“Nossa meta é investir sempre em novas tecnologias e se tornar uma Green Major (Geradora Verde, em tradução livre). Para isso, temos estudado um pipeline de geração e nossos projetos por fontes de usinas somam R$ 100 bilhões em investimentos”, anunciou a diretora de Engenharia de Transmissão da Eletrobras, Luciana Martins, que apresentou os projetos de transmissão e geração da empresa de 2024 até 2028, durante o 5 Fórum Infra 2024, realizado em outubro pela revista O Empreiteiro.
Com ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova York e Madri, há dois anos a Eletrobras passou por um processo de capitalização, deixando de ser controlada pelo Governo Federal. Agora, com perfil de capital aberto, é composta por 43% pelo governo e 33% e 24% entre acionistas residentes e não residentes no País.
Com mais de 60 anos de atuação – tendo a Eletrobras Chesf, uma de suas subsidiárias, 79 anos – a companhia é considerada a maior empresa de transmissão da América Latina. Neste segmento, são 250 empreendimentos ao todo, considerando já os próximos quatro anos, que somam mais de R$ 7 bilhões de reais de investimentos distribuídos entre as subsidiárias Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Sudeste. Esse valor se refere a obras chamadas de reforços e melhorias, que são autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para ampliar os sistemas de transmissão.
Já no portfólio de geração por usinas, a Eletrobras possui 48 hidrelétricas, 43 parques eólicos e uma solar. Nesta carteira, a companhia soma 100 empreendimentos e vendeu seus ativos térmicos para se tornar uma empresa 100% de fontes de energia limpa. “Já temos investido em novas tecnologias e hoje 97% do portfólio da Eletrobras é baseado em fontes renováveis. Nosso objetivo é nos tornarmos 100%”, reforçou Luciana.
EXPANSÃO PARA RENOVÁVEIS E NOVAS TECNOLOGIAS
Segundo a diretora, que está há mais de 20 anos na Eletrobras, a empresa está focada em investir em fontes convencionais – solares, eólicas e hidráulicas – mas, também, em novas tecnologias, como solares flutuantes, eólicas offshore, hidráulicas reversíveis, armazenamento em BESS (sistemas de armazenamento de energia em bateria) e hidrogênio verde.
“Nossa visão de futuro na geração é investir em fontes limpas, que é o cenário previsto em estudos para 2050. Para isso, estamos investindo nesse pipeline e estimamos mais de R$ 100 bi de investimentos em geração”.
Luciana mencionou uma pesquisa pela BNEF New Energy Outlook 2024, em que a expansão da geração no Brasil em 2050 prevê: 32% por fontes eólicas (271 GW), 31% solares (258 GW), 16% hidro (138 GW) e 4% por armazenamento (36 GW).
MODERNIZAÇÃO DE HIDRELÉTRICAS
Acompanhando essa tendência por novas tecnologias, a Eletrobras também destacou o número de usinas hidrelétricas que estão sendo modernizadas por ela: ao todo são 24 unidades passando por reformas e modernização em seis estados, somando 6 GW e com investimento total de R$ 1,5 bilhões de até agosto deste ano. Todas elas possuem tempo médio de operação de 40 anos.
Dessas “jovens senhoras” que passam por transformações, a diretora destacou cinco projetos: Tucuruí, Sobradinho, Paulo Afonso IV, Corumbá e Porto Colômbia.
UHE TUCURUÍ
Dentre os escopos dessas reformulações, em Tucuruí, que começaram em 2024 e vão até 2025, está sendo feita a modernização dos geradores 01, 03, 05, 07 e 09 da UHE, compreendendo novos estatores e polos do rotor. Lá, a Hitachi Energy venceu o contrato de atualização do sistema de proteção, controle e supervisão (SPCS), setor de 500kV, nas subestações de Tucuruí e também Marabá, administradas pela concessionária Eletrobras. Ambas as subestações ficam no Pará, na região Norte, e estão associadas à usina hidrelétrica de mesmo nome (Tucuruí).
Segundo divulgação da Hitachi, o projeto consiste na substituição de todo o sistema de cabos das subestações e dos painéis de proteção e controle. O desafio do contrato é modernizar duas importantes subestações de energia elétrica em um curto espaço de tempo.
UHE SOBRADINHO
Neste empreendimento, localizado nos municípios de Sobradinho e Casa Nova, estado da Bahia, está sendo feita a modernização das turbinas Kaplan, sistemas de controle e serviços auxiliares elétricos e mecânicos de todas as 6 unidades geradoras da usina. Com 44 anos em operação, a modernização começou em 2023 e termina em 2027.
Nesta usina, a equipe da Andritz Hydropower Brasil é quem segue realizando o trabalho de modernização das unidades geradoras. De acordo a empresa, os testes de movimentação, pressão e estanqueidade da primeira unidadegeradora reformada tiveram início entre o final de fevereiro e começo de março 2024. Os rotores foram reformados com a completa recuperação retirando cavitações, poros e trincas, além da modificação do sistema de vedação entre o rotor/pás Kaplan.
UHE PAULO AFONSO IV
Também somando 44 anos em operação, a usina de Paulo Afonso IV, localizada na Bahia, está passando pela modernização das turbinas Francis, sistemas de controle e serviços auxiliares elétricos e mecânicos de todas as 6 unidades geradoras. A modernização de Paulo Afonso IV iniciou-se em 2023 e vai até 2026.
Nesta reformulação, a WEG divulgou que foi contratada pela Eletrobras, mediante processo de licitação. Ela é responsável pelo fornecimento e instalação dos novos transformadores elevadores, pela remoção e destinação adequada dos equipamentos antigos, que pesam mais de 100 toneladas cada. A substituição gerou a movimentação de 40 equipamentos de grande porte e demandou esforço conjunto de planejamento. Após esse trabalho, a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso IV estará equipada com vinte novos transformadores elevadores monofásicos, de 150 MVA de potência cada. São equipamentos projetados para elevar a tensão elétrica de 18 kV para 500 kV, permitindo uma transmissão mais eficiente.
UHE CORUMBÁ
Esta unidade, localizada no estado de Goiás, é a mais nova, com 26 anos em operação, e passa pela modernização do sistema digital de supervisão e controle (SDSC), a ser encerrado ainda neste ano. A Andritz Hydropower realiza a modernização desde 2022. Segundo a empresa, os recentes testes do novo sistema de controle foram concluídos com sucesso.
O escopo inclui modernização do SDSC das três unidades geradoras, serviços auxiliares, controle conjunto de potência e tensão, vertedouro, sistema supervisório (SAGE) e rede estruturada da Usina Hidrelétrica Corumbá.
UHE PORTO COLÔMBIA
Por fim, a mais antiga, com 51 anos em operação, está localizada no Rio Grande, na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. A UHE Porto Colômbia passa pela modernização das turbinas Kaplan, sistemas de controle e serviços auxiliares elétricos e mecânicos de todas as 4 unidades geradoras da usina. As intervenções começaram em 2024 e só terminam em 2028. A Voith é quem assinou o contrato para sua modernização.
As mudanças vão desde a tomada d’água até a sucção, com revisão das comportas e seus sistemas de acionamento, vertedouro, hidromecânicos, substituição dos sistemas auxiliares mecânicos e elétricos, reforma completa das quatro turbinas Kaplan, reforma da ponte rolante, quatro geradores, além de digitalização dos sistemas de medição, proteção, controle, supervisão e regulação da usina, visando garantir o aumento do fator de capacidade do sistema Furnas que abastece o Sistema Interligado Nacional (SIN). A usina, que começou a ser construída em 1970 e entrou em operação em 1973, possui capacidade instalada de 320 MW.