Pioneiro no uso de biocombustíveis em larga escala, o Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo e 16% de toda a energia usada no país vem da cana-de-açúcar. O sucesso da experiência brasileira com biocombustíveis e a contribuição nacional para a produção científica no setor foram destaques na Conferência sobre Legislação e Regulação de Biocombustíveis, realizada na última sexta-feira (24/4) em Urbana, no estado norte-americano de Illinois.

Durante o evento, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, apresentou a palestra “A história brasileira da construção de uma bem-sucedida infraestrutura legal para biocombustíveis”, na qual descreveu a trajetória de desenvolvimento da bioenergia no país, iniciada em 1975 com o Programa Nacional do Álcool, ou Pró-Álcool.

A conferência foi uma iniciativa do ramo de Illinois do Energy Biosciences Institute (EBI) – um novo centro de pesquisas sobre biocombustíveis financiado pela empresa internacional de energia BP na Universidade de Illinois e na Universidade da Califórnia em Berkeley.

O convite para a apresentação foi motivado pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que mereceu destaque na palestra.

“O interesse do EBI na experiência brasileira com biocombustíveis é enorme, sendo o caso brasileiro visto como um modelo de sucesso que eles gostariam de realizar nos Estados Unidos. Esperamos explorar várias possibilidades de colaboração científica”, disse Brito Cruz à Agência FAPESP.

O EBI desenvolve programas científicos e tem uma vigorosa atividade de pesquisa sobre aspectos legais e regulatórios do mercado de biocombustíveis. “Os advogados e economistas que trabalham nesse programa têm seus escritórios ao lado dos laboratórios de bioquímica de solos e genômica de plantas, interagindo intensamente com os biólogos, químicos e outros cientistas”, contou.

No dia 5 de abril, Brito Cruz apresentou outra palestra sobre a trajetória da bioenergia no Brasil também nos Estados Unidos, durante o Simpósio Keystone de Biologia Molecular e Celular, em Snowbird, no estado de Utah.
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“As apresentações despertaram muito interesse e desencadearam diversas questões. Vários pesquisadores nos procuraram para saber detalhes sobre a construção dessa estratégia de sucesso. Um ponto que chamou a atenção foi a valorização da contribuição brasileira do ponto de vista científico nessa área”, destacou.

O diretor científico da FAPESP procurou explicar à plateia internacional como é possível que um país industrializado como o Brasil tenha um recurso renovável – a cana-de-açúcar – como segunda principal fonte de energia.

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“Mostrei como o Brasil desenvolveu o programa do álcool desde 1975 e – apesar de diversos percalços – atingiu a realização mais bem-sucedida no mundo do uso de biocombustíveis em larga escala. Talvez a principal característica dessa realização tenha sido o fato de que a estratégia brasileira de biocombustíveis seja baseada no etanol de cana-de-açúcar, uma planta que tem características muito positivas do ponto de vista de conversão da energia do sol em energia líquida”, disse.

Paralelamente, segundo Brito Cruz, houve no Brasil um esforço concentrado e bem-sucedido de pesquisa – realizada em associação pelo mundo empresarial e acadêmico – para tornar essa qualidade da cana-de-açúcar ainda mais eficaz.

“Isso, ao lado de políticas implantadas pelo estado brasileiro, levaram à conquista desses importantes resultados que vemos hoje: 95% dos carros vendidos no Brasil são do tipo flex-fuel; o país é o segundo maior produtor de etanol do mundo; e 16% de toda a energia usada no Brasil vêm da cana-de-açúcar. Não são conquistas triviais”, afirmou.

BIOEN

Além de ser realidade no Brasil, Brito Cruz ressalta que a bioenergia tem grande potencial de expansão no mundo. “O Brasil faz tudo o que faz usando apenas 1% de suas áreas cultiváveis.

Ao mesmo tempo, fazemos isso sem plantar cana-de-açúcar na Amazônia e em outras áreas florestais. Portanto, existe a possibilidade de o país aumentar essa produção por um fator apreciável, uma vez que aproximadamente 30% das áreas aráveis correspondem a pastos degradados que podem ser usados para plantar cana-de-açúcar sem derrubar nenhuma árvore. Com a vantagem, ainda, de favorecer a fixação de carbono no solo”, explicou.

O diretor científico da FAPESP também destacou no evento nos Estados Unidos os aspectos positivos da cana-de-açúcar, relacionados à produtividade, redução de gases de efeito estufa e balanço energético favorável e ressaltou que, com estratégias de pesquisa e desenvolvimento, será possível produzir mais com menos área, água e energia.

De acordo com Brito Cruz, o BIOEN conta com investimentos iniciais de R$ 73 milhões, participa intensamente não apenas da pesquisa científica, voltada para o avanço do conhecimento, mas também representa um esforço para o incentivo da pesquisa cooperativa entre universidades e empresas.

“Hoje, desenvolvemos programas nessa área com três empresas. A Dedini, com R$ 100 milhões em cinco anos, e a Braskem, com R$ 50 milhões em cinco anos – sendo que, nos dois casos, a FAPESP entra com a metade dos recursos e a empresa com a outra metade.

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Com a Oxiteno, estamos na seleção da primeira rodada de projetos, com um convênio piloto de R$ 6 milhões, que tem participação do BNDES”, disse.

O BIOEN tem cinco divisões: Divisão de Biomassa para Bioenergia (com foco em cana-de-açúcar); Divisão de Processo de Fabricação de Biocombustíveis; Divisão de Biorrefinarias e Alcoolquímica; Divisão de Aplicações do Etanol para Motores Automotivos: motores de combustão interna e células a combustível; e Divisão de Pesquisa sobre impactos socioeconômicos, ambientais e de uso da terra.

Fonte: Estadão