Nildo Carlos Oliveira
Comecei a ouvir falar dele – e a ler pequenas crônicas que ele escrevia – depois que o empresário argentino Frederico “Fico” Vogelius pediu que ele dirigisse a revista Crisis. Era uma publicação voltada às coisas da cultura, com um viés político e também econômico.
Depois, se tornou impossível não lê-lo mais.
Eduardo Galeano virou uma consciência das necessidades e urgência da América Latina. Uma consciência que não está apenas no exemplar Veias abertas, mas em outros diversos livros, tais como Vagamundo, Dias e noites de amor e guerra e por aí em diante. Em todos, está lo registro da realidade de nouestros países e a indignação que ela provocava e continua a provocar sem interrupções.
Era um homem sem fronteiras de pensamento. Analisava as condições locais de países e continentes, por intermédio de fatos, palavras e personagens comuns. Nada de sociologia buscada nos meios acadêmicos. Ele era a evidência das vozes das ruas.
Por outros meios – as crônicas e os ensaios – ele denunciou a irresponsabilidade atávica de governantes medíocres; o acúmulo de riqueza nas mãos de pequenos grupos que não hesitam em especular com a sobrevivência alheia; a decadência urbana provocada por deliberadas políticas aplicadas para debilitar o crescimento econômico; as ditaduras e as mentiras invocadas para celebrizar “democracias” de um lado só.
Em qualquer livro dele a denúncia toma fôlego. E constrange. Abro aleatoriamente Dias e noites e ali há provas abundantes do que escrevo. Vamos a um exemplo:
“Ser jovem é um delito. A realidade comete esse delito todos os dias”.
“Há pouco, em Montevidéu, um menino pediu à mãe que o levasse de volta ao hospital: queria desnascer”.
“Estar vivo é um perigo; pensar, um pecado; comer, um milagre”.
Assim era Eduardo Galeano, falecido aos 74 anos, em Montevidéu, no dia 13 deste mês.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira
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