Embora o Brasil tenha avançado em infraestrutura na última década e a participação do modal rodoviário tenha caído em alguns casos, ele ainda predomina no escoamento de grãos para longas distâncias. Estudo do Grupo de Extensão em Logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog), da USP, mostra que o hidroviário foi o modal que mais ganhou espaço, mas o rodoviário ainda predomina na exportação.

De acordo com o levantamento da Esalq, entre 2010 e 2023, a participação do modal rodoviário no transporte de milho (incluindo mercado interno e exportação) caiu de 84% para 76%. Já a participação ferroviária subiu de 15% para 17%, enquanto o uso das hidrovias foi o que mais cresceu, saltando de 1% para 8%. No entanto, considerando apenas as exportações do cereal, a utilização de rodovias ganhou terreno no período pesquisado: subiu de 20% para 45%. Já o modal fluvial teve importante aumento, saltando de 3% para 16%, reduzindo a fatia das ferrovias.

No caso da soja, o transporte rodoviário também perdeu um pouco de espaço, passando de 75% para 69%, enquanto o ferroviário subiu para 22% (ganho de 2%), e o fluvial aumentou 4 pontos, chegando a 9%. Assim como ocorreu com o milho, na soja o crescimento do transporte fluvial afetou mais o uso das ferrovias do que o das rodovias. Nas exportações de soja, o transporte hidroviário passou de 8% para 12%, enquanto o rodoviário subiu 9 pontos percentuais, para 12%, e o ferroviário caiu para 47% no período analisado.

“Basicamente todos os investimentos em infraestrutura feitos entre 2010 e 2023 não deram conta de atender as exportações, que aumentaram 250% no caso da soja, e 416% para o milho”, afirmou ao Valor Thiago Péra, coordenador do EsalqLog. A produção de soja no período analisado cresceu 125% e de milho, 135%.

Segundo a ADM, o maior avanço na última década foi o aumento do uso de barcaças no transporte para os portos do Arco Norte. Mas nos dois últimos anos os rios que levam a esses portos tiveram vazões abaixo do normal, limitando os volumes transportados. Isso obrigou as empresas a buscarem rotas alternativas mais longas, que dependem de
caminhões.

Já os investimentos realizados no Sul, em terminais de grãos nos portos de Paranaguá (PR) e São Francisco do Sul (SC), que recebem apenas por rodovias, também aumentaram o uso desse modal na região. Dados da Esalq mostram que, em Paranaguá, a participação do rodoviário subiu de 76% para 78%, enquanto no porto de Rio Grande cresceu de 57%, em 2010, para 90% em 2023.

Ferrovias podem ajudar a reduzir o custo Brasil

Além de ser mais demorado, o transporte rodoviário encarece o custo final dos produtos. De
acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), cerca de 25% do
custo total de transporte da soja para a China é referente ao frete, com 19% representando o
transporte rodoviário e o restante corresponde ao frete marítimo. Estima-se que a ferrovia pode reduzir o frete em até 30%, enquanto o modal fluvial pode baixar os custos em cerca de 50%.

Atualmente, o Brasil tem seis projetos de ferrovias em andamento, entre novas concessões e renovações antecipadas, totalizando R$ 63 bilhões, prevendo a expansão de 20 mil km de trilhos. Um dos destaques para o agronegócio é a Ferrogrão, que conectará Sinop (MT) ao porto de Miritituba, em Itaituba (PA), em um trajeto de 933 km. Além de mais barato que o rodoviário, transporte ferroviário é mais eficiente no escoamento de produtos, pois permite o
escoamento mais ágil de produtos para os portos, reduzindo o tempo de transporte. Isso é crucial para commodities como soja e milho, que precisam ser competitivas no mercado internacional​.

Mas a implantação da Ferrogrão segue paralisada desde 2021 devido a uma ação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF). A construção está bloqueada por uma liminar que questiona o impacto ambiental e a constitucionalidade de mudanças no traçado proposto. Recentemente, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apresentou novos estudos técnicos para responder às preocupações ambientais e logísticas.

Se o STF liberar o projeto, o cronograma prevê a realização do leilão em 2025, seguido pela implementação das obras. Para viabilizar o projeto, o Ministério dos Transportes estuda uma oferta conjunta, unindo em uma mesma concessão o projeto ferroviário e o trecho da BR- 163, rodovia que já liga as cidades e que se localiza ao lado do traçado previsto para a construção da ferrovia.