Rachel Andalaft, sócia-consultora da empresa de gestão para investimentos sustentáveis REA Consult, vem oferecendo serviços na viabilização, realização e financiamento de projetos, no mercado brasileiro e internacional.

Nessa entrevista à revista O Empreiteiro, a consultora aponta que em frequentes conversas com investidores estrangeiros no Brasil, as oportunidades são sempre ressaltadas, mas, por outro lado, os problemas relacionados aos riscos acabam prevalecendo.

Veja a seguir o que diz Rachel Andalaft sobre projetos de infraestrutura no segmento de fontes renováveis no País.

OE – Por que os investidores internacionais seguem interessados no mercado de energia brasileiro?

Rachel – Porque o Brasil é um país de dimensões e oportunidades continentais. O Brasil é um país emergente, democrático e industrializado, passível de absorver investimento em áreas que geram demanda e crescimento acelerado com longos ciclos de desenvolvimento. Em minhas frequentes discussões com investidores estrangeiros, há sempre consenso em relação às oportunidades. Porém, há também frequentemente dissenso em relação aos riscos. Ao fim, é o risco e não a oportunidade que “bate o martelo” em questões de investimento.

OE – Como mudar esse cenário?

Rachel – O investidor internacional ainda observa e aguarda sinais de queda no risco-Brasil. A volta do crescimento econômico, estabilidade cambial, reformas estruturais e uma agenda liberal no setor elétrico contribuirão para a atratividade do mercado nacional.

OE – Como avalia os projetos de infraestrutura no País no segmento de energias renováveis?

Rachel Andalaft – As fontes eólica e solar provaram ser uma alternativa atrativa e rentável no mercado brasileiro. A combinação do modelo de leilão de energia e queda nos custos de instalação e implementação dos projetos criou um ambiente propício ao desenvolvimento de uma economia de escalas dessas duas fontes, ainda mais visível no setor eólico. Os investimentos em linhas de transmissão são também indicadores de sustentabilidade no setor. Para seguir crescendo, o mercado necessita de diversificação de fontes de capital, na cadeia de suprimentos e de modelos de negócios. Maior diversificação favorece a competitividade e pluralidade de atores no mercado, reduz incertezas e dependências, e aumenta a liquidez. Contribui muito com este cenário, o contínuo desenvolvimento e abertura do mercado livre.

OE – O segmento de eólica cresceu bastante no País. Porém, no segmento solar, há ainda entraves com relação aos seus custos. Como analisa a questão?

Rachel – A fonte eólica no Brasil é uma história de sucesso resultante da combinação de vários fatores como instituições robustas do setor, leilões dedicados, desenvolvimento da cadeia de suprimento, condições climáticas e promoção de crédito pelo BNDES. Replicar este modelo de sucesso para a fonte solar requer adaptações. A exemplo de vários mercados internacionais, onde a fonte solar já se provou madura e competitiva, seria de grande benefício para o Brasil a emergência de modelos de financiamento de projetos non-recourse, isto é, em que as garantias são exclusivamente os recebíveis dos projetos. A exclusão do aporte de garantias por parte do empreendedor adaptaria o modelo brasileiro ao modelo internacional e atrairia investidores institucionais. Fontes alternativas de financiamento relaxariam as regras de conteúdo nacional, o que permitiria ao Brasil desfrutar da commoditização do setor.

Em linhas gerais, qual o modelo ideal para o setor energético brasileiro?

Rachel – Maior liberalização do mercado combinada ao fracionamento dos riscos. Há bons exemplos no exterior de medidas que aumentam a atratividade do setor. O Chile tem um modelo de preços estabilizados e atrelados periodicamente ao dólar. Também contribui para a realização de investimentos contratos firmes de reserva da capacidade de transmissão. Na Europa, investidores e comercializadores podem estruturar seus fluxos de receitas a partir de uma combinação de PPAs e bolsa de comercialização, como day-ahead. Além disso, há opções de contratos financeiros de derivativos de energia, o que aumenta a previsibilidade e liquidez no mercado. Os benefícios são claramente identificados na precificação da energia.