Com novas tecnologias e apuro técnico, obras de retrofit da Moura Dubeux estão transformando construções icônicas em Pernambuco. Um dos projetos é a revitalização do Grande Moinho do Recife, construído entre 1914 e 1920 e operado até 2009 pelo grupo Bunge. Desde então, a estrutura estava ociosa. Segundo a empresa, o objetivo principal do projeto foi a transformação desse equipamento abandonado em um complexo multiuso ofertando comércio, lazer e residência, mantendo as características originais da construção. A parcela que coube à Moura Dubeux é a parte residencial.

São duas obras, Silo 240 e Silo 215, cada uma trazendo uma característica peculiar. O Silo 240, com seu formato quadrado, e o 215, com uma fachada em formato cilíndrico, estão bem marcada na paisagem e na memória do recifense. O empreendimento residencial é composto de 253 unidades, sendo dividido entre apartamentos e lojas. O silo 240 irá comportar 64 apartamentos, entre 57 e 68 m²; já no silo 215 serão 189 unidades privativas, sendo 187 flats de metragens diversas, entre 20 e 64 m², além de duas lojas no pavimento térreo. O retrofit do Silo 240 consiste em uma adaptação da estrutura para apartamentos residenciais de um ou dois quartos, com área variando de 57 a 68 m².

O novo edifício ainda comportará um teto verde, terraço, piscina e sala de jogos. A modulação típica dos apartamentos consiste na junção de três silos quadrados e ele terá oito pavimentos, uma cobertura, um teto verde e um reservatório superior. Serão oito apartamentos por andar. Já a obra do Silo 215 é composta por 20 silos redondos, com diâmetro aproximado de 6,75 m. As paredes têm espessura média de 20 cm e também serão parcialmente aproveitadas para layout do projeto arquitetônico.

 O retrofit consiste em apartamento residencial composto por unidades de dois quartos (um silo e meio), um quarto (um silo) ou estúdio (meio silo), com área variando de 19 a 75 m². O novo empreendimento contará ainda com duas salas comerciais no térreo, piscina aquecida com hidromassagem, terraço, salão de festas e academia. Serão 17 unidades por andar. O maior destaque do empreendimento é ser um Retrofit com reuso, conforme destaca a empresa. “Uma estrutura que foi pensada e desenvolvida para o trabalho industrial, no caso, armazenamento de grãos, está sendo resgatada, ressignificada e transformada em residência, trazendo um novo desenho arquitetônico e uma nova distribuição de cargas e esforços na estrutura.” Moura Dubeux vem se especializando em obras de retrofit, contribuindo para a manutenção de construções seculares e simbólicas.

A transformação de edificações históricas exige das equipes de engenheiros, arquitetos e do pessoal de obras muito planejamento e cuidado na execução. Segundo a companhia, podem-se dividir os problemas enfrentados com suas respectivas soluções inovadoras em três grupos: de ordem técnica, social e ambiental.

No caso do moinho, o primeiro grande problema se deve a localização não possuir recuos. Assim, os limites do terreno é a própria edificação. Para que fosse garantido um canteiro de obras padronizado e com condições da execução da obra foi solicitado aos órgãos responsáveis o fechamento da rua que divide os dois silos e foi incluído o guincho cremalheira, que faz o transporte vertical da obra dentro dos silos, para que houvesse maior espaço logístico no reduzido canteiro. Alugar os galpões nas proximidades da obra também foi uma das soluções adotadas.

Outro fator importante foi a ausência de informações, tendo em vista que é uma construção de 1914, o que torna o desafio ressignificar o uso dos silos ainda maior. Para dar confiabilidade às condições estruturais existentes, fez-se necessário a execução de diversos ensaios como esclerometria (extração de testemunhos para rompimento de corpos de prova à compressão), escoamento das barras de aço, penetração íons de cloreto e carbonatação. E, para garantir a geometria do local em planta, foi utilizado o escaneamento por nuvem de pontos, no qual um laser realiza o mapeamento tridimensional da área estudada.

É uma medida que além de garantir maior acurácia no estudo do local, conta com a vantagem de ser um procedimento consideravelmente mais rápido e prático. Para conhecer a fundação dos silos, foram feitos ensaios do existente com o intuito de viabilizar a estrutura. O layout arquitetônico prevê uma laje em balanço, onde ela não poderia ser engastada na parede do silo. Dessa forma, seria necessário executar uma nova fundação. Como as cargas envolvidas em um silo cheio de grãos são infinitamente maiores do que as de um empreendimento residencial, há um alívio de cargas.

 Assim, foi concebida uma solução conhecida como viga de transição, na qual os novos pilares descarregam os esforços na antiga fundação do empreendimento. Os antigos silos tinham um funil utilizado para escoamento dos grãos e garantiam o layout do empreendimento característico do empreendimento, sendo preciso que as estruturas em concreto armado fossem demolidas, fazendo com que essa operação fosse bastante complexa. Somado a isso não existiam indicadores de produtividade e de custo para uma demolição desse porte, tornando esse fator um problema gerencial relevante para a gestão da obra. Foram adquiridos cortadores de concreto do tipo Wall Saw, que é um tipo de demolição controlada e que é operada por uma máquina na qual as peças de concreto armado são cortadas e içadas para destinação.

Outra metodologia utilizada foi a demolição manual, por meio de marteletes com sistema AVR (com menor vibração), para garantir uma melhor condição aos trabalhadores. Além disso foram utilizados sistemas de exaustores de poeira, bem como intervalos regulares para os funcionários que operavam o equipamento.

Um ponto de apoio, com área de descanso, ponto de água e garrafas térmicas para garantir a proteção e segurança do colaborador durante o trabalho também foi oferecido. Para obter indicadores de produtividade e de custo para demolição foi realizado um monitoramento diário com controle de custo e pro- | Construção Imobiliária | dutividade de cada elemento demolido. Com isso, foi estabelecido um banco de dados com os índices Hh/m³ demolido e R$/m³, que retroalimentou as bases de prazo e custo da obra. Em linha com a diminuição dos impactos ambientais, o retrofit surge como solução para redução e reaproveitamento de resíduos.

Com a demolição inerente ao processo surge o desafio de reaproveitar os resíduos gerados, que são classificados como resíduos cinza, por possuir como origem o concreto. Os resíduos de demolição, excelentes para o processo de drenagem, foram em parte aproveitados como sub-base de pisos polidos de concreto de estacionamentos de outras obras da própria companhia, reduzindo custos envolvidos no beneficiamento do resíduo.

AUTORES
Marcela Dourado
Analista de Marketing Institucional
André Melo
Engenheiro