Todos os dias, 600 caminhões despejam duas mil toneladas de lixo em um aterro em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. O que é jogado fora tem muito valor para os pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco.

Eles estão transformando lixo em energia elétrica num projeto pioneiro com tecnologia 100% nacional. Na montanha de 10 metros de altura e 36 toneladas de lixo, as bactérias se alimentam da matéria orgânica e produzem o biogás: uma mistura de metano e gás carbônico.

É justamente o metano, um gás altamente poluente que os pesquisadores estão transformando em energia. A vantagem não é apenas econômica, é uma contribuição e tanto para o meio ambiente. O aproveitamento do metano evita que ele seja despejado na atmosfera e reduz o agravamento do efeito estufa, uma das principais causas do aquecimento global.
O biogás é captado através de drenos, passa por filtros e segue para a usina experimental. O sistema é o mesmo dos carros movidos a gás. Um motor de carro popular queima o gás metano e o gerador transforma a energia mecânica em energia elétrica.

“É o mesmo motor de um carro que funciona com o gás veicular só que neste caso adaptado, em vez de utilizar para o movimento do carro, estamos aproveitando para gerar energia elétrica”, comenta Gustavo Nogueira, engenheiro.

A energia produzida é suficiente pra abastecer uma vila com 150 casas. Por enquanto, garante todo o consumo do aterro sanitário.
A produção da usina é pequena. Se o total de 15 milhões de toneladas de lixo do aterro servissem de matéria-prima a quantidade de energia gerada poderia ser muito maior. “A idéia é transferir este conhecimento para a sociedade, pequenos municípios”, diz Felipe Maciel, engenheiro.

“O meio-ambiente é o primeiro a ser beneficiado, porque estes gases antes iam para a atmosfera e eles agora estão realmente gerando energia, o que é um benefício duplo que nós temos aqui”, afirma Fernando Jucá, pesquisador UFPE.

Alemanha

Numa cidade do sul da Alemanha o esforço para conseguir energia limpa está melhorando a qualidade de vida da população.

O projeto de aproveitamento da energia que vem do sol, iniciado há 22 anos, rendeu a Freiburg a fama de cidade mais verde do planeta. Só em uma usina dirigida por moradores são 1.780 painéis solares. Quase 400 metros de equipamentos que produzem eletricidade com energia do sol.
Detalhes simples como isolamento térmico nas paredes, janelas com vidros duplos e borrachas e um amplo sistema de circulação de ar geram uma economia de energia impressionante.

“A conta chega a cair 90%. É muita economia. Minha avó nunca acreditaria nisso”, brinca o arquiteto. O sistema implantado garante um clima agradável dentro de casa em todas as estações do ano. Uma família nunca precisou ligar o aquecedor no inverno, quando a temperatura cai a dois graus abaixo de zero.

Seria possível adaptar a técnica a um país quente como o Brasil?
“É fácil, defende o criador do projeto. Um bom isolamento térmico não deixa o calor do sol entrar. O ambiente fica fresco naturalmente, sem a ajuda de ventilador ou ar condicionado”, explica.

A cidade tem hoje 98 mil metros quadrados de painéis solares. A indústria ambiental emprega dez mil pessoas. Até assistir uma partida de futebol em Freiburg pode ser ecologicamente correto. Enquanto os torcedores estão de olho no campo, o estádio tem uma função bem diferente. O telhado é a prova de que qualquer lugar pode ser uma mini-estação de energia.
Só o estádio abastece nove mil moradores por ano.

“O time é conhecido por seu bom futebol”, diz o representante da empresa de energia. “Para uma parceria o estádio então é o melhor local. Vocês brasileiros, devem entender”. A boa relação com a natureza está estampada nas ruas de Freiburg. O meio de transporte mais comum por aqui é a bicicleta. São 500 quilômetros só de ciclovias. No centro da cidade, há mais vagas para bicicletas que para carros. Em algumas áreas veículos sequer entram.

Quem tem carro compra uma vaga de estacionamento, o que custa mais de R$ 40 mil. É uma forma de estimular o uso do transporte coletivo. As crianças são os reis da rua, diz um morador.

Fonte: Estadão