A distância está colocada entre os planos e os atos. Nos planos e nos desenhos, e, sobretudo nos comunicados públicos da Samarco, as tarefas parecem simples, embora signifiquem investimentos consideráveis.

Ela está executando o Projeto Terceira Pelotização aplicando, para esse fim, R$ 3 bilhões nas obras de expansão, que compreendem a construção de uma nova usina de concentração em Germano, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto, um mineroduto de 396 km de extensão, paralelo ao que se encontra em funcionamento de Minas ao Espírito Santo, com capacidade para bombear 7,6 milhões de t de polpa de minério/ano, e as obras da terceira usina de pelotização em Ubu, em território capixaba.

A empresa, cujo controle acionário é dividido entre a Companhia Vale do Rio Doce e a BHP Billiton (50% cada uma), investe R$ 1,2 bilhão em Minas e R$ 1,8 bilhão no Espírito Santo. Por trás dos números e da garantia de que, com as obras, ela registrará faturamento anual da ordem de US$ 1,5 bilhão a partir de 2009, há um dado concreto: nada é simples nos canteiros onde os trabalhos de engenharia se desenvolvem.

A compensação está no fato de que as construtoras responsáveis pelos serviços têm amplo histórico de experiência em obras industriais – que em Minas têm sido contínuas – e vêm, até aqui, mantendo sob absoluto controle os riscos inerentes a trabalhos realizados em condições geológicas, geográficas e climaticamente adversas.

O engenheiro Sérgio Lúcio dos Santos, da Logos Engenharia, empresa que responde pelo gerenciamento de projetos e obras em Germano e Ubu, descreve sumariamente o processo objeto das obras da Terceira Pelotização. Diz ele que a Samarco possui, na região de Mariana e Ouro Preto, o Complexo Alegria, formado por nove minas e explora atualmente as minas de 1 a 6 e a 9. As 7 e 8 são mantidas como reservas futuras.

O minério de ferro, proveniente dessas minas, chega à usina de concentração, em Germano, por correias transportadoras. Nessa planta ele é transformado em polpa – uma mistura de minério em pó com água – e bombeado, pelo mineroduto, até Ubu, no Espírito Santo.

O segundo mineroduto está sendo executado na mesma faixa de domínio da tubulação em funcionamento. Em Ubu, a unidade de pelotização transforma a polpa em pellets que posteriormente são embarcados em navios ancorados em porto da empresa e, dali, exportados. Adicionalmente às obras civis e as obras de montagem em Germano e Ubu, a Samarco está repontencializando em cerca de 50% o carregador de navios, a fim de agilizar as operações de embarque e de atendimento às exportações.

A expectativa é de que as obras civis e as de montagem possam ser concluídas respectivamente até junho e setembro próximos, a fim de que os testes de carga sejam processados até novembro. Em Germano as obras civis são dificultadas pela topografia – a região é muito acidentada – e pelas características geológicas.

Ali há a ocorrência do filito, um material que até pode proporcionar boa capacidade de suporte, desde que a escavação seja feita adequadamente. Por conta desse material, e dependendo do processo de escavação, podem acontecer escorregamentos, situação que se agrava no período chuvoso que, a rigor, impede o curso normal dos trabalhos no período de novembro a março.

Contudo, segundo Sérgio Lúcio dos Santos, a engenharia desenvolvida no Brasil, na área da mineração, tem permitido às empresas enfrentarem estas e outras condições adversas. Outra dificuldade, além daquelas impostas pela natureza, tem sido a falta de mão-de-obra. Embora a região, compreendendo Belo Horizonte, Lafaiete, Congonhas, Ponta Nova, Itabira etc., disponha de mão-de-obra preparada e qualificada para o tipo de atividades realizadas em Germano, o fato é que está havendo maciço investimento em mineração e siderurgia no País (os projetos estão em andamento simultâneo), de modo especial em Minas Gerais.

Assim, como todas as plantas se encontram “aquecidas”, a mão-de-obra, conquanto abundante, começa a faltar. As obras em Germano A Mascarenhas Barbosa Roscoe, que inicialmente começou, em consórcio com a Sempre Viva, as obras em Germano, hoje vem desenvolvendo, sozinha, a terraplenagem, as grandes estruturas pesadas, a drenagem e a pavimentação. Luiz Fernando Pires, presidente da empresa, diz que o contrato prevê o emprego de 43 mil m³ de concreto e a movimentação de um volume de terra da ordem de 1,5 milhão de m³.

Embora muito experiente em serviços desse tipo, basta dizer que o primeiro contrato da Mascarenhas com a Samarco começou em 1975, a empresa vê essas obras atuais como absolutamente desafiadoras, até porque “cada obra é uma obra, com sua peculiaridade específica”. Ali estão sendo construídos os prédios do peneiramento, britagem, moagem, flotação em colunas, flotação convencional, túnel da retomada de minério, empilhamento, espessador de rejeito, espessador de lama, espessador de concentrado, estação de bombeamento do minério, reservatório de água nova, reservatório de água tratada, salas elétricas, fundação de pipe-racks e cable-racks, prédio dos reagentes, bacias de contenção, transportadores de correia e casas de transferência.

Como cada estrutura é diferente uma da outra, há a produção simultânea de fôrmas e armações em dimensões diversas para a concretagem. No canteiro a impressão é de que os trabalhos poderiam se desenvolver até de modo mais fácil, caso a área fosse mais ampla e menos montanhosa. Como isso não acontece, as obras, conforme o projeto, são construídas próximas umas das outras, o que gera obstáculos até do ponto de vista de espaço para a movimentação de equipamentos pesados. Além disso, como o programa de segurança da Samarco rigoroso, cada operação tem de ser desenvolvida segundo todos os requisitos de controle de riscos.

E tal controle é ainda mais apertado levando-se em conta a época das chuvas, a simultaneidade das obras civis e de montagem, e os cuidados a fim de que as interfaces de uma obra não interfira nas demais.

Em razão da exigüidade do espaço e da topografia, se acaso atola um guindaste, imediatamente é deflagrada uma operação para eliminar essa dificuldade, para que tal fato não acabe se refletindo no andamento das demais frentes de serviços.

Os números desse conjunto de obras a cargo da Mascarenhas Barbosa Roscoe é muito expressivo. São 5.500 t de aço; 100.000 m² de fôrmas; 43.000 m³ de concreto estrutural Mpa; 1.500.000 m³ de terraplenagem e movimento de terra; 150 t de inserts metálicos; 65.000 m³ de cimbramento metálico e 130.000 m² de pavimentação asfáltica, conforme relaciona o engenheiro Rogério Bueno Galvão, da Mascarenhas Barbosa Roscoe.

Uma das etapas tecnicamente mais interessantes dessas obras foi a da concretagem do bloco B4, executada em duas camadas com volumes aproximadamente iguais. Para tal, a armadura superior de combate à retração foi deslocada de forma a ficar 5 cm abaixo da cota de paralisação da concretagem da primeira camada.

O concreto foi fornecido por central instalada no canteiro, com capacidade de produção nomimal de 60m³/h. Só para a primeira etapa foi previsto um volume da ordem de 435³ de concreto. A ocorrência de filito, material que facilita escorregamentos na fase de terraplenagem e execução de fundações, é uma característica da geologia da região de Mariana.

Há algum tempo o geólogo Frederico Garcia Sobreira realizou o estudo “Susceptibilidade a processos geológicos e suas conseqüências na área urbana de Mariana-MG”.

Assinala o estudo que a grande complexidade geológica da região, a morfologia de seus terrenos e o clima chuvoso no verão, predispõem o meio físico à ocorrência de movimentos de massa a inundações. E segue o trabalho: “O comportamento dos terrenos, em relação à sua estabilidade e resistência, é altamente condicionado pelos tipos litológicos e coberturas existentes. As unidades geológicas mais problemáticas, do ponto de vista geotécnico, são os filitos escuros.

Estes materiais são poucos resistentes à erosão e seu comportamento profundamente condicionado pela posição da foliação em relação à vertente”.

A constatação dessa ocorrência tem levado à adoção de cuidados especiais na fase de terraplenagem para a execução das estruturas pesadas da planta da Samarco em Germano.

O mineroduto A Techint Brasil, que nos anos 70 executou, para a Samarco, o primeiro mineroduto entre as cidades de Mariana e Anchieta, no litoral do Espírito Santo, responde hoje pela duplicação da linha existente, que compreende 396 km de dutos de 16”.

A obra, em seu traçado, passa por 25 municípios. Em razão disso, segundo Gilson Arantes, superintendente do Projeto, a montadora, em coordenação com a Samarco, desenvolve programas de esclarecimentos junto às comunidades locais.

Além disso, realiza outros projetos voltados para a melhoria de infra-estutura daqueles municípios situados no raio de influência do mineroduto. No traçado, que inclui duas travessias sob os rios Novos e Itapemirim, há ocorrência de rochas o que impõe a necessidade do uso de explosivos para eliminar os obstáculos e permitir a continuidade dos trabalhos.

No geral, segundo a empresa, são mobilizados cerca de 570 equipamentos de pequeno e grande porte ao longo do percurso, nas diversas frentes de serviços. Até meados de janeiro chegavam aos canteiros mais 70 equipamentos, procedentes da Argentina, Equador e Estados Unidos, para complementar a frota em operação. Na soldagem dos dutos, ela tem utilizado os mais avançados processos recomendados para obras desse tipo, incluindo o ultrasom.

Depois de procedido o fechamento da tubulação o ultrasom é aplicado interna e externamente para a detecção de possíveis falhas na soldagem para imediata reparação, a fim de que ela entre em funcionamento com segurança plena. Até janeiro último 50% do projeto do mineroduto já estavam concluídos.

Na outra ponta do processo Fechando a ponta o processo, desenvolvem-se, no litoral do Espírito Santo, as obras do forno de pelotização, a cargo da Outokumpu, que subcontratou a Construtora Liderança, responsável pelas obras civis. Estas incluem as fundações e as estruturas.

As obras civis do forno da Terceira Pelotização, conforme o contrato entre a Liderança e a Outokumpu, são as estruturas de concreto armado das fundações do forno, do prédio, sete ventiladores, quatro “precipitadores”, três chaminés, uma torre de resfriamento, bases para suportes de dutos, peneiramento e pipe-rack.

O conjunto compreende os seguintes quantitativos: 30.000 m³ de escavação; 12.000 m³ de concreto; 16.000 m² de fôrma; 817.000 kg de aço; 40.000 kg de chumbadores e inserts metálicos e 23.000 m³ de reaterro. Fernando Rocha Guimarães, superintendente da Liderança, informa que a obra absorve predominantemente fôrma, aço e concreto.

A fôrma, a seu ver, representa o item mais relevante na determinação da produtividade dos serviços e, conseqüentemente, do cronograma. Para tornar essa atividade produtiva, a construtora optou pelo uso de fôrmas pré-montadas metálicas, escoramentos, cimbramentos e andaimes em estrutura metálica.

A opção permitiu a obtenção dos índices de produtividade necessários ao atendimento das metas e contribuiu para eliminar o desperdício de maneira, o que pode ser comum na maior parte de obras do gênero. Alcançou-se também, como bom resultado, um canteiro mais seguro, organizado e limpo.

Técnicos das empresas fornecedoras dos equipamentos, para essas atividades, treinaram as equipes montadas para esse trabalho. E profissionais da construtora desenvolveram os gabaritos metálicos para assentamento dos chumbadores, o que, segundo Fernando Rocha, ajudou na agilidade e qualidade dos serviços.

Diferente do que ocorreu em Germano, não houve, em Ubu, problemas inerentes às condições naturais no local. O problema maior foi a mão-de-obra. Segundo o superintendente da Liderança, o Estado do Espírito Santo passa hoje por uma fase de desenvolvimento, em razão da implantação de grandes empreendimentos.

Isso tem escasseado a mão-de-obra especializada nesse tipo de atividade. Como, desde o início das obras, havia o compromisso da construtora de utilizar, prioritariamente, os recursos humanos locais, a urgência maior foi, portanto, capacitar trabalhadores em curto espaço de tempo, com aquele fim, tendo em vista atuarem dentro de uma área industrial de acordo com os rigorosos critérios de segurança adotados pela empresa, em sintonia com a Samarco e a Outokumpu.

Fernando Rocha diz que os serviços contratados encontram-se no cronograma e que a execução das obras civis do forno da Terceira Pelotização “reforça e consolida nossa atuação na área de mineração, na qual, hoje, contamos com outros clientes como a Companhia Vale do Rio Doce, Minerações Brasileiras Reunidas e AngloGold Ashhanti” Fôrmas curvas e armaduras raiadas A Paranasa Engenharia está em dia com o cronograma das obras de sua responsabilidade que englobam, entre outras, as fundações e estruturas de concreto das áreas de recebimento de polpa, filtragem, pelotamento, espessadores, roller press, área de mistura, moagem de carvão, transportadores de correia, torres de transferência, serviços auxiliares, envelopes elétricos e sistema de combate a incêndio. Dentre essas obras, conforme salienta o engenheiro Gustavo Baião, da área de planejamento da Paranasa, há duas que se destacam: as obras do clarificador e do espessador. “Tanto em uma quanto em outra tem sido necessário executar serviços em altura, com o uso de fôrmas curvas e armações raiadas.

Mas a nossa maior dificuldade” – detalha ele, “é em relação ao cimbramento, pois uma vez que se trata de duas obras que requerem uma grande quantidade deste material – e hoje no Brasil há um grande aquecimento da construção civil que o absorve – não o encontramos com facilidade. Por conta disso, temos de contratar duas ou três empresas para atender a uma única frente de serviço”. Para construir os prédios, a Paranasa vem utilizando duas técnicas: o steel deck na execução das lajes e fôrma deslizante na execução das paredes de concreto armado.

Com esses dois métodos executivos, ela tem obtido maior velocidade no andamento dos serviços, conseguindo “ótima qualidade em prazo menor”. O steel deck, segundo Gustavo Baião, está sendo usado ali por vários motivos. Exemplo: é uma fôrma para laje que requer cimbramento/escoramento, não precisa ser removida depois da concretagem e diminui a quantidade de aço necessário na estrutura de concreto, uma vez que ela já tem função estrutural.

Outros dados do steel deck: funciona como plataforma de serviço e proteção aos operários que trabalham nos andares inferiores; sua montagem pode ser realizada independentemente das condições atmosféricos e facilita canalizações para a passagem de fios elétricos e tirantes de sustentação. Recomposição da paisagem Obras de e para mineração inevitavelmente produzem feridas na natureza, que são de difícil cicatrização.

Em razão disso, no entorno da nova usina de concentração, em Germano, nas proximidades do rio Piracicaba, o terreno foi revegetado, depois de sacrificado pelas intervenções. O plantio de gramíneas sobre os taludes de aterro vai manter a estabilidade do solo e conter o carreamento de sedimentos em direção ao rio. A grama ocupou cerca de um hectare. Adicionalmente foi executado um sistema de drenagem para escoamento direcionado das águas pluviais.
Fonte: Estadão