Após quase se desfazer de suas unidades de produção de fertilizantes, a Petrobras anuncia que vai voltar a investir no setor. A nova postura da empresa se alinha à do governo que quer reduzir a dependência externa de fertilizantes do País. O primeiro passo será o retorno das atividades da Araucária Nitrogenados (Ansa), que, para isso, receberá R$ 1 bilhão de investimentos. A retomada das obras da UFN III também está nos planos da estatal.
No início de 2017, como parte da estratégia de desinvestimento que era posta em prática pelo governo de então, a Petrobras colocou à venda tanto a Ansa quanto a UFN III, fábrica de nitrogenados que estava sendo construída em Três Lagoas (MS), visando sua saída definitiva da produção de fertilizantes. Mas não houve interessados nas empresas. Em janeiro de 2020, a Petrobras optou pelo fechamento da fábrica da Ansa, gerando a demissão de cerca de 400 empregados. Já a UFN III teve as obras interrompidas.
A hibernação da fábrica da Ansa ocorreu porque, segundo a Petrobras, a subsidiária vinha apresentando recorrentes prejuízos desde que foi adquirida, em 2013, com perdas de cerca de R$ 250 milhões entre janeiro e setembro de 2019, enquanto previsões para 2020 indicavam que o resultado negativo poderia superar R$ 400 milhões.
Na época, a Petrobras explicou que a matéria-prima utilizada na fábrica (resíduo asfáltico) estava mais cara do que seus produtos finais (amônia e ureia). A companhia informou que não conseguiu vender a fábrica e decidiu então que a unidade permaneceria hibernada “em condições que garantam total segurança operacional e ambiental, além da integridade dos equipamentos”.
Diante da revisão das diretrizes estratégicas da companhia, aprovadas no ano passado, em sintonia com a decisão do governo atual de reduzir a dependência estrangeira de fertilizantes, o investimento na produção de fertilizantes voltou a fazer parte do portfólio da Petrobras, conforme plano estratégico 2024-2028. Em julho, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que o foco da empresa continuará sendo exploração e produção de petróleo e gás, mas que vai investir também em energia limpa e na diversificação , como projetos na área de fertilizantes.
“O setor de fertilizantes tem importância estratégica para a companhia e o País, possibilitando diversificação dos negócios, integração da cadeia do gás natural e ações de descarbonização em linha com a transição energética”, afirma a empresa, em nota. No comunicado a Petrobras destaca que “a entrada da empresa no mercado de fertilizantes passa por comprovação da viabilidade técnica econômica de seus ativos, que representam em capacidade instalada da ordem de 35% da demanda de mercado. “Nosso plano é reativar a Ansa e retomar as obras da UFN-III”.
Situada ao lado da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), a Ansa possui capacidade de produção de 720 mil toneladas anuais de ureia e 475 mil toneladas por ano de amônia, além de 450 mil m³/ano do Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32). No início de junho, a diretoria executiva da Petrobras aprovou oficialmente a reativação da fábrica. ”A partir desse marco, os ex-empregados foram recontratados pela subsidiária e foi dada continuidade aos processos para contratação de serviços e aquisição dos materiais necessários à retomada das operações. O investimento previsto é da ordem de R$ 1,2 bilhão. A fábrica entrará em produção no segundo semestre de 2025”, afirma a empresa.
Ainda de acordo com a companhia, durante o período de intervenção para retorno operacional serão gerados cerca de 2 mil empregos diretos, considerando funcionários Ansa e das empresas contratadas. Após o reinício das operações, devem ser mantidos cerca de 700 empregos diretos.
Os procedimentos necessários à retomada da fábrica já foram iniciados. “Os processos para contratação estão em fase de licitação”, afirma a empresa. A Ansa foi autorizada a realizar trabalhos de campo, buscando a otimização do escopo da parada programada e avaliação da integridade dos equipamentos. Já a diretoria de processos industriais iniciou os estudos para reativar a unidade de produção de Arla 32 e o trading de fertilizantes nitrogenados, ureia pecuária e industrial, com vistas a voltar ao mercado e se antecipar ao início da produção.
Fábrica de MS deve ser retomada
A Petrobras anunciou também plano de retomada da unidade de fertilizantes nitrogenados UFN III, em Três Lagoas, a 328 km de Campo Grande. A planta, que está próxima ao mercado consumidor e já está interligada ao Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol) para receber o gás natural como matéria-prima, tem capacidade projetada de produção de ureia e amônia de 3.600 t/dia e 2.200 t/dia, respectivamente.
Segundo a companhia, o processo de licitação para a retomada das obras da UFN III pode ser iniciado ainda este ano. A estimativa é que sejam gerados até 8 mil empregos diretos e indiretos com as obras de finalização da planta. Contudo, há etapas a serem superadas como a necessidade de equacionar o fornecimento de gás nos próximos dois anos, para atender à demanda estimada em 2,5 milhões m3 de gás natural.
Com cerca de 80% da obra realizada, a construção da UFN III teve início em setembro de 2011, mas foi interrompida no final de 2014. A fábrica de fertilizantes foi projetada para consumir diariamente 2,3 milhões m3 de gás natural, que após processados resultam em 3.600 toneladas de ureia e 2.200 toneladas de amônia por dia.
O Brasil consome cerca de 45 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, posicionando-se como quarto consumidor mundial. Entretanto, o País produz menos de 10 milhões de toneladas anuais, ou seja, é obrigado a importar cerca de 80% do que necessita. Esse consumo é impulsionado principalmente pelas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, café e algodão.
Historicamente, a Rússia é o maior fornecedor de fertilizantes para o Brasil, especialmente de cloreto de potássio e nitrogênio. Depois vem a China, que fornece fertilizantes à base de fosfato e nitrogênio, Canadá também é um dos principais fornecedores de potássio e Marrocos, de fosfatos.
De acordo com a Petrobras, quando concluída, a UFN III terá um papel fundamental na redução da dependência brasileira em 15% dos nitrogenados, melhorando a autonomia nacional no setor de fertilizantes. A unidade está em fase de estudo de viabilidade técnica e econômica. Após a conclusão desses estudos, o tema deverá passar pela diretoria executiva e pelo conselho de administração da empresa para a decisão de quando serão retomadas as obras.
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