Formada pelo grupo Vicunha e a Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece), a Sociedade de Propósito Específico (SPE) denominada VSA, realizou o objetivo da parceria: uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) no distrito industrial localizado entre os municípios de Pacajus e Horizonte, a cerca de 50 km da capital do Ceará.
Inaugurada neste ano de 2024, a planta abrange dois sistemas. O primeiro deles é a estação de produção de água de reuso, que trata o esgoto doméstico do município de Horizonte e produz água tratada de alta qualidade que pode ser reutilizada pelas indústrias da região em diferentes processos produtivos. A iniciativa, segundo a VSA, reduz consideravelmente a necessidade de retirar água do meio ambiente para processos industriais.
Já a estação de tratamento de efluentes industriais trata as águas residuárias dos processos das indústrias da região, gerando um padrão de qualidade do efluente que atende com segurança à legislação ambiental. Essa água tratada é então devolvida ao meio ambiente, ao Rio Pacoti, especificamente.
A estação de tratamento de efluente industrial tem a capacidade de tratar 50 mil litros de efluentes por hora, podendo chegar a 100 mil litros por hora. Já a estação de produção de água de reuso processa até 60 mil litros por hora, com a possibilidade de expansão para 130 mil litros por hora. Além da construção da ETE, o projeto abrange também a instalação de cerca de 40 km de tubulações enterradas nos municípios de Horizonte e Aquiraz, para o transporte de água, esgoto e efluente tratado.
Segundo a VSA, o investimento total atingiu cerca de R$ 60 milhões, sendo R$ 40 milhões financiados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O projeto levou quatro anos para ser concluído, considerando desde o início do processo de licenciamento ambiental até a entrada em operação, que ocorreu em maio deste ano, sendo que o tempo de construção foi de cerca de dois anos.
A estação de água de reuso utiliza uma tecnologia de dupla filtração para purificar parte do esgoto doméstico. Já a estação de tratamento de efluentes industriais tem a função de tratar as águas residuais geradas pelas indústrias por meio de tecnologia que combina processos biológicos e físico-químicos, capazes de obter um padrão de qualidade do efluente tratado que atenda à legislação ambiental.
De acordo com a empresa, o tratamento tanto da água como dos efluentes industriais gera um resíduo predominantemente biodegradável, que após passar por um processo de desidratação, ou seja, retirada do excesso de umidade, é destinado para aterro controlado, em cumprimento à legislação ambiental. “Está sendo desenvolvida também a alternativa de utilização deste resíduo para a fabricação de adubo orgânico”, afirma o diretor de Operações da Vicunha Serviços, José Rinaldo de Maria.
A produção de jeans, principal produto da Vicunha, é grande consumidora de água, chegando a utilizar cerca de 5 mil litros para produzir uma única calça jeans. Por conta disso, projetos que resultem na redução, ou ainda melhor, na eliminação do consumo de água de mananciais são bem-vindos, conforme lembra José Rinaldo.
“A VSA é um marco significativo nos investimentos da Vicunha, pois elimina a necessidade de utilização de água de mananciais e rios no processo produtivo. A água utilizada pela fábrica passa a ser de reuso, produzida pela VSA. Além disso, com a reutilização do esgoto doméstico para processos industriais, estamos preservando recursos naturais e fortalecendo nosso compromisso com a sustentabilidade, no caminho para a construção de um futuro mais responsável para o planeta e para as populações da região, deixando um legado socioambiental positivo.”
O diretor destaca outro aspecto positivo do projeto, que tem uma atuação dupla: atende à demanda da empresa e do mercado local. “O projeto possibilita uma redução significativa de até 90% na dependência de água retirada do meio ambiente por parte da indústria. Além de favorecer a produção da Vicunha, a VSA também atende o mercado, possibilitando a empresas da região utilizarem água de reuso em sua produção, contribuindo para a preservação ambiental”, completa José Rinaldo. A unidade poderá fornecer água de reuso às indústrias que operam no Distrito Industrial Pacajus-Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Com a ETE Pacajus em operação, a VSA estuda agora a implantação de outra usina similar, que será instalada em Maracanaú, também no Ceará. Segundo o diretor da Vicunha, o investimento estimado para o empreendimento é de aproximadamente R$ 100 milhões. “A nova unidade terá a capacidade de produzir 150 mil m 3 de água de reuso por hora, suprindo toda a demanda da fábrica da Vicunha na região, que é de 100 mil m 3 /hora. Os restantes 50 mil m 3 serão comercializados para outras empresas interessadas”, salienta.
Ainda segundo o executivo, a empresa tem como meta zerar o uso de água de manancial para processos industriais em suas duas fábricas no Ceará até 2030, atendendo ao ODS 6 do Pacto Global da ONU (Água e Saneamento). “A primeira etapa foi realizada: zerar o uso de água de manancial na manufatura em Pacajus. O próximo passo será viabilizar a construção de uma segunda estação em Maracanaú. Esse projeto ainda está em fase de planejamento e busca de financiamento”, afirma.
Principais aplicações de água de reuso
● Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras, água de processamento.
● Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de
auto-estradas, campus universitários, cinturões verdes, gramados residenciais.
● Irrigação de campos para cultivos: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos,
plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais, proteção contra geadas.
● Recarga de aquíferos potáveis, controle de intrusão marinha, controle de recalques de
subsolo.
● Usos urbanos não-potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de
vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas
e pontos de ônibus etc.
● Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em
pântanos, terras alagadas, indústrias de pesca.
● Usos diversos: aquicultura, construções, controle de poeira, dessedentação de
animais.
Fonte: Cetesb
ETE Pacajus poderá tratar mais de 200 mil litros por hora
Dividida em dois sistemas, a estação de tratamento tem capacidade para tratar 110 mil litros de efluentes por hora, podendo mais do que dobrar essa capacidade numa segunda etapa e atingir 230 mil litros por hora. A estação de produção de água de reuso processa até 60 mil litros por hora, com a possibilidade de expansão para 130 mil litros por hora. Essa estação trata o esgoto doméstico das residências de Horizonte e produz água que pode ser reutilizada pelas indústrias da região em diferentes processos produtivos.
Já a estação de tratamento de efluentes industriais trata as águas residuais dos processos das indústrias da região, que depois é devolvida ao Rio Pacoti. Essa ETE tem a capacidade de tratar 50 mil litros de efluentes por hora, podendo chegar a 100 mil litros por hora.
A empresa de engenharia e meio ambiente Sanecontroller, do Ceará, foi quem desenvolveu o projeto. Já a PB Construções, com sede em Fortaleza, foi a responsável pela construção civil e montagem hidráulica das instalações, enquanto a Eaut Soluções de Energia, de Sergipe, se encarregou da montagem elétrica e da automação das plantas.
Entre os principais fornecedores dos equipamentos utilizados na ETE estão: Gardner Denver (sopradores), BF Dias (sistema de aeração), Imake (tanques), Corr Plastik (tubulações em PEAD) e MCLvale (prensa desaguadora e peneira estática).