TPF Engenharia adotou o BIM para gestão de projeto de descaracterização de uma barragem de rejeitos situada em Minas Gerais, agora inativa. Segundo a empresa, sua implementação permitiu o avanço simultâneo de todos os elementos do projeto, simplificando a compatibilização em diferentes etapas, o que possibilitou a elaboração concomitante de projetos de terraplanagem, acessos operacionais, drenagem superficial e recuperação ambiental, agilizando o processo de integração dos modelos.

Em 2021, a TPF Engenharia recebeu a missão de elaborar estudos de alternativas, projeto conceitual e projeto básico para descaracterizar uma barragem de rejeitos construída na década de 1970, que já se encontra inativa. A opção pela descaracterização da estrutura – um processo que reintegra a barragem ao relevo e ao ambiente natural – foi uma resposta ao cenário de incerteza sobre o seu método construtivo original, demandando dos projetistas a capacidade de rápida resposta diante de possíveis alterações e restrições. A descaracterização de uma barragem é um processo altamente complexo que requer tempo, pesquisa e definição clara de planos e escopos para assegurar a segurança. O estudo buscou evidenciar como certos métodos e ferramentas podem ser aplicados visando otimizar e aprimorar o desenvolvimento do projeto da descaracterização da barragem, considerando as condições específicas encontradas no Brasil.

Para isso, duas ferramentas foram empregadas de forma integrada, sendo a Metodologia Ágil e a Engenharia Digital / BIM (Modelagem de Informação da Construção), as quais foram essenciais ao longo de todo o processo. Para uma execução mais eficiente, a Metodologia Ágil foi desenvolvida pela própria empresa, juntamente com a Engenharia Digital nas fases de modelagem das estruturas, detalhamento de componentes, integração entre disciplinas, projetos de drenagem e recuperação ambiental. No planejamento e acompanhamento do projeto, foi empregado o Framework de Engenharia Ágil (FEA) da TPF, uma adaptação dos princípios e recursos de gestão ágil, incorporando o método Scrum e utilizando o Microsoft Azure DevOps como suporte.

Ao aplicar o FEA, todos os eventos descritos foram utilizados para atender às demandas contratuais dentro de janelas de tempo estabelecidas, de acordo com as necessidades e agenda das partes interessadas. Consequentemente, percebeu-se que o uso dessa metodologia interna resultou em aumento de produtividade, integração da equipe e melhoria na qualidade das entregas, evitando falhas de comunicação ou lacunas no conhecimento do processo.

 Um dos principais benefícios observados foi a identificação antecipada das restrições do projeto, permitindo a elaboração de ações para eliminá-las sem comprometer o cronograma. Já a aplicação do BIM no projeto foi implementada por meio do AutoCAD Civil 3D, que conta com funcionalidades bastante úteis relacionadas à ferramenta, como: modelagem tridimensional de infraestruturas, inteligência de dados, documentação automatizada e coordenação multidisciplinar. Um dos pontos fortes do ambiente BIM é sua abordagem multidisciplinar, que não restringe o uso a um único software. Análises e estudos realizados em outras plataformas puderam ser incorporados ao modelo, elevando a complexidade do projeto.

Exemplos dessa aplicação incluem resultados de modelagens hidrológicas, dimensionamentos hidráulicos, análises de estabilidade e a implementação de sistemas de monitoramento em tempo real. Durante a modelagem, a presença da Inteligência de Dados no software viabilizou a parametrização de todos os elementos tridimen sionais. Isso não apenas proporcionou a obtenção de dados geométricos, mas também permitiu incluir especificações técnicas cruciais para a execução do projeto. O BIM ainda possibilitou a criação de modelos ou templates automatizados, padronizando todos os entregáveis do projeto. Esses arquivos promoveram eficiência ao integrar diversas tabelas de quantitativos entre os documentos, garantindo consistência e qualidade.

Segundo a projetista, após a elaboração do modelo digital de terreno foi possível realizar estudos preliminares abrangentes, permitindo modelar as estruturas da fase inicial da descaracterização. As análises de estabilidade foram fundamentais para identificar locais que demandavam alterações na geometria de taludes e bermas e estruturas de reforço. Em paralelo, modelagens hidrológicas e hidráulicas foram empregadas na concepção das estruturas de drenagem.

 A análise logística e operacional permitiu a localização e modelagem dos acessos operacionais vitais para as fases iniciais do projeto. Já a fase intermediária envolveu o planejamento de terraplanagem, incluindo a remoção do rejeito e do maciço por níveis. O software permitiu a elaboração de seções para análises de estabilidade, garantindo a segurança da escavação. As novas superfícies do terreno também possibilitaram o desenvolvimento de elementos de drenagem provisórios, a exemplo do Extravasor. Na fase final do projeto, foram elaborados o plano de recuperação ambiental e as estruturas de drenagem permanentes.

O modelo de terreno desenvolvido foi essencial para prever a modelagem dos canais de drenagem. No contexto da recuperação ambiental, dados de inclinação do terreno determinaram as melhores alternativas para cada trecho, sendo previsto por fim uma recuperação ambiental que englobaria o plantio de mais de 15 mil árvores com inserção de mais de 100 espécies nativas. A projetista destaca que durante o período de trabalho duas restrições demandaram uma resposta rápida para replanejamento das atividades. A primeira ocorreu em função de uma incerteza sobre dados iniciais de projeto. Por conta disso, foi definido um prazo para resolução da restrição, que por meio de ensaios permitiu uma redução das incertezas e, consequentemente, avanço do projeto. Outra restrição foi relativa a uma premissa de projeto e interesse por parte da cliente no reaproveitamento do rejeito. Assim, a empresa desenvolveu um estudo complementar que abrangeu dois cenários possíveis – remoção total e maior reaproveitamento, ou remoção parcial e sem reaproveitamento do material. O cliente pode, assim, ser atendido em sua demanda com o mesmo nível de qualidade dos estudos iniciais, ao mesmo tempo que possui todas as informações para a tomada de decisão final.

AUTORES
Thiago Almeida
Gerente de produto da TPF Engenharia
Pedro Dantas
Gerente de produto da TPF Engenharia
Pedro Lima
Assistente de produto da empresa
João Lucas Andrade
Assistente de produto da empresa