O Complexo de Energias Boaventura, da Petrobras, anteriormente chamado de Comperj, finalmente sai do papel e dá início à primeira operação com gás oriundo do pré-sal. Localizado em Itaboraí (RJ), o empreendimento é composto pela maior unidade de processamento de gás natural (UPGN) do País e pelo gasoduto Rota 3, que transportará gás do pré-sal da Bacia de Santos. Quando estiver em pleno funcionamento, o complexo vai viabilizar o escoamento de até 18 milhões de m³/dia, pelo Rota 3, e o processamento, pela UPGN, de até 21 milhões de m³/dia de gás natural.
Na inauguração do complexo, realizada em 13 de setembro, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, frisou como o gás natural será essencial para a transição energética. “O Complexo de Energias Boaventura é um passo importante da Petrobras em direção à missão de ampliar a oferta de gás ao mercado nacional, e de minimizar nossas importações de GLP e de diesel. O empreendimento também está alinhado ao nosso objetivo de fazer a transição para uma matriz energética mais renovável, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa”, revelou a executiva. “O nome ‘complexo de energias’ coube muito bem para esse projeto, pois transmite o esforço contínuo e crescente da Petrobras rumo à diversificação energética, com sustentabilidade e inovação”, completou.
Além do gasoduto implantado para o escoamento de gás natural e da UPGN, a Petrobras está trabalhando em outros projetos no complexo. Com a operação da UPGN, a companhia prevê iniciar as obras da parte de refino e lubrificantes no primeiro semestre de 2025, com previsão de conclusão para 2029. Quando entrar em produção, o empreendimento vai adicionar no mercado 12 mil barris/dia de óleos lubrificantes, 75 mil barris/dia de diesel S10 e 20 mil barris/dia de querosene de aviação de baixo teor de enxofre (QAV). Entre outros produtos, o polo irá produzir lubrificantes grupo II que utiliza como matéria-prima cargas de gasóleo da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense, que serão movimentadas via duto.
A companhia estuda também construir duas usinas termelétricas no complexo, em parceria com outros investidores. As usinas aguardam o leilão de reserva de capacidade do governo, sendo uma de 600 MW e outra de 1.200 MW. A geração de energia elétrica do complexo vai beneficiar também a região do entorno, representando oito vezes do consumo de Itaboraí.
Visando atingir emissão zero de carbono, também está sendo estudada a implementação de uma planta de biocombustível dedicada, que produzirá diesel e QAV 100% renováveis. Outra frente importante do empreendimento, segundo a companhia, será a captura de carbono, conectando-o ao projeto piloto do hub de CCUS (sigla em inglês para captura, uso e armazenamento de carbono) no Rio de Janeiro.
O gerente geral do Boaventura, Candido Luis Queiroz da Silva, destaca a importância do complexo. “Nosso objetivo é produzir biocombustíveis, lubrificantes de Grupo II, diesel S-10, QAV, nafta, GLP e gás natural, além de avaliar outras oportunidades que agreguem valor para a Petrobras, incluindo a petroquímica. Tudo isso promoverá o desenvolvimento social e econômico da região e do Rio de Janeiro, em linha com a visão da Petrobras de diversificação em negócios de baixo carbono e geração de valor”, salienta.
De acordo com a Petrobras, a estimativa é que cerca de 10 mil postos de trabalho sejam gerados durante a fase de obras de expansão do complexo e aproximadamente 3 mil empregos permanentes para a operação e atividades de suporte. O novo orçamento do complexo não foi divulgado.
NOVO NOME E NOVA FASE
O antigo Comperj foi originalmente lançado em 2006, com orçamento de US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões, hoje), mas as obras no empreendimento começariam apenas dois anos depois e a previsão era de o complexo entrar em operação em 2012, com capacidade para processar 150 mil barris diários de petróleo.
Mas as obras se arrastaram e acabaram interrompidas em 2015, quando os investimentos previstos já atingiam US$ 14 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões). Nos anos seguintes, houve um encolhimento do projeto, com o descarte da construção da refinaria. Entre 2017 e 2018, a estatal optou por construir apenas uma unidade de processamento de gás natural e finalizar o Projeto Integrado Rota 3 – gasoduto de cerca de 355 km de extensão, sendo 307 km referentes ao trecho marítimo e 48 km na fração terrestre.
A retomada do complexo, com redimensionamento do projeto, faz parte do Plano Estratégico 2024-2028 da companhia, que compreende US$ 102 bilhões de investimentos. De acordo com o plano, o setor de refino, que o Boaventura integra, receberá aportes de US$ 17 bilhões. É a segunda área que mais receberá recursos, perdendo apenas para exploração e produção, que terá US$ 73 bilhões.
A nova denominação do empreendimento está relacionada às ruínas do Convento São Boaventura, que estão localizadas na área do complexo. Resquícios da edificação construída no século XVII, as ruínas são um patrimônio
histórico nacional e estadual tombado em 1978. A Petrobras afirma que trabalha na manutenção e na conservação da estrutura original do convento e arredores, de forma a garantir a sua preservação. A empresa estuda com parceiros a implantação de um espaço cultural e turístico junto às ruínas, possibilitando que mais interessados tenham acesso ao local.
ÁGUA DE REUSO
Apesar de a Petrobras informar que não há restrição de abastecimento de água para o complexo, sendo a demanda atual atendida por outorga vigente, as futuras necessidades serão atendidas por água de reuso, conforme os investimentos que serão feitos em tratamento interno de água e de efluentes.
De acordo com a estatal, esse será o maior projeto de reuso de água em área industrial no Brasil e irá gerar economia de água potável equivalente ao abastecimento de 600 mil moradores da região de São Gonçalo (RJ). A Petrobras assinou contrato para fornecimento de água de reuso com a Aegea, a partir do tratamento de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto de São Gonçalo (ETE-São Gonçalo). A previsão é que as obras de adequação da ETE sejam iniciadas pela Aegea ainda neste ano.
A disponibilização da água de reuso para o Boaventura deve ocorrer no segundo semestre de 2026. A partir de então, a unidade deixará de consumir água potabilizável (água que pode se tornar potável, após tratamento convencional), que poderá ser direcionada para consumo humano. “A implantação do projeto permitirá que os ativos industriais do Boaventura sejam abastecidos por água produzida a partir do esgoto doméstico tratado. Dessa forma, a atividade industrial terá uma fonte inesgotável e sustentável de água”, esclareceu William França.
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