Apesar da queda de quase 70% no preço do petróleo desde o pico de 147 dólares registrado em julho do ano passado, o consumidor não deve sentir alívio nas despesas com combustíveis tão cedo. É consenso entre os especialistas que, pelo menos até o final do primeiro semestre, os preços nas bombas não terão redução. "Da mesma forma que a Petrobras não promoveu grandes ajustes quando o petróleo começou a disparar, não deve haver uma queda drástica agora", diz Walter De Vitto, analista da consultoria Tendências.
Hoje, o preço da gasolina no Brasil está 30% acima do praticado no mercado internacional. No diesel, a diferença é maior: 38%. Considerando a média dos últimos oito meses, porém, os preços no mercado interno ainda são menores. "Mas essa situação não vai persistir por muito tempo. A diferença de preços na gasolina é de apenas 3% e, no diesel, 1,2%", diz De Vitto.
A expectativa é de que o preço do barril de petróleo, atualmente no patamar de 45 dólares, não ultrapasse a casa dos 70 dólares em 2009. Caso a estimativa se confirme, e não haja uma nova disparada do dólar, é esperada uma redução de até 10% para a gasolina e de até 5% para o diesel no segundo semestre. "Mas a Petrobras vai tentar adiar essa queda ao máximo. Uma redução no preço dos combustíveis significa menos caixa para a empresa. E o que ela mais precisa agora é de dinheiro para viabilizar seus projetos", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
Nos próximos cinco anos, a estatal planeja investir 174,4 bilhões de dólares, valor 55% acima do previsto no plano de investimentos para o período de 2008 a 2012. Embora os analistas já esperassem algum aumento nos investimentos como forma de o governo impulsionar a economia, a decisão de elevar consistentemente os valores num momento em que todos agem no sentido contrário surpreendeu o mercado. Em tempos de crise internacional, com restrições de crédito, fica a dúvida de como a empresa conseguirá levantar os recursos necessários para os projetos.
Uma hipótese considerada pelo Itaú é um acordo político para manter os preços dos derivados de petróleo em patamares elevados mesmo diante de um cenário de forte recuo no petróleo. O Santander ressalta que, para o governo, também é interessante não haver reduções. "Preços mais baixos para gasolina e diesel significam menores lucros para a Petrobras, que por sua vez, pagaria menos dividendos para o governo, que também receberia menos impostos devido aos preços mais baixos dos combustíveis", descreve a instituição em relatório.
Sem pressões do governo e com o domínio do setor, um reajuste de preços poderá vir apenas quando a companhia considerar conveniente. "Se houvesse uma concorrente forte, a situação seria diferente. A Petrobras seria obrigada a se mexer para não perder mercado", avalia De Vitto. Mas, mesmo sem uma rival direta para pressionar, há limites para a atuação da estatal. O professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, Edmilson Moutinho dos Santos, explica que, se a diferença entre os preços praticados no Brasil e no exterior crescer demais, importar combustível poderá se tornar mais atraente para as revendedoras que comprar da Petrobras.
Além disso, a sociedade pode começar a exigir preços menores. "Os consumidores não aceitarão ser prejudicados em favor da Petrobras e de seus acionistas por muito tempo", diz De Vitto. Hoje, não há tanta pressão popular porque desde 2005 os preços nas bombas permanecem constantes. O último reajuste praticado pela estatal, em maio de 2008, foi absorvido pela redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
Álcool ou gasolina
Com a gasolina mais baixa, os proprietários de carros flex voltarão a checar o que é mais vantajoso: permanecer no álcool ou migrar para a gasolina. Enquanto o preço do álcool for inferior a 70% do valor da gasolina, o álcool continuará sendo melhor opção.
Pelos cálculos de De Vitto, para que a gasolina se tornasse mais vantajosa que o álcool, seria necessária uma redução acima de 13% nos preços nas bombas. Uma queda nessas proporções é praticamente descartada pelos analistas porque, além dos fatores já mencionados, poderia gerar grandes problemas para o setor sucroalcooleiro. "Uma pancada assim poderia inviabilizar o etanol. As usinas já estão sofrendo com a falta de crédito em decorrência da crise. Se a gasolina se tornar mais interessante que o álcool e as vendas despencarem, será difícil manter o setor", diz Pires.
Para o direitor do CBIE, uma medida que o governo poderia tomar para garantir a viabilidade do etanol seria a cobrança de um tributo diferenciado. "Por ser um combustível menos poluente, o álcool poderia pagar menos Cide", sugere. "O petróleo sempre teve e sempre terá ciclos de alta e de baixa. Cabe ao governo criar políticas públicas para manter fontes alternativas de energia e não prejudicar o consumidor", afirma Pires.
Fonte: Estadão
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