Francis Bogossian*
Precipitações extraordinárias acontecem constantemente em países tropicais, mas, quando há escoamento adequado, as águas baixam rapidamente. Não é isso que acontece aqui. Os serviços de drenagem das ruas e dragagem dos rios na cidade do Rio de Janeiro estão aquém das nossas reais necessidades, todos sabemos.
Com o atual sistema de coleta de lixo não há como evitar o entupimento dos bueiros. Os sacos de lixo colocados nas ruas à espera da coleta são arrastados para os bueiros no momento da chuva. Mesmo com serviço constante de limpeza não há como evitar que entupam.
O que chama a atenção, no entanto, nas imagens aéreas, é a imensa quantidade de lixo que boia nas águas dos rios e nas ruas alagadas. Os rios são as latas de lixo, onde se joga tudo. Sofás, pneus, garrafas, sacos de lixo, etc. têm como destino os rios. Não se pode tirar a responsabilidade do poder público, mas é necessário também exigir do cidadão que cuide do meio ambiente, caso contrário é um trabalho de enxugar gelo. A campanha Lixo Zero que começou no Rio é um primeiro passo e já mostrou resultado. Como fazer algo para conter o descarte de lixo nos rios é um desafio para qualquer administrador público que precisa ser enfrentado. “Roma não foi feita em um dia” e os efeitos negativos das chuvas de verão não cessam com um estalar de dedos.
As chuvas este ano chegaram mais cedo. Mas hoje a cidade do Rio de Janeiro já conta com o Sistema Alerta-Rio, que tem mapeadas diversas áreas de risco e dispõe de rede de pluviômetros capazes de prever condições de alerta. Pode-se, assim, providenciar a evacuação de áreas antes que as enxurradas façam seus periódicos estragos. Foram anos de trabalho e planejamento que estão dando resultado.
O poder público tem tentado conter a enorme velocidade de crescimento da ocupação desordenada das várias encostas cariocas e novas áreas de risco surgem nas comunidades de baixa renda instaladas nos morros. O reassentamento de famílias em áreas de risco está se realizando na cidade. Mas as ações judiciais são lentas, a fiscalização é deficiente e as encostas continuam vítimas de desmatamentos criminosos que lhes retiram a proteção natural.
*Presidente do Clube de Engenharia e presidente do Conselho Consultivo da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ).
Fonte: Revista O Empreiteiro
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