivos e Complementares da Estação Antártica.

Misto de alojamento e dormitório, a Estação Antártica conta com infraestrutura própria de energia, água, esgoto e telecomunicações, abrigando 18 laboratórios no edifício principal, sete unidades isoladas, um heliporto e torres de energia eólica.
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Os arquitetos pensaram o edifício como se fosse uma vestimenta, um artefato que protege e conforta do frio extremo. Um problema de desempenho tecnológico, mas que deveria levar a estética em consideração.

Desafios

“Elaboramos o projeto básico para o concurso em 45 dias e o projeto completo em cinco meses. Não conseguimos sequer visitar a Antártica, pois o prazo de elaboração não coincidiu com o verão”, afirmou o arquiteto Emerson Vidigal, do Estúdio 41. Segundo ele, uma das principais preocupações foi investir em energias renováveis, com pás eólicas e placas solares que atendem a até 25% da necessidade da Estação.

Outra preocupação da equipe de arquitetos foi a segurança contra incêndios, para evitar novas tragédias. “Fizemos uma média das normas brasileiras e de alguns países europeus e simplesmente dobramos a precaução com segurança.
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Como esse foi um trauma muito grande para a Marinha do Brasil, eles fizeram questão de investimento pesado nesse aspecto”, afirma Emerson. “Esse é um ponto importante em concursos públicos: identificar também o sentimento do cliente em relação ao projeto”.

Para atender a toda a complexidade do projeto, os arquitetos utilizaram softwares de Modelagem da Informação da Construção (BIM, na sigla em inglês), uma tecnologia que transfere não só o desenho, mas todas os materiais e especificações para o mundo virtual, permitindo uma integração maior com a equipe de engenheiros que coordenou a construção.  “O BIM serviu como ferramenta de ligação entre os arquitetos e os engenheiros do projeto. Obtivemos toda a estrutura em 3D e confrontamos as diferentes concepções de Arquitetura e de Engenharia”, diz Emerson.

Essa obra possui importância estratégica e simbólica para a Arquitetura do Brasil por diversos motivos.

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Primeiro, foi um dos projetos que conseguiu mostrar a sociedade as vantagens na realização de Concursos Públicos de Arquitetura para a escolha de obras públicas. Em 2013, eram ainda raras iniciativas desse tipo, mas foram crescendo ao logo dos anos com apoio do CAU/BR, dos CAU/UF, IAB, FNA, AsBEA e demais entidades nacionais de arquitetos e urbanistas.

Só em 2018, foram realizados pelo menos 14 Concursos Públicos de Arquitetura em todo o Brasil, incluindo projetos grandes, como a revitalização da orla do Lago Paranoá, em Brasília; a revitalização do Eixo Monumental de Maringá (PR); a reurbanização da área central do município de Conde (PB); e a nova sede do CAU/TO, em Palmas (TO).

O arquiteto e urbanista Luiz Fernando Janot defende que o Concurso Público de Arquitetura é a forma mais democrática de escolha de projetos e a que melhor contribui para oferecer aos jovens arquitetos uma oportunidade de demonstrar sua capacidade profissional. “Defendo, por princípio, que toda obra pública deveria ser, obrigatoriamente, objeto de concurso de arquitetura e urbanismo. A meu ver, essa seria mais uma forma de valorizar e difundir a cultura arquitetônica nacional e, ao mesmo tempo, valorizar à competência dos arquitetos e urbanistas brasileiros”, afirma.
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