Para criar um destino de lazer para os próprios habitantes da cidade-estado, a operadora Changi do aeroporto encomendou ao arquiteto israelense Moshe Safdie, que reside ali, o projeto que esconde literalmente o shopping de 135 mil m² numa floresta tropical de 2.226 ha, em cinco níveis, sob uma cúpula de vidro climatizada, cujo polo de atração é uma cachoeira artificial de 40 m de altura, que funciona a intervalos regulares. Um trem automatizado operando sobre elevado liga os terminais e atravessa o jardim.

À noite, há um show simultâneo de luzes e som na cachoeira. Para atender a este vasto programa, com interferências mútuas, os diversos projetistas e construtoras participantes tiveram que buscar o consenso possível e articular soluções de compromisso.

Safdie, mais conhecido pelo complexo do hotel Marina Bay Sands, com um parque no topo que parece uma prancha de surf — interligando três torres e vãos enormes -, afirma que o
projeto do shopping-aeroporto é uma experiência inusitada em termos de escala. “Quando a cachoeira é acionada, os visitantes podem sentir a potência da queda d’água”, diz.

Ao custo de US$ 1,25 bilhão, a floresta tropical está localizada antes do perímetro de segurança do aeroporto mas está interligada com três dos quatro terminais. “O shopping e a floresta não se tocam” foi a filosofia do projeto — e que o tornou bastante complexo. A cachoeira, a escala dos espaços, o clima tropical, a proximidade dos habitats humano e das plantas, a cúpula assimétrica de vidro e aço — tudo conspirava contra as empresas de
engenharia envolvidas.

O centro desse espaço construído complexo era a cachoeira — batizada de HSBC Rain Vortex
— com 33 m de circunferência e 11 m de diâmetro. A queda d’água também serve de tela 360° para shows de luzes e som à noite, mas os 56 autofalantes e 12 projetores não podiam ser visíveis.

O paisagismo foi da PWP Landscape, que trabalhou também no Marina Bay Sands; WET Design, conhecido pelas fontes do hotel Bellagio em Las Vegas, foi consultora nessa área; o contrato de projeto mais construção foi do consórcio Woh Hup-Obayashi; RSP Architects foi o arquiteto executivo e engenheiro estrutural e Mott MacDonald executou as instalações mecânicas e elétricas.

A estrutura de cinco pisos lembra uma rosquinha doce com furo no meio. A cúpula chamada de grelhacasca, de vidro e aço, tem formato toroíde assimétrico — a abertura central teve que ser deslocada, para evitar que eventual chuva torrencial atingisse o trem no elevado.

Terraços com paisagens em 4 níveis

Por dentro, a estrutura de concreto armado lembra um anfiteatro, mas ao invés de arquibancada há quatro níveis de terraços com paisagens que dão para o espaço central onde está a cachoeira. Os terraços escondem o shopping para quem está nos jardins.

Os dois níveis superiores dos cinco pavimentos de subsolo são parte do shopping; os três inferiores são para estacionamento e serviços de apoio.

Esse complexo chamado Jewel possui ainda hotel, cinema e serviços de aeroporto como check-in antecipado — porque os voos longos costumam partir após 24 h — e lounges para passageiros.

O conceito foi um sucesso – em abril passado houve soft opening e no domingo de Páscoa recebeu 600 mil visitantes — um décimo da população de Singapura.

A grelhacasca de 210 m X 156 m

Considerada a maior já construída para abrigar uma estrutura, a grelhacasca foi projetada por Buro Happold, de Nova York.

Esse tipo de cobertura é considerado mais eficiente para cobrir grandes vãos, se comparada a treliças ou estruturas espaciais.

Pesa 6 mil t, contendo 6 mil nós de aço e 15 mil membros. Os nós geralmente recebem seis membros, que se encaixam em ângulos diferentes e tem espessura distintas. Cada membro se encaixa em apenas uma posição, como um quebra cabeça em 3D. Mas esse aspecto não
encareceu a cobertura, por causa de fabricação comandada por computador dos elementos.

Há mais de 9.304 painéis de vidro, de 250 kg, cada um com medidas diferentes imperceptíveis a olho nu.

Revestidos para transmitir luz para as plantas, não funcionam como diafragma na grelhacasca. Mesmo com curvatura aumentada para adquirir rigidez, a casca é muito suscetível a deflexões em larga escala quando recebe a primeira carga, aponta a projetista BH.

Um fator de segurança de três a quatro dá rigidez adicional aos membros da grelha. A Mero Structures fabricou os componentes da cobertura.

A grelhacasca se apoia ao longo do perímetro da edificação e um anel interno de 14 colunas que parecem árvores montadas com tubos estruturais, que também são suportadas pela estrutura de concreto. Cada árvore tem quatro troncos cortados de 10,3m a 10,9 m de altura.

Os enormes jardins começam no térreo nível L1, que ganhou o nome de Floresta Shiseido, com 21 mil m². Os visitantes podem seguir duas trilhas até nível L5, através dos terraços. No caminho, eles podem descansar, fazer compras ou tomar lanches. O Parque Canopy no L5 mede 14 mil m², bem abaixo da cobertura, tem áreas de lazer, jardins temáticos e restaurantes.

A floresta climatizada sob a grelhacasca contém mais de 2 mil arvores e palmeiras, de até 13 m, mais de 100 mil arbustos e plantas. Curiosamente, o interior refrigerado não permitiu o
plantio de espécies tropicais; tiveram que importar 120 plantas da Austrália, China, Malásia, Espanha, Tailândia e Estados Unidos.

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Cachoeira alimentada por chuvas

A queda d’água se supre da chuva coletada por 7.500 m² de cobertura, que chega a 10 mil galões/minuto nas tempestades tropicais. Cascatas d’água caem através da abertura central de
11 m de diâmetro, descendo nos jardins num arco parabólico — e não em linha reta. Elas são captadas por uma piscina no nível B2 do shopping, dois pisos abaixo dos jardins.

Daí a água segue para tanques em B3, onde é filtrada e tratada antes de ser bombeado de volta para o teto, para produzir a cachoeira.

Há 3,6 km de tubulação embutida na estrutura, fora da vista.