Pode parecer presunção a tentativa de meter o bedelho em assunto que requer profundo conhecimento específico. Mas o medo, instilado pela experiência de vários países, no tratamento da energia nuclear, torna difícil ao cidadão comum ficar durante todo o tempo com a boca fechada.

É incontestável que as usinas nucleares trazem riscos. E, diferentemente de outros meios de geração de energia, eles são sumamente mais graves, embora os sistemas de segurança adotados para preveni-los possam ser proporcionalmente mais eficientes do que aqueles utilizados, digamos assim, em usinas hidrelétricas.

Está aí, na memória de estudiosos e de curiosos, a lembrança do desastre ocorrido na unidade 2 da usina nuclear de Three Mile Island, Estados Unidos, em março de 1979, e na usina de Chernobyl, na antiga União Soviética, na manhã do dia 26 de abril de 1986, ambos com traumáticas conseqüências locais. Afora isso, não há como esquecer a tragédia de Hiroshima e Nagasaki, um exemplo do que o ser humano é capaz de fazer, nos limites de sua irracionalidade.

Independentemente de ser contra ou a favor da energia nuclear, o fato é que o tsunami e o terremoto expuseram as vulnerabilidades da usina de Fukushima, no Japão, aonde o nível da gravidade de radiação chegou ao nível 5, considerando uma escala que vai até 7, o nível máximo alcançado em Chernobyl.

Diante disso, fragilizam-se os argumentas dos propagandistas da segurança das usinas nucleares. A partir do que está acontecendo no Japão, a Alemanha e outros países tratam de se aprecatar. A China e a Índia, por exemplo, se preparam para planos de ampliação de suas termelétricas nucleares.

Acreditamos que o Brasil, que vinha avançando ousadamente nessa área, depois dos projetos de Angra 1, 2 e 3, prevendo a construção de usinas nucleares até na região Norte, deve agora colocar as barbas de molho e – quem sabe? – até pensar em outras opções.

Fonte: Estadão